Esta é a primeira visita oficial de Granger aos EUA desde que ele se tornou chefe de Estado, há dois meses. Acompanhado pelo chefe das Forças de Defesa da Guiana, Mark Phillips, ele pretende pedir ajuda a Washington para resolver o litígio territorial sobre os 160 mil km² de Essequibo, região que atualmente faz parte da Guiana, mas cuja soberania é disputada internacionalmente pela Venezuela, com base em um acordo assinado em Genebra em 1966.
Entre outros pontos, o documento determina que Essequibo, na qualidade de área sob disputa, não pode ser explorado. No entanto, em mais de 15 ocasiões, a Guiana outorgou concessões a empresas estrangeiras para explorar a região, contrariando as regras do direito internacional.
Este mês, em entrevista à Telesur, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusou a empresa dos EUA de “financiar uma campanha de desestabilização econômica e geopolítica contra a Venezuela, através da exploração ilegal do Essequibo em execução com o apoio do governo da Guiana”. Maduro disse ainda que “a Exxon Mobil financiou a campanha do presidente David Granger”, e que, agora, o governo guianense estaria retribuindo o favor com a concessão.
Além das grandes reservas de petróleo e gás, Essequibo