Ucrânia: um ano com um governo que nada fez senão tomar o poder

© Sputnik / Andrei Mosienko / Acessar o banco de imagensAssinatura do acordo de 21 de fevereiro de 2014
Assinatura do acordo de 21 de fevereiro de 2014 - Sputnik Brasil
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Em 22 de fevereiro de 2014, a oposição ucraniana não quis esperar pelo cumprimento do acordo por ela assinado e tomou o poder na Ucrânia quase pela força, à revelia do presidente.

Há um ano, em 22 de fevereiro de 2014, os militantes do movimento Euromaidan tomaram o poder na Ucrânia, destituindo, à revelia, o presidente Viktor Yanukovich, que alegadamente estava em visita na cidade de Kharkov. A mudança de poder ocorreu dois dias depois da assinatura do acordo de cooperação entre o presidente e a oposição e um dia depois de o ramo radical da oposição ter anunciado o seu descontentamento com as condições do acordo.

A situação no país estava tensa desde novembro de 2013, quando o Euromaidan ocupou o centro de Kiev, exigindo mudança de rumo político do país e adesão à União Europeia, o que dificultaria as parcerias vigentes e planejadas com a Rússia e seus aliados e traria, na opinião de muitos especialistas, consequências duvidosas para a economia do país.

Os manifestantes ficaram descontentes com a suspensão do processo de negociações sobre a adesão à UE. No primeiro período das manifestações, que se estendeu até janeiro de 2014, reivindicavam "educação europeia", "serviços de saúde europeus" e outras coisas do estilo. Ser europeu era a palavra de ordem geral.

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Em janeiro do ano passado, a situação mudou após uma atuação talvez pouco oportuna do governo ucraniano, que aumentou a responsabilidade por atos públicos de protesto e manifestações não autorizadas. A oposição, que já estava fazendo bastante uso político das manifestações (o acampamento na praça da Independência — o Maidan Nezalezhnosti — impossibilitou até a instalação da principal árvore de Natal do país no centro de Kiev), lançou mão da nova circunstância e virou o Euromaidan numa pura luta pelo poder.

A polícia antimotim ucraniana, a Berkut, tinha agido duvidosamente contra os manifestantes, dispersando manifestações e batendo em manifestantes. Várias fontes, no entanto, indicam que a violência era quase em todas as ocasiões provocada por elementos extremistas do Setor da Direita, que depois abandonavam a praça, deixando o confronto desenvolver-se de uma maneira descontrolada.

Ano novo, tensão nova

Assim, em meados de janeiro começaram sérios confrontos entre os manifestantes e a polícia. Foi neste mês também que se intensificaram as manifestações em outras cidades da Ucrânia, nomeadamente no Oeste do país.

E em 18 de fevereiro, os líderes da oposição anunciaram uma "ofensiva pacífica" contra o bairro administrativo de Kiev com o objetivo de fazer o governo voltar para a Constituição anterior, que previa uma redução considerável dos poderes do presidente do país com a ampliação das prerrogativas do poder legislativo.

Em 21 de fevereiro, um acordo foi assinado pelo então presidente Yanukovich e os líderes dos principais partidos de oposição ucraniana: Vitaly Klitshcko, do partido Udar (Golpe), Arseny Yatsenyuk, do partido Batkivschina (Pátria) e Oleg Tyagnibok, do partido Svoboda (Liberdade).

Porém, na noite de 21 a 22 de fevereiro de 2014, a oposição ocupou vários prédios do governo. Naquela mesma noite, propôs o impeachment  (inpugnação) de Yanukovich.

No dia seguinte, soube-se que Yanukovich tinha partido alegadamente à cidade de Kharkov, mas não havia nenhuma informação comprovada sobre o paradeiro do então presidente. Vários dias ele esteve a ponto de ser considerado "desaparecido".

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Este lapso de tempo bastou para a oposição o declarar "automaticamente demitido" e ilegítimo, concedendo poderes de presidente interino a Aleksandr Turchinov. Anteriormente naquele mesmo dia, Yanukovich deu uma entrevista a um canal de televisão ucraniano, qualificando os acontecimentos em Kiev como um "golpe de Estado".

Depois, Yanukovich sumiu de novo até finais do mês, quando deu uma coletiva de imprensa na cidade de Rostov-no-Don, na Rússia.

Um ano de tensões e incertezas

O novo governo ucraniano convocou eleições presidenciais antecipadas para 25 de maio de 2014. Aquele pleito foi vencido por Pyotr Poroshenko, anteriormente proprietário de uma empresa produtora de doces. Este resultado eleitoral foi visto primeiramente como um resultado positivo,  já que iria contrapor algo ao regime meio incompreensível do polêmico primeiro-ministro Arseny Yatsenyuk.

Mas depois o governo de Poroshenko anunciou uma operação antiterrorista na região de Donbass, que inclui as regiões de Donetsk e Lugansk da Ucrânia. Naquela altura, já eram repúblicas autoproclamadas. Desde o início, estas regiões não quiseram apoiar a causa dos manifestantes "pró-europeus", vendo-se obrigadas a não aceitarem também a "reforma" ou golpe ocorrido em Kiev.

A atividade política do governo ucraniano foi principalmente (e mais visivelmente) representada por ataques militares em Donbass, fazendo com que a região se tornasse uma grande fonte de refugiados, e por acusações à Rússia por supostamente atuar contra a Ucrânia militar e politicamente. A queda do avião da Malaysia Airlines na região do conflito provocou uma série de discrepâncias e uma internacionalização ainda maior do conflito. Sendo impossível trabalhar com paciência no local da queda e investigar as causas, surgiram acusações de abate, deliberado ou equivocado, das duas partes.

Melhor dizer, de todas as partes, já que não são só a Ucrânia e a Rússia as partes interessadas neste enredo, senão também a UE e os EUA, que têm acompanhado de perto os acontecimentos nesta parte do Leste europeu. Algumas fontes dizem que é tão de perto que até era frequente ouvir línguas estrangeiras, nomeadamente o inglês, nas fileiras do exército e batalhões ucranianos.

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São tão fartas as irregularidades do governo atual que manifestações de protesto surgem a cada vez com maior força, mesmo em Kiev e outras regiões por ele controladas. Nesta sexta-feira (20), por exemplo, houve na capital ucraniana uma manifestação perto do prédio da Administração Presidencial, cujos participantes diziam: "Um ano passou. O que fez o governo?".

O governo ainda não respondeu. E há o pressentimento de que não responderá, ficando na espera de que a pergunta seja esquecida. Mas a ansiedade popular diz também que não irá se esquecer, exigindo do atual governo ucraniano alguma ação construtiva e positiva ou reforma para que seja considerado como legítimo.

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