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Terras raras não podem ser o novo pau-brasil, afirma analista

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista aponta que não basta ao país apenas mapear e se tornar um grande exportador de ativos estratégicos, como foi no passado, é preciso explorar o potencial das reservas para garantir o desenvolvimento nacional.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu prioridade do Ministério de Minas e Energia ao mapeamento geológico do Brasil. A ideia é determinar as áreas com maior potencial de presença de minerais estratégicos no país.
O pedido foi reforçado na última reunião ministerial do governo, mas desde o início do ano Lula vem chamando atenção para a questão diante da corrida global por terras raras.

"A gente só conhece 30% das nossas riquezas minerais. Tem 70% que a gente não conhece. A gente não tem o mapeamento ainda. A gente não tem o mapeamento das terras raras, e o mundo inteiro tá brigando por terra rara", afirmou o presidente em um evento em julho.

Apesar dos pedidos, houve pouco progresso no tema e empresas estrangeiras vêm avançando na exploração de minerais estratégicos em território brasileiro. Na cidade mineira de Poços de Caldas, por exemplo, a mineradora australiana Meteoric começou a operar um laboratório de extração de terras raras, apresentado como a primeira iniciativa de refino desse tipo em território nacional.
Em paralelo, empresas nacionais vêm recorrendo a financiamento de bancos norte-americanos para viabilizar a extração de terras raras, o que pode levar os Estados Unidos a terem vantagem no recebimento de suas produções.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Charles Pennaforte, afirma que a movimentação do governo federal sobre o tema é reflexo da pressão exercida pelos EUA contra a China em relação ao fornecimento desses materiais, que havia sido reduzido em função da própria política externa norte-americana de coerção a Pequim.
Ele observa que há uma discussão nos bastidores entre potências sobre as terras raras serem o "novo petróleo" e que o Brasil deveria ter se preocupado com isso há pelo menos 30 anos, avalia Pennaforte. No entanto, nunca houve uma política definida para o tema, em especial no sentido militar.

"Agora, voltando à baila toda essa discussão, é inevitável que o Brasil, que possui uma grande reserva dessas chamadas terras raras, passa a se preocupar com isso", explica o professor.

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No caso do Brasil, Pennaforte alerta que o principal ponto é não deixar que aconteça com as terras raras o que aconteceu com com o pau-brasil no período colonial, sendo apenas um produto de exportação, sem que desenvolvam o país internamente.
"É um ponto importante para um país não só fornecer como também utilizar. Acho que o Brasil tem a capacidade de desempenhar um papel importante, geoestratégico, nessa discussão, nessa rearticulação dessas terras raras e desses minérios."
Segundo o analista, é necessário que sejam criadas políticas direcionadas à melhor utilização desses recursos. Sem ela, o país ficaria vulnerável a dependência externa. "Toda essa discussão, ela passa por um projeto estratégico, geopolítico, que o Brasil possa ter."
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No entanto, o principal entrave nesse sentido são as discussões políticas, que em vez de estimular o crescimento "criam amis problemas".

"Todo mundo quer o país desenvolvido, mas a discussão nunca é realmente o desenvolvimento. Se perde muitos recursos com outros aspectos políticos, fundos partidários, por exemplo, que poderiam ser utilizados para a exploração desses recursos", critica o analista.

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