"A gente não está no estado de exercer tal grau de conflito [como a China]. Não há interesse do governo nacional, mesmo um de esquerda, como o do Lula. Não há interesse da burguesia nacional, porque as pessoas têm muito medo de chegar no mesmo cenário, perder acesso a essas ferramentas e ter que construir as próprias."
"A questão que eu acho complicada é: se você não rompe, você concorre com uma perna a menos, com uma desvantagem muito significativa, porque as ferramentas de lá já estão estabelecidas, são grandes marcas, têm bilhões, são ferramentas mais sólidas de utilização. Então o único método que se conheceu até hoje de construção das big techs próprias, da infraestrutura própria, dessa parte final da infraestrutura, […] envolve a ruptura, e o Brasil não quer romper."
"Esse volume de dados é muito importante quando você quer controlar uma cadeia produtiva e, consequentemente, geoeconômica […], com impactos geopolíticos muito grandes. Essa é a chave de entendimento que eu acho relevante para a gente entender a ideia de soberania digital."
"Há uma diferença muito pequena, há uma fronteira muito tênue, entre espionagem industrial, ou seja, espionagem entre duas empresas, e espionagem estatal, internacional, ou seja, entre dois Estados. […] Muita gente saiu do mercado da Google e foi parar na Agência de Segurança Nacional [NSA, na sigla em inglês]; muita gente sai da NSA e vai parar na Google, ou Apple, ou Microsoft, e agora OpenAI, Palantir, e por aí vai."
Pix é exemplo da capacidade brasileira
"O fato de a gente não gastar mais um percentual pequeno para outros meios de pagamento e ser todo um sistema intrabanco e bancado pelo Banco Central, com um custo de manutenção ridículo, na casa de poucas dezenas de milhões de reais por ano, que não custa nada e que movimenta a economia brasileira, é um exemplo muito vitorioso de infraestrutura digital."
"Se você começa a exportar [o Pix] e aplicar em outros países com white label — ou seja, a tecnologia Pix sem dizer que é Pix, sem dizer que é do Brasil, mas é a mesma tecnologia, a mesma forma de funcionar —, você consegue substituir o sistema SWIFT. […] E isso é um dano ao império, porque o sistema SWIFT e o sistema dólar são as gêneses da parte geoeconômica do império americano."