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De assentamentos ilegais à guerra na Faixa de Gaza: a expansão à força do projeto da Grande Israel
De assentamentos ilegais à guerra na Faixa de Gaza: a expansão à força do projeto da Grande Israel
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Guerra na Faixa de Gaza, novas incursões militares no Líbano e na Síria e o avanço de assentamentos considerados ilegais pelo direito internacional recolocaram... 19.11.2025, Sputnik Brasil
2025-11-19T16:53-0300
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A expressão remete a uma leitura bíblica segundo a qual a "terra prometida" aos judeus se estenderia do rio Nilo, no Egito, ao rio Eufrates, no atual Iraque. Na prática, virou bandeira de setores que defendem a expansão permanente das fronteiras israelenses, a anexação de territórios palestinos e o enfraquecimento definitivo da perspectiva de criação de um Estado palestino viável.Para entender de onde vem a ideia da Grande Israel, é preciso voltar ao fim do século XIX e à figura de Theodor Herzl, considerado o pai do sionismo político, conforme explica ao podcast Mundioka o historiador Mansur Peixoto, fundador do canal História Islâmica. Em seus escritos, Herzl e outros intelectuais sionistas discutiam a formação de um Estado judeu em uma faixa de território muito maior do que as fronteiras atuais de Israel, ancorados em referências bíblicas que falam da terra entre o Nilo e o Eufrates.Conforme o especialista, essa visão combina leitura religiosa e uma "pseudo-arqueologia sagrada" que tenta reconstituir a narrativa bíblica em termos de fronteiras concretas. "Na mente de Theodor Herzl e dos seus sequazes, e na mente dos planejadores do futuro do sionismo, a ideia da Grande Israel é um fato que precisa ser estabelecido", diz.Na prática, Mansur vê um fio de continuidade entre os escritos de Herzl, o sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky e lideranças atuais do movimento de colonos. "Você vai ter esse plano da Grande Israel desde o pai do sionismo, com Theodor Herzl, até as palavras de Daniela Weiss [ex-prefeita de Kedumim e uma das maiores defensoras dos assentamentos ilegais], em qualquer vídeo que você encontrar nas redes sociais dela, e de outros líderes do movimento dos colonos".Para Mansur, o projeto da Grande Israel não é apenas retórica religiosa e se materializa em políticas concretas de expansão territorial e normalização de assentamentos em áreas ocupadas sob o atual governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Desde 2018, Israel tem como valor nacional a ideia dos seus assentamentos ilegais. Veja só, algo que é considerado ilegal pelo direito internacional é um valor nacional dentro do Estado de Israel", pontua, ao acrescentar que vê Israel como um Estado colonialista.O especialista argumenta ainda que o sionismo se molda a diferentes expectativas políticas e religiosas, o que ajuda a explicar a amplitude de seu apoio global. "Para um cristão sionista, o sionismo atende a uma ideia perfeita de milenarismo messiânico. Para um judeu sionista, ele atende a uma ideia perfeita de autoafirmação de poder após uma história recente, trágica, como foi a do Holocausto. Para um sionista progressista, o sionismo possui a ideia da imposição de uma realidade progressista dentro de um ermo selvagem de bárbaros", exemplifica.Flotilha humanitária e a experiência do 'Estado corsário'No fim de agosto, Mansur deixou o Brasil para participar da flotilha Global Sumud, iniciativa de 500 ativistas, de mais de 40 países, que tentou furar o bloqueio a Gaza criando um corredor humanitário pelo mar. "Passamos 30 dias no mar, sofremos bombardeios, ataques militares […]. Fomos sequestrados, todos os nossos barcos foram roubados, os nossos pertences pessoais foram roubados, a ajuda humanitária foi roubada, roubada em águas internacionais", revela.Segundo o historiador, os barcos foram levados à força para um território controlado por Israel e os ativistas foram encaminhados ao centro de detenção de Kitzi'ot, no deserto de Negev. Para Mansur, Israel é uma espécie de "Estado corsário", que agiu em águas internacionais sob a tutela de grandes potências ocidentais, como os Estados Unidos.Mansur também descreve o tratamento que os ativistas receberam nos centros de triagem. "Uma das coisas que os guardas sempre perguntavam era se eu era árabe […]. Meu tratamento ali seria absolutamente diferente se eu fosse", conta.Grande Israel: projeto ideológico minoritárioJá a assessora acadêmica do Instituto Brasil Israel (IBI) e professora de relações