Nas palavras do acessor presidencial russo, Yuri Ushakov, Moscou partia do interesse de normalizar as relações entre os EUA e a Rússia. A mesma importânica era compartilhada por Washington, que esperava alcançar progresso em uma série de problemas de difícil solução. Em particular, nas palavras de Kerry, revelou-se que os EUA e a Rússia concordam em muito sobre a regulação da situação na Ucrânia, divergindo apenas em detalhes. Lavrov, por sua vez, declarou que a Rússia e os EUA dividem a mesma opinião sobre a necessidade de evitar passos que poderiam causar danos de longo prazo às suas relações.
A reunião foi precedida por negociações entre Lavrov e Kerry, nas quais eles debateram um amplo espectro de questões, incluindo relações bilaterais e problemas internacionais. Ao final desse primeiro encontro, Lavrov declarou à imprensa que as negociações ocorreram de forma "maravilhosa". Os diplomatas chegaram até a trocar presentes. Lavrov deu a Kerry tomates e batata cubanos, enquanto o secretário de Estado americano presenteou o chanceler russo com uma maleta idêntica à que ele mesmo estava usando.
De acordo com Ushakov, durante o encontro com Kerry, o presidente russo Vladimir Putin tinha por premissa a normalização das relações entre Rússia e EUA.
"Nós partíamos do interesse fundamental de retomar o rumo normal das relações bilaterais. Isso corresponde tanto aos interesses da Rússia, quanto dos EUA, e é extremamente importante para a manutenção da estabilidade e da segurança internacionais. A conversa foi franca e profunda. Certamente não se trata de um grande avanço, no entanto, é a manifestação dos primeiros sinais de entendimento de que dois grandes países devem retomar uma cooperação normal" – disse Ushakov à imprensa após o encontro entre Putin, Kerry e Lavrov.
Kerry, por sua vez, destacou que os EUA não esperavam um grande progresso nas negociações com a liderança russa em Sohci, mas consideraram o diálogo como extremamente importante para a resolução de problemas da política internacional.
"Foi uma visita importantíssima e que aconteceu num momento importante. Nós não esperávamos necessariamente que houvesse qualquer grande avanço ou que nós alcançaríamos uma solução plena para qualquer problema. Mas nós tivemos um diálogo bom e aprofundado com os líderes russos, e é exatamente esse tipo de conversa que é extremamente importante para se alcançar progresso em muitos problemas difíceis com que nos deparamos" – declarou Kerry em entrevista coletiva que se seguiu ao encontro.
Na opinião de Lavrov, Rússia e EUA compartilham a opinião de que o diálogo deve ser mantido apesar das divergências. Ele destacou igualmente que durante a reunião com Kerry, Vladimir Putin assegurou a disposição de Moscou para uma cooperação ampla e uma interação estreita com os EUA, desde que mediante o respeito mútuo de interesses.
O secretário de Estado americano, por sua vez, evitou tocar em temas polêmicos que pudessem minar o caráter positivo do encontro, deixando de pontuar velhas acusações sobre a suposta existência de tropas russas na Ucrânia, bem como levantar a questão da reintegração da Crimeia à Rússia.
Nesse sentido, Kerry destacou inclusive que o conflito ucraniano vem se estendido em demasiado. Ele pontuou questões como prestação de ajuda humanitária, necessidade de implementação dos acordos de Minsk e organização de um amplo diálogo sobre eleições em Donbass e a questão da decentralização do poder na Ucrânia.
"A posição dos EUA é a de que os acordos de Minsk representam o melhor e o principal caminho para a paz. Eles devem ser implementados por completo o quanto antes" – disse Kerry.
Mas apesar do clima ameno, Kerry não deixou de expressar a polêmica posição de Washington sobre a necessidade de uma troca de regime político na Síria para alcançar a paz naquele país.
"Como já dissemos muitas vezes, acreditamos que a Síria nunca se tornará um país pacífico enquanto seus problemas não forem resolvidos pela via política, enquanto não houver uma transferência política de poder" – declarou Kerry aos jornalistas ao fim do encontro.
Nas palavras do secretário de Estado americano, os EUA "acreditam ser preciso apoiar essa transferência de poder" na Síria.