SWIFT é a sigla de Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication. Conforme a própria instituição se apresenta, trata-se de uma provedora global de serviços financeiros seguros – uma casa de compensação financeira ou bancária com sede nos Estados Unidos e que é utilizada por organizações financeiras do mundo inteiro, e não apenas pelos bancos. O SWIFT é usado também por fundos de investimentos, exportadores e importadores, para transações de um país a outro, envolvendo pagamentos, transferências, remessas de recursos financeiros, etc. Reúne mais de 9 mil instituições financeiras em mais de 200 países em todo o mundo, e faz mais de 15 milhões de transações a cada dia útil.
A proposta apresentada pelo Banco Central da Rússia acontece mais de um ano após o início da implantação das sanções políticas e econômicas do Ocidente contra o país, por conta da crise ucraniana e da reintegração da Crimeia, em março de 2014.
O economista Gilberto Braga, em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, fala sobre a viabilidade da ideia e procura explicar os motivos que levam o Banco Central russo a lançá-la no âmbito do BRICS:
“Há questões de geopolítica envolvendo a proposta russa”, diz o professor. “Em 2006 surgiu um escândalo envolvendo o SWIFT, quando se descobriu que as agências de espionagem americana tinham uma espécie de acordo velado com a empresa, para que pudessem fazer varreduras nas transações do SWIFT, a fim de detectar ‘operações suspeitas de terrorismo’. Houve, então, uma grande reação mundial, sobretudo na União Europeia, e no âmbito da UE, se aprovou uma lei estabelecendo que o acordo entre a inteligência norte-americana e o SWIFT era uma invasão de privacidade e quebra do sigilo bancário dos cidadãos europeus. E fez mais a Europa: advertiu que, se os EUA não interrompessem aquelas ações, haveria retaliações, e que qualquer informação obtida por aquele recurso não teria validade jurídica em nenhum tribunal internacional.”
O Professor Gilberto Braga acredita que “talvez agora exista por parte da Rússia – por conta de todo o bloqueio financeiro e comercial – uma preocupação de que quem transacione com os russos possa, através de seu SWIFT, deixar um rastro do que está fazendo comercialmente e, assim, vir a sofrer retaliações por parte dos Estados Unidos”.
“Assim, ter um código do tipo SWIFT separado, ainda que dentro da ordem dos BRICS”, continua Gilberto Braga, “parece uma tentativa de se fazer uma câmara de compensação paralela, no primeiro momento entre os países que têm afinidades comerciais, os chamados países em desenvolvimento, mas com algo mais, que ainda não se pode dimensionar.”
O economista brasileiro continua seu raciocínio: “Na verdade, é também uma maneira de proteger esses países contra ameaças como os episódios que recentemente vieram à tona, de violações de e-mails e de informações pessoais disponibilizadas na rede mundial de computadores – violações praticadas pelos serviços de inteligência norte-americanos.”
Ainda segundo o Professor Gilberto Braga, a proposta do Banco Central da Rússia de criar um sistema análogo ao SWIFT “vem nessa linha de tentar assegurar que os países que não aderiram às sanções ocidentais não serão retaliados pelos Estados Unidos e outras nações que fazem parte do bloqueio comercial”.
“Trata-se de uma proposta ousada”, acrescenta o economista do Ibmec-Rio. “E o interessante em propostas como essa, sobretudo quando tentam criar mecanismos alternativos, é que mostram que é possível haver relações bilaterais fora do grande eixo comercial predominante no mundo, e também que eventualmente são caminhos para uma troca direta de transações não apenas entre os países que formam os BRICS, mas também com outras nações que venham se juntar a eles.”