O fim do ano se aproxima, e com ele chega o forte calor no Brasil, com termômetros registrando temperaturas próximas aos 40 °C ao longo dos dias de verão. No Hemisfério Norte, porém, é o momento de tirar os casacos mais pesados dos armários e tentar de todas as formas se aquecer diante do frio do inverno.
Em uma realidade distante da brasileira, é comum entre os europeus utilizar gás e eletricidade como fonte de calor para as residências. Sem esses recursos, é difícil suportar os três meses de temperaturas negativas.
A Ucrânia, por sua vez, tem um inverno gelado. Entre dezembro e fevereiro, o país tem uma média de −3 °C, sendo vital para a população o uso de aquecedores. O problema para os ucranianos é que tanto gás como eletricidade não são mais itens de fácil acesso.
A então ministra da Energia da Ucrânia, Svetlana Grinchuk, descreveu os
apagões massivos de várias horas no país como uma situação
"muito complicada". Já o vice-diretor do Instituto Nacional de Energia da Rússia, Aleksandr Frolov, afirmou que Kiev paga pelo gás europeu mais que o dobro do que pagava pelo russo (se considerada a desvalorização da moeda ucraniana, o
gasto é dez vezes maior).Em entrevista à Sputnik Brasil, James Onnig, analista internacional e professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais das Faculdades de Campinas (Facamp), explicou que o frio não pode ser usado como pretexto para justificar uma iminente vitória russa na operação militar especial na Ucrânia.
Segundo Onnig, esse argumento não é novo e foi utilizado na Segunda Guerra Mundial para deslegitimar a vitória do Exército Vermelho sobre a Alemanha nazista.
Assim como o frio não pode ser usado como desculpa para o fracasso militar, ele não pode virar justificativa para problemas de aquecimento. A Ucrânia vive um dos maiores escândalos de corrupção de sua história, com o surgimento de investigações na indústria de energia do país envolvendo
nomes próximos a Zelensky, como o empresário Timur Mindich — conhecido como a
"carteira de Zelensky".
De acordo com o relatório do
Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU, na sigla em ucraniano), Mindich teria se aproveitado do estado de guerra e da proximidade com Zelensky e outros altos funcionários para
enriquecimento ilícito por meio da organização de crimes em diferentes áreas da economia.
Sacos de dinheiro foram encontrados durante a execução de mandados de busca e apreensão, cheios de moeda estrangeira. Segundo a mídia internacional, o dinheiro é fruto de esquemas de desvio de fundos no setor energético na Ucrânia, que foram legalizados através do escritório da liderança ucraniana em Kiev.
Ademais, para o especialista, é curioso que os aliados da Ucrânia, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não estejam enviando itens como combustível para abastecer os estoques do país. "Mas por que os aliados também não enviam energia, fazem um mutirão, algo gigante, para abastecer a Ucrânia?", questiona.
A pressão internacional para que
Vladimir Zelensky aceite um acordo de paz com a Rússia aumenta a cada dia, com o plano de 28 pontos elaborado pelos Estados Unidos. O frio, para Onnig, pode acelerar esse processo de mudança política em Kiev, diante do clamor popular por aquecimento.
Para Onnig, se Kiev não abrir mão do conflito e priorizar a população, será preciso fazer malabarismos para manter a indústria bélica ativa em meio à necessidade de aquecer os ucranianos.