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Turquia protesta contra resolução do Senado brasileiro sobre genocídio armênio

© REUTERS / David MdzinarishviliPessoas colocam flores no Memorial do Genocídio Armênio, em Erevan, no dia 21 de abril de 2015
Pessoas colocam flores no Memorial do Genocídio Armênio, em Erevan, no dia 21 de abril de 2015 - Sputnik Brasil
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A Turquia anunciou na noite de segunda-feira, 8, a convocação de seu embaixador no Brasil para consultas em Ancara. A medida se deu em represália à aprovação pelo Senado brasileiro de uma resolução reconhecendo como genocídio a ação do Império Otomano contra armênios em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial.

O ministério das Relações Exteriores turco tachou a decisão do Senado de "irresponsável" e declarou em nota que a mesma "distorce os fatos históricos sobre os eventos de 1915".

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Pelo mesmo motivo, nas duas últimas semanas a Turquia também chamou para consultas os seus embaixadores na Áustria, no Vaticano e em Luxemburgo, e criticou vários países por referências ao "genocídio armênio", incluindo a Rússia, a França e a Itália. A Turquia rejeita o termo "genocídio" e nega categoricamente os massacres de centenas de milhares de armênios pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial.

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Para entender melhor a repercussão dessa postura da Turquia na arena internacional e as consequência da convocação do embaixador turco no Brasil, a agência Sputnik entrevistou duas personalidades estreitamente ligadas a esse assunto.

A primeira delas é o famoso jornalista turco de origem armênia Etien Mahcupyan, que até abril de 2015 ocupou o cargo de principal assessor estatal do primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu. Na sua opinião, o "genocídio de armênios" não é um problema prioritário para a Turquia.

"A Turquia trata esse problema dentro da lógica do Estado-Nação, e se sente no dever de responder a tudo o que diz respeito a esta questão. Enquanto o Estado turco tiver o apoio do seu povo nesse sentido, o mesmo continuará reagindo de maneira brusca a tudo aquilo que o forçar a reconhecer o "genocídio de armênios". As discussões em torno desse problema começaram na Turquia há relativamente pouco tempo. E isso não está ligado apenas à questão armênia, mas ao entendimento geral de que desde o início do século 20 a história da Turquia vem sendo apresentada a nós de maneira distorcida. A Turquia já não quer mais ouvir a sua história de estrangeiros" – explicou Mahcupyan.

O segundo entrevistado da Sputnik é o ex-embaixador turco e coordenador da Direção de Programas Internacionais do Instituto de Política Exterior da Turquia Oktay Aksoy, que em 2008 foi um dos embaixadores de seu país a assinar uma petição contrária a ação de desculpas aos armênios.

"Espero que as relações turco-brasileiras não estejam em um nível em que a aprovação desse tipo de resolução pudesse deteriorá-las. Senados e parlamentos de diversos países têm o direito de aprovar decisões como esta. Os parlamentares podem ter seus pontos de vista sobre os mais diversos assuntos. A Turquia, no entanto, também possui o seu próprio ponto de vista, que consiste no fato de os tristes eventos ocorridos no Império Otomano durante a Segunda Guerra Mundial precisarem ser estudados a fundo. E isso não deve ser feito por parlamentos ou senadores, que dificilmente possuem conhecimentos históricos profudos, mas por historiadores" – destacou Aksoy.

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"Sem dúvida, a Turquia não gostaria que o Brasil, com quem ela acabou de começar a desenvolver relações, aprovasse tais resoluções. A Turquia não podia deixar de reagir a esta decisão. Espero que a convocação do nosso embaixador para Ancara sirva de sinal para aqueles que trabalharam na aprovação da resolução sobre o genocídio armênio no Brasil. Seria indesejável que isso prejudicasse as relações turco-brasileiras. Afinal, a resolução do Senado brasileiro, assim como de qualquer parlamento, não pode ser obrigatória para a Turquia, e nem tampouco denegrir a sua imagem" – concluiu o ex-embaixador.

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