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'Melhor momento político': Milei amplia influência no Congresso argentino e relega oposição peronista

O governo argentino destituiu a oposição como a maior minoria na Câmara dos Deputados, deixando para trás um longo período marcado por fracassos parlamentares. "Além do aumento no número de cadeiras, vemos que cada vez mais deputados estão se alinhando ao partido governista", disse um especialista à Sputnik.
Sputnik
O presidente da Argentina, Javier Milei, continua a expandir influência no Congresso. O partido governista, La Libertad Avanza, cooptou parlamentares aliados e consolidou posição como a maior minoria na Câmara Baixa, às vésperas de debates sobre projetos de lei importantes promovidos pelo governo. Enquanto isso, a oposição peronista continua a sofrer uma sangria de parlamentares, em meio à crescente pressão de governadores provinciais para estreitar laços com a Casa Rosada.
O crescimento parlamentar do governo não terminou com a vitória nas eleições legislativas: poucos dias antes da renovação oficial dos poderes parlamentares, o Executivo conseguiu atrair alguns legisladores anteriormente identificados com o partido PRO de Mauricio Macri para as fileiras libertárias.
Após a adesão do deputado Francisco Morchio, o Executivo agora detém 95 cadeiras na Câmara dos Deputados (de um total de 257). Isso desbancou a oposição peronista, unida na Fuerza Patria, como a maior força parlamentar. A oposição, que por ora mantém certo grau de hegemonia legislativa, permanece incapaz de romper o impasse aprofundado pela derrota nas eleições de meio de mandato.
O peronismo sofreu outra perda de liderança com a saída de três legisladores que representavam a província de Catamarca, no norte do país, cujo governador — nominalmente da oposição — começou a demonstrar crescente alinhamento com os interesses da Casa Rosada em troca de maiores repasses de verbas públicas para seu distrito.
Com a maior minoria, o partido governista poderá manter a presidência da Câmara e melhorar sua posição para o debate sobre três elementos-chave de sua agenda libertária: as reformas trabalhista e penal, bem como a proposta orçamentária de 2026 apresentada pelo Poder Executivo ao Congresso.
Esse evento também acelerou movimentos no restante do espectro político. Setores alinhados à chamada "oposição dialógica" — enfraquecida após a vitória de Milei nas eleições legislativas — estão trabalhando em um bloco unificado para se tornar a terceira maior força, enquanto outros partidos provinciais negociam posições em um Congresso cada vez mais fragmentado.
A novidade ganha ainda mais peso por ocorrer após um ano de significativa fragilidade legislativa para Milei. Ao longo de 2025, o Congresso conseguiu derrubar três vetos consecutivos com maiorias esmagadoras, uma situação sem precedentes desde o retorno à democracia. Esse cenário havia deixado o governo sem controle da agenda parlamentar.
Essa fragilidade se traduziu em tensões institucionais e sinais de instabilidade, com a oposição forçando interpelações e questionando ministros importantes. A perda de apoio legislativo lançou dúvidas sobre a viabilidade do programa econômico. O novo equilíbrio de poder oferece a Milei a oportunidade de reconstruir parte desse poder erodido.
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Dois lados da mesma moeda

"Todo esse ruído parlamentar é, na verdade, a consequência natural do resultado inesperado das eleições de outubro. É evidente que Milei está no auge de sua carreira política", disse o sociólogo Pablo Cano à Sputnik.

Segundo o especialista, a vitória libertária abriu caminho para uma nova lógica legislativa: "Além do aumento no número de cadeiras, vemos que cada vez mais deputados estão se alinhando ao partido governista", explicou.
Consultado pela Sputnik, o cientista político Diego Reynoso acrescentou que a atmosfera triunfalista em torno do Executivo está relacionada à oposição.
"O peronismo enfrenta dificuldades de coordenação interna, e é por isso que há movimentos que parecem demonstrar uma significativa falta de liderança."
Para o analista, o declínio da oposição tornou-se estrutural. "Hoje não há uma liderança nacional dentro do peronismo; em vez disso, é um movimento fragmentado sem uma liderança alternativa", apontou. Cano resumiu sucintamente, enfatizando que "o peronismo permanece o mesmo de antes: sem uma bússola ou uma plataforma para determinar sua liderança".
O governo explorou essa vulnerabilidade. Reynoso destacou que o partido governista "passou de 80 para 94 legisladores cooptando líderes de todos os setores. Isso demonstra uma capacidade política que, até então, lhe escapava. É claro que a vitória eleitoral teve muito a ver com essa mudança no clima político".
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Uma mudança radical?

O novo cenário abre uma margem política distinta. Reynoso acredita que hoje observa "um alto nível de coesão interna" dentro do partido governista, o que reduz o risco de novas disputas internas como as que caracterizaram o partido em seus dois primeiros anos no poder. Cano admitiu o mesmo: "O governo está mais sólido, no sentido comum da política", afirmou.
O problema reside no fato de que, mesmo constituindo a maior minoria na Câmara Baixa, as maiorias necessárias para aprovar leis ainda parecem distantes. Reynoso lembrou que "o governo precisa de pelo menos 25 votos para aprovar reformas estruturais". Cano também apontou limitações: "Politicamente falando, não vejo outra maneira de angariar votos, a não ser por meio de negociações 'cara a cara'".
Diante desse cenário, a governabilidade dependerá do quanto Milei ceder. Segundo Reynoso, questões sensíveis como a reforma trabalhista só poderão avançar se "o governo moderar um pouco mais suas exigências".
Cano resume a questão de forma direta: "O que determina a vontade política é a disposição para dialogar e fazer concessões aos líderes que se busca conquistar".
O risco, segundo Reynoso, é confundir esse progresso com hegemonia: "Se o governo insistir em posições extremistas, fracassará", afirmou. Cano apontou para a mesma fragilidade: "Não é uma situação terminal para o peronismo, nem uma vitória definitiva para o partido no poder", concluiu.
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