O depoimento de Costa confirmou o que ele já havia dito à Justiça Federal anteriormente, quando declarou que houve um pagamento de R$ 10 milhões ao então senador do PSDB para que o inquérito sobre a Petrobras fosse “ignorado”, “acabado” ou “postergado”.
Para o cientista político Antônio Marcelo Jackson, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, Paulo Roberto Costa é um dirigente que conhece muito bem a Petrobras, pois ingressou na empresa em 1995 e ocupou cargos de alta relevância, em governos de três presidentes da República: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Portanto, tem amplo conhecimento de causa para afirmar o que vem declarando tanto à Polícia Federal como ao Ministério Público Federal, como ainda aos parlamentares que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as denúncias de corrupção na Petrobras. No entanto, o Professor Jackson ressalta que Paulo Roberto Costa age sob os benefícios da delação premiada, que poderão lhe render uma diminuição da pena a que vier a ser condenado. Daí, segundo o especialista, o ex-diretor faz acusações tanto a parlamentares do PSDB, como o falecido ex-presidente nacional do partido, Sérgio Guerra, como a integrantes da base aliada, ou seja, membros do PT, do PP e do PMDB. Diante destas circunstâncias, Antônio Marcelo Jackson afirma que “as declarações de Paulo Roberto Costa precisam ser ouvidas e acatadas, porém interpretadas com uma certa reserva, uma vez que ele está visando, acima de tudo, à diminuição da sua pena”.
Segundo Paulo Roberto Costa, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) intermediou o encontro com o ex-senador tucano em um hotel no Rio de Janeiro: "Recebi um pedido do Deputado Eduardo da Fonte, do PP de Pernambuco, que pediu para se encontrar comigo e, chegando lá, para minha surpresa, estava também o Senador Sérgio Guerra. Eles me disseram que estava ocorrendo uma CPI sobre a Petrobras e que isso poderia ser minorado ou postergado, mas que precisava ter um ganho, um ajuste financeiro", disse.
Costa afirmou também que se arrepende de ter participado do esquema de corrupção, e se referiu a isso como “mácula” na empresa e no país. O ex-diretor disse que a Petrobras é a empresa mais devedora do mundo por não ter feito caixa na venda de seus produtos, o que a obrigou a pedir empréstimos no mercado.
“O maior problema da Petrobras, que continua arrebentando a empresa, são os preços que o Governo segurou, (…) é a defasagem do preço dos derivados. A Lava Jato, com desvio de R$ 6 bilhões, é 10% do rombo da Petrobras”, afirmou à CPI.
“O uso político da Petrobras sempre existiu, não é novidade alguma”, comenta o cientista político Antônio Marcelo Jackson. “No depoimento que prestou ao Congresso Nacional, o Sr. Paulo Roberto Costa chama a atenção para o fato de que o desvio na Petrobras, relacionado à distribuição de propinas, é da ordem de 6 bilhões de reais, enquanto o problema maior da empresa foi a manutenção de preços não reais da gasolina, gerando um prejuízo de quase 60 bilhões de reais. Então, aí está caracterizado o uso político da Petrobras para fins eleitorais. Quando se tem uma empresa do porte de uma Petrobras, com uma forte presença de mercado, o seu uso político causa grandes prejuízos.”
Na análise de Antônio Marcelo Jackson, as revelações de Paulo Roberto Costa provocaram duas questões de extrema gravidade. A primeira delas, a série de denúncias que culminou com a deflagração da Operação Lava Jato e as consequentes prisões de ex-dirigentes da Petrobras e de empresários denunciados por corrupção ativa; e a segunda, o problema do uso político da empresa. Ambas, na avaliação do cientista político, produziram resultados desastrosos tanto do ponto de vista político quanto empresarial.”