'O que a gente pode ter certeza desse encontro de hoje é que Putin não vai recuar', diz analista

Após a sexta reunião entre Putin e Witkoff, que ocorreu em Moscou, capital russa, o assistente de Putin, Yuri Ushakov, comentou que as conversas foram "muito produtivas".

Além de Witkoff, o genro do presidente dos EUA, Donald Tramp, Jared Kushner, fundador da empresa de investimentos Affinity Partners, participou do encontro.

Do lado russo, participou da conversa, além de Putin e Ushakov, o enviado especial Kirill Dmitriev, diretor-geral do Fundo Russo de Investimentos Diretos.

Apesar do clima agradável, Putin disse à delegação americana que a Rússia poderia concordar com algumas partes do plano dos EUA, mas que outras partes geraram críticas, declarou Ushakov. Ele afirmou que as partes declararam estarem prontas para continuar trabalhando juntas para alcançar um acordo sobre a Ucrânia.

"Ainda há muito trabalho a ser feito", disse Ushakov sobre os resultados das negociações.

Embora o aguardado fim do conflito na Ucrânia tenha sido a pauta principal, outros assuntos de interesses mútuos entre Rússia e EUA também podem ter dominado a longa conversa, de acordo com o especialista em Rússia Guilherme Conceição. Para ele, o fato de os principais protagonistas do diálogo com Putin serem empresários diz muito sobre o teor das negociações:

"Steve Witkoff é um empresário conhecido do setor imobiliário e até o início desse ano não era o enviado responsável para tratar da questão ucraniana junto a Moscou [...] mesmo o Jared Kushner, que além de ser genro do presidente Trump, é também uma figura conhecida do setor imobiliário, do setor de construção, principalmente nos estados de Washington e Nova Jersey [EUA]. Então, a gente tem uma sinalização muito clara, a partir desses dois atores enviados para negociar com o Putin, do interesse privado de Trump na resolução dessa escaramuça e dos conflitos internacionais de maneira mais ampla", comentou ele.

Doutorando em relações internacionais pelo Instituto San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) e pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), Conceição comentou que a pauta econômica deve ter norteado ainda as negociações do acordo de paz na Ucrânia, uma vez que as questões territoriais envolvendo o conflito impactam a economia russa e a estadunidense.

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1 de dezembro, 07:11

Para além de você manter a Ucrânia neutra, longe da esfera de influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), do ponto de vista geoestratégico, o analista sinalizou que a Rússia pode afastar a influência do Ocidente, por meio da Ucrânia, da costa do mar de Azov.

"Isso porque, no momento em que a Rússia consegue fazer isso, ela automaticamente consegue estabelecer um corredor terrestre que liga o restante do território russo à península da Crimeia, diminuindo substancialmente a dependência e a vulnerabilidade da Rússia em se conectar com a península por meio do estreito de Kerch, algo que, enfim, é feito desde 2014", ponderou ele.

Esse afastamento possibilitaria à Rússia, afirmou ele, movimentar embarcações menores, navios de patrulha, fragatas, corvetas, pelo mar Cáspio até o mar de Azov e, a partir dali, do estreito de Kerch, automaticamente ao mar Negro, avaliou.

'Putin não vai recuar'

O analista ponderou que a Rússia já fez concessões em outros campos durante o conflito e que Putin não demonstra nenhuma intenção de ceder e abdicar dos propósitos que impulsionaram a operação militar especial russa, no início do conflito, em 2022:

"O que a gente pode ter certeza desse encontro de hoje é que Putin não vai recuar. [...] a Rússia se encontra num momento da guerra em que ela está nutrindo, que ela está sendo favorecida por uma boa posição no campo de batalha".

Já para a Europa, com o fim do conflito e vitória russa, a situação seria constrangedora:

"Claro que para a Europa, do ponto de vista não só agora econômico, mas principalmente político, é algo ainda mais sensível, é algo ainda mais delicado, porque a gente estaria falando aqui, efetivamente, de uma derrota vexaminosa para todo o bloco europeu".

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