internacionais do Ibmec Karina Calandrin pontua ao podcast Mundioka que o projeto da Grande Israel de fato existe, mas não pode ser tomado como sinônimo de todo o sionismo nem de toda a sociedade israelense.Segundo a especialista, a proposta que voltou ao centro do debate nos últimos anos é baseada em uma interpretação específica da terra bíblica: "Acreditam que, para Israel se realizar enquanto um Estado judaico pleno, não é apenas qualquer território que conta. Teria que ser toda a terra de Israel bíblica".Porém Calandrin e o instituto se colocam na direção oposta: são favoráveis à solução de dois Estados, um palestino e outro judeu, seguindo as linhas definidas em 1967 pela Organização das Nações Unidas (ONU). "Então reconhecendo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como territórios palestinos, contra os assentamentos israelenses em ambos os territórios, e criticando sempre a expansão desses assentamentos como política de governos israelenses."Além disso, a professora, que se considera uma sionista de esquerda, rejeita de forma contundente a comparação entre sionismo e nazismo. "Comparar o sionismo ao nazismo é uma forma de invalidar o movimento nacional judaico, invalidar a busca pela autodeterminação judaica, e eu não vejo isso como válido."Em meio à escalada da violência e à repercussão global da guerra em Gaza, cresce também a tensão em torno de acusações de antissemitismo dirigidas a críticos do governo israelense. Karina alerta sobre o risco de banalização do termo. "Isso é uma instrumentalização do antissemitismo, que é algo muito sério. E não deveria ser utilizado dessa forma, banalizando o que é o antissemitismo", afirma.Para ela, é essencial separar a crítica política do ódio aos judeus. "Uma crítica ao governo Netanyahu, dizer que a guerra que Netanyahu realiza não é uma guerra justa, não é uma guerra proporcional, que o governo de Israel passou dos limites, isso não é antissemitismo […]. Agora, se você faz uma crítica no sentido de que os judeus não podem ter um Estado, que os judeus não têm direito à autodeterminação, isso sim pode ser entendido como antissemitismo", finaliza.
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De assentamentos ilegais à guerra na Faixa de Gaza: a expansão à força do projeto da Grande Israel
16:53 19.11.2025 (atualizado: 13:25 27.11.2025) Especiais
Guerra na Faixa de Gaza, novas incursões militares no Líbano e na Síria e o avanço de assentamentos considerados ilegais pelo direito internacional recolocaram no centro do debate uma ideia antiga, mas reativada por parte da direita israelense: o projeto da "Grande Israel".
A expressão remete a uma leitura bíblica segundo a qual a "terra prometida" aos judeus se estenderia do rio Nilo, no Egito, ao rio Eufrates, no atual Iraque. Na prática, virou bandeira de setores que defendem a
expansão permanente das fronteiras israelenses, a anexação de territórios palestinos e o enfraquecimento definitivo da perspectiva de criação de um Estado palestino viável.
Para entender de onde vem a ideia da Grande Israel, é preciso voltar ao fim do século XIX e à figura de
Theodor Herzl, considerado o pai do sionismo político, conforme explica ao podcast
Mundioka o historiador
Mansur Peixoto, fundador do canal História Islâmica. Em seus escritos, Herzl e outros intelectuais sionistas
discutiam a formação de um Estado judeu em uma faixa de território muito maior do que as fronteiras atuais de Israel, ancorados em referências bíblicas que falam da terra entre o Nilo e o Eufrates.
"Se a gente vai ler os escritos de Theodor Herzl sobre em qual espaço geográfico ele coloca o Estado de Israel, a gente vê que ele sempre colocou entre o Nilo e o Eufrates, a ideia de uma grande Israel bíblica", afirma.
Conforme o especialista, essa visão combina leitura religiosa e uma "pseudo-arqueologia sagrada" que tenta reconstituir a narrativa bíblica em termos de fronteiras concretas. "Na mente de Theodor Herzl e dos seus sequazes, e na mente dos planejadores do futuro do sionismo, a ideia da Grande Israel é um fato que precisa ser estabelecido", diz.
Na prática, Mansur vê um
fio de continuidade entre os escritos de Herzl, o sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky e lideranças atuais do movimento de colonos. "Você vai ter esse plano da Grande Israel desde o pai do sionismo, com Theodor Herzl, até as palavras de
Daniela Weiss [ex-prefeita de Kedumim e uma das maiores defensoras dos assentamentos ilegais], em qualquer vídeo que você encontrar nas redes sociais dela, e de outros líderes do movimento dos colonos".
