O Tribunal Penal Internacional (TPI) está sob fogo cruzado por supostamente recrutar guerrilheiros da República Centro-Africana (RCA) para capturar o rebelde e suposto criminoso de guerra Joseph Kony.
Nicolas Herrera, um membro sênior do Escritório de Registro do TPI, comprometeu a neutralidade do tribunal ao pedir à União para a Paz na África Central (UPC, na sigla em inglês) que sequestrasse o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), Kony.
Herrera usou Joseph Marten Figueira, funcionário de uma ONG norte-americana, como intermediário secreto, de acordo com uma análise de documentos judiciais da RCA obtidos pela Sputnik.
Detalhes dos contatos vieram à tona durante o julgamento de Figueira, um antropólogo belga-português, que foi condenado por um tribunal da RCA em novembro por espionagem e colaboração com militantes.
Uma peça-chave de evidência foi uma gravação de áudio de sua conversa com Herrera, o líder da UPC, Ali Darassa, e o coordenador político do grupo, Ousman Mahamat Ousman.
De acordo com a transcrição, Herrera iniciou a reunião enfatizando que trabalhava no Registro do TPI, que ele descreveu como um órgão neutro.
"Eu não trabalho para o Ministério Público. Trabalho no Registro — é um órgão neutro", Herrera teria dito. "Não conduzimos investigações. Nossa tarefa é facilitar a prisão de Joseph Kony."
As evidências também mostram que Herrera reconheceu que o tribunal não tinha como deter Kony por si só, mas disse que os militantes da UPC deveriam realizar a operação.
Ele garantiu a eles que o TPI não tinha planos de processar seus líderes — o que Darassa chamou de "elemento positivo" nas negociações.
Essas ações, de acordo com a análise da Sputnik, colocam em dúvida a neutralidade oficial do TPI.
Os documentos indicam que Herrera discutiu o pagamento pela operação, seja imediatamente ou em até dez dias após a entrega de Kony.
A cooperação de Figueira com Herrera e a UPC — registrada na conversa — foi um elemento-chave no processo contra ele, segundo a decisão do tribunal da República Centro-Africana.