Para os historiadores, o grupamento de enfermagem serviu de sustentação ao discurso oficial do Governo de que não faltaria socorro aos cidadãos que tinham se prontificado a defender a nação através do voluntariado à FEB.
Em entrevista exclusiva à Sputnik, a especialista em Administração em Serviço de Saúde, bióloga e professora de Enfermagem da UNISUAM – RJ, Margarida Bernardes, contou a experiência que teve durante pesquisa para sua dissertação de mestrado, que teve como tema justamente a memória do grupo social composto por 67 enfermeiras do Exército e 6 da Aeronáutica, que atuaram no campo de batalha da Segunda Guerra Mundial, na Itália, no período de 1942 a 1945.
Durante o processo de pesquisa, a Professora Margarida Bernardes entrevistou 9 enfermeiras que estiveram na Guerra e contaram suas experiências no front. “Elas deram depoimentos em cima de fotografias que o Exército Brasileiro disponibiliza, e a partir das imagens a gente foi reconstruindo a memória delas sobre o evento em que elas estiveram atuando.”
Segundo a especialista, as enfermeiras brasileiras foram de forma voluntária para o front. “Elas precisavam ter qualquer diploma em enfermagem para se voluntariarem. Inicialmente, passaram por um treinamento intensivo, e depois foram para a frente ainda sem um posto definido. Lá na Itália, o Marechal Mascarenhas de Moraes deu a elas a patente de tenente, porque as enfermeiras norte-americanas eram enfermeiras militares. Já as enfermeiras da Aeronáutica, que só ficaram na retaguarda, é que já saíram daqui com o posto de tenente.”
Margarida Bernardes explica que na sua pesquisa tinha uma pergunta-padrão feita às enfermeiras, que era sobre se elas se consideravam heroínas por terem participado do episódio histórico. “Todas elas disseram que em nenhum momento se sentiram heroínas, mas sim que cuidavam dos heróis.”
Entre as entrevistadas pela Professora Margarida Bernardes que ainda estão vivas, destacam-se a capitão carioca Virgínia Maria Niemeyer Portocarrero, de 97 anos, que mora na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, e a enfermeira Carlota Melo, de 100 anos, que vive em Belo Horizonte.
A professora de Enfermagem conta ainda que estava presente no encontro com as enfermeiras um soldado que teve as pernas amputadas, e ele fez questão de prestar o depoimento de que tinha recuperado a vida depois da Guerra graças à ajuda da enfermeira Carlota Melo, que preparou a noiva dele no Brasil para receber o soldado sem os membros inferiores.
Ao falar da rotina no front de batalha, Margarida Bernardes disse que as enfermeiras trabalhavam em hospitais de campanha, dormiam em barracas enfrentando neve e frio, e que os uniformes brasileiros não eram confortáveis e bonitos como os das enfermeiras norte-americanas.
As enfermeiras brasileiras ficaram em torno de 2 anos atuando na Segunda Guerra Mundial, e ao terminar o conflito retornaram ao Brasil em navio, junto com os Pracinhas.
Uma vez terminada a Guerra, a FEB foi desmobilizada, inclusive o Corpo de Enfermeiras. As profissionais ficaram fora do Exército por 12 anos, e somente após entrarem com uma ação na Justiça conseguiram voltar à vida militar.