Para Mansur, o projeto da Grande Israel não é apenas retórica religiosa e se materializa em políticas concretas de expansão territorial e normalização de assentamentos em áreas ocupadas sob o atual
governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Desde 2018, Israel tem como valor nacional a ideia dos seus assentamentos ilegais. Veja só, algo que é considerado ilegal pelo direito internacional é um valor nacional dentro do Estado de Israel", pontua, ao acrescentar que
vê Israel como um Estado colonialista.
O especialista argumenta ainda que o sionismo se molda a diferentes expectativas políticas e religiosas, o que ajuda a explicar a amplitude de seu apoio global. "Para um cristão sionista, o sionismo atende a uma ideia perfeita de milenarismo messiânico. Para um judeu sionista, ele atende a uma ideia perfeita de autoafirmação de poder após uma história recente, trágica, como foi a do Holocausto. Para um sionista progressista, o sionismo possui a ideia da imposição de uma realidade progressista dentro de um ermo selvagem de bárbaros", exemplifica.
Flotilha humanitária e a experiência do 'Estado corsário'
No fim de agosto, Mansur deixou o Brasil para participar da
flotilha Global Sumud, iniciativa de 500 ativistas, de mais de 40 países, que tentou furar o bloqueio a Gaza criando um corredor humanitário pelo mar. "Passamos 30 dias no mar, sofremos bombardeios, ataques militares […]. Fomos sequestrados, todos os nossos barcos foram roubados, os nossos pertences pessoais foram roubados,
a ajuda humanitária foi roubada, roubada em águas internacionais", revela.
Segundo o historiador, os barcos foram levados à força para um território controlado por Israel e os ativistas foram encaminhados ao centro de detenção de Kitzi'ot, no deserto de Negev. Para Mansur, Israel é uma espécie de "Estado corsário", que agiu em águas internacionais sob a tutela de grandes potências ocidentais, como os Estados Unidos.
Mansur também descreve o tratamento que os ativistas receberam nos centros de triagem. "Uma das coisas que os guardas sempre perguntavam era se eu era árabe […]. Meu tratamento ali seria absolutamente diferente se eu fosse", conta.
Grande Israel: projeto ideológico minoritário
Já a assessora acadêmica do Instituto Brasil Israel (IBI) e professora de relações internacionais do Ibmec Karina Calandrin pontua ao podcast Mundioka que o projeto da Grande Israel de fato existe, mas não pode ser tomado como sinônimo de todo o sionismo nem de toda a sociedade israelense.
"O Instituto Brasil Israel entende que esse projeto da Grande Israel é um projeto ideológico […]. Ele é expresso hoje por grupos políticos dentro de Israel que têm uma inclinação, seja puramente religiosa, seja também política e ideológica, de aumentar o território israelense para um projeto maximizador", argumenta.
Segundo a especialista, a proposta que voltou ao centro do debate nos últimos anos é baseada em uma interpretação específica da terra bíblica: "Acreditam que, para Israel se realizar enquanto um Estado judaico pleno, não é apenas qualquer território que conta. Teria que ser toda a terra de Israel bíblica".
Porém Calandrin e o instituto se colocam na direção oposta: são favoráveis à solução de dois Estados, um palestino e outro judeu, seguindo as linhas definidas em 1967 pela
Organização das Nações Unidas (ONU). "Então reconhecendo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como territórios palestinos, contra os assentamentos israelenses em ambos os territórios, e criticando sempre a expansão desses assentamentos como política de governos israelenses."
Além disso, a professora, que se considera uma sionista de esquerda, rejeita de forma contundente a comparação entre sionismo e nazismo. "Comparar o sionismo ao nazismo é uma forma de invalidar o movimento nacional judaico, invalidar a busca pela autodeterminação judaica, e eu não vejo isso como válido."
Em meio à escalada da violência e à repercussão global da guerra em Gaza, cresce também a tensão em torno de acusações de antissemitismo dirigidas a críticos do governo israelense. Karina alerta sobre o risco de banalização do termo. "Isso é uma instrumentalização do antissemitismo, que é algo muito sério. E não deveria ser utilizado dessa forma, banalizando o que é o antissemitismo", afirma.
Para ela, é essencial separar a crítica política do ódio aos judeus. "Uma crítica ao governo Netanyahu, dizer que a guerra que Netanyahu realiza não é uma guerra justa, não é uma guerra proporcional, que o governo de Israel passou dos limites, isso não é antissemitismo […]. Agora, se você faz uma crítica no sentido de que os judeus não podem ter um Estado, que os judeus não têm direito à autodeterminação, isso sim pode ser entendido como antissemitismo", finaliza.
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