Entre os espionados pela agência americana de inteligência estão o ex-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci; o atual ministro do Planejamento, Nélson Barbosa, que no início do Governo Dilma era secretário-executivo do Ministério da Fazenda; o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General José Elito Siqueira, responsável pela segurança da presidente; e o ex-ministro das Relações Exteriores e atual embaixador do Brasil em Washington, Luiz Alberto Figueiredo.
As novas denúncias do WikiLeaks ocorreram logo após a Presidenta Dilma retornar da visita oficial aos EUA, viagem que tinha sido cancelada em 2013, depois da exposição das primeiras notícias, pelo site, de que o Governo brasileiro tinha sido alvo de espionagem do Governo norte-americano.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, Antônio Marcelo Jackson, todos os grupos políticos procuram espionar uns aos outros, mas a nova denúncia gera uma situação desagradável, já que a presidente queria fazer da viagem aos EUA algo positivo para diminuir a baixa popularidade de seu Governo. “Quanto à questão específica da revelação do WikiLeaks, ela gera certo ar desagradável, na medida em que o Governo brasileiro da Presidenta Dilma Rousseff busca um fato político que seja positivo. A viagem da presidente aos EUA era para buscar novos acordos, e, na medida em que isso foi feito, dois dias depois volta o período das primeiras denúncias, e de que a espionagem chegava inclusive ao avião presidencial. É lógico que o fato político da ida da Presidenta Dilma aos EUA desaparece na mesma proporção, com esse novo fato político negativo. A repercussão foi muito mais no sentido de que se queria criar uma imagem boa, de algo bom para o Governo, e logo de imediato vem uma notícia ruim.”
Sobre a medida da Presidenta Dilma de encarregar o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, de dizer que o episódio de espionagem dos Estados Unidos era um caso superado, enquanto outros países que também tiveram os governos espionados, como a França e a Alemanha, decidiram adotar medidas políticas como convocar embaixadores dos EUA para prestar esclarecimentos, o professor acredita que o Governo brasileiro colocou a questão numa balança política, onde de um lado o Governo tinha a indagação de que o Brasil pode arrumar uma briga com os Estados Unidos, e o que o país ganharia com isso no cenário político interno, e uma segunda questão que seria ir até os EUA para gerar um fato novo positivo que contribuísse para amenizar as críticas do mercado interno.
Antônio Marcelo Jackson comenta: “Para manter uma autonomia e independência em relação às outras nações, sim, poderíamos convocar o embaixador brasileiro, que ele viesse dos EUA com notícias, ou chamar o embaixador dos EUA no Brasil para esclarecer o que estava acontecendo, mas isso no sentido da manutenção de autonomia de um Estado independente. O problema que entra aqui é, primeiro, se a notícia do WikiLeaks tem a ver de fato com informações do passado, e, segundo, se o cenário político brasileiro pesou muito mais na decisão, que foi colocada numa espécie de balança política.”
O professor ressalta que, quando se pensa em relações internacionais, considera-se uma série de elementos para classificar um país, como por exemplo a sua produção econômica, se o país tem um mercado consumidor que seja interessante para as demais economias do mundo. E o Brasil é, sim, uma potência no mercado global. “Por mais complicado que às vezes seja a nossa economia, o Brasil é uma das grandes potências do mundo, variando entre a 7.ª e a 9.ª posição na economia do planeta. O Brasil é um país-chave no mundo. Ele pode não ser uma potência militar e não ter uma capacidade de intervenção nos demais países, mas tem uma capacidade de influência na economia global e também como mercado consumidor. Daí o Brasil ser uma peça chave no cenário político internacional. Se o Itamaraty e o Ministério das Relações Exteriores vão fazer por onde o Brasil virar um protagonista, essa é uma outra conversa, mas o Brasil por si só é uma potência.”
O cientista político Antônio Marcelo Jackson alerta que os Estados Unidos não são um país que lida de forma amadorística com as questões de espionagem. E nas relações internacionais ter informações pessoais pesam muito e garantem vantagens em negociações comerciais.