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Neonazismo no Brasil: regulamentação das redes é essencial para 'proteger as pessoas', diz analista

À Sputnik Brasil, analistas apontam que a ideologia nazista é anterior à Internet, mas foi potencializada on-line, tendo em fóruns os principais mecanismos de recrutamento e divulgação.
Sputnik
O Brasil nunca viveu um regime fascista ou nazista como o da Europa, mas movimentos extremistas, tendo o fascismo italiano e o nazismo alemão como exemplos, já tiveram presença marcante no país.
Após a Segunda Guerra Mundial, surgiram grupos neonazistas, inspirados por ideologias estrangeiras e ativos especialmente nas décadas de 1980 e 1990. Hoje, esses grupos se espalham pelas redes sociais e crescem no país, segundo pesquisadores, e chegaram a ser alvo de alerta da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em entrevista à Sputnik Brasil, Vinicius Bivar, professor de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), doutor em história contemporânea pela Universidade Livre de Berlim e membro do Observatório da Extrema Direita (OED), afirma que a ideologia nazista no Brasil começa em 1928, mas passa por uma crise durante a Segunda Guerra Mundial, quando a derrota da Alemanha descredibiliza o movimento, ressurgindo na década de 1980, importado pela "cultura bonehead".
"Bonehead são os grupos de skinheads supremacistas brancos. A gente usa essa designação para diferenciar esses grupos dos skinheads tradicionais, que não são grupos de extrema direita", explica.
Ele afirma que no Brasil, sobretudo nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde são mais presentes, as células nazistas elegeram como inimigos "populações da região Norte e Nordeste", sobretudo populações não brancas, relacionadas a esse fluxo migratório de indivíduos do Nordeste, por exemplo, em relação a São Paulo.
"Essa dimensão regional é uma particularidade brasileira, mas em larga medida a ideia do supremacismo, a ideia da hierarquização de raças, do branco como raça superior, ela é em larga medida uma importação dessas ideologias que surgem na Europa [...], e que vão ser ressignificadas aqui e adaptadas ao nosso contexto, mas guardando essa essência, que é a da raça branca superior, que tem como missão e direito subjugar as raças inferiores não brancas."
A opinião é compartilhada por Alexandre de Almeida, historiador e antropólogo, membro do Observatório da Extrema Direita (OED) e autor do livro "Os mitos políticos do Poder Branco Paulista (1988-1992)". Ele afirma que militantes nazistas e fascistas que chegaram ao Brasil nos anos 1980 foram acolhidos por simpatizantes e por uma parcela da comunidade alemã que chegou ao Brasil no pós-Segunda Guerra e se identificava com o nazismo.
Almeida explica que, quando a ideologia nazista chega ao Brasil, passa por uma adaptação, elegendo como inimigo nordestinos e negros.
"Eles não tiraram da cartola. Eles colocaram de uma forma mais radicalizada aqui o que eles aprenderam com seus pais, que aprenderam com as instituições. E aí a ideia de que o verdadeiro paulista é o descendente europeu."

Como as células neonazistas operam no Brasil?

Bivar aponta que as células neonazistas operam de forma diversa no Brasil, indo desde grupos extremamente estruturados, que se organizam a partir de uma hierarquia inspirada na hierarquia militar, até grupos descentralizados, que se organizam a partir de fóruns, mas sem uma liderança clara.

"Mais recentemente a gente teve a apropriação dos esportes de combate por parte de alguns grupos supremacistas no Brasil. Brasil é exemplo do que já vinha ocorrendo na Europa, então o kickboxing, o MMA têm sido utilizados como espaços de difusão e recrutamento de simpatizantes do neonazismo", observa.

Ele acrescenta que a presença de grupos da ideologia na Internet também é bastante diversa, com "fóruns dedicados exclusivamente para promoção, divulgação e recrutamento".
"Esse é o mecanismo mais comum, então a gente não vê tanto a presença de organizações neonazistas nas redes sociais, sobretudo quando a gente olha aquelas redes sociais mais tradicionais", aponta.
Almeida, por sua vez, destaca que, embora a ideologia nazista seja anterior à Internet, a rede potencializa o alcance, o que traz o debate da regulamentação, que ele diz considerar uma necessidade.

"Uma necessidade de proteger as pessoas não só desse tipo de informação, mas outras, como pedofilia, uma série de outros crimes praticados nas redes e que, muitas vezes, as plataformas não se importam em fazer um controle mais rigoroso. E aí você tem jovens cada vez mais acessando esses materiais, consumindo esses materiais", afirma.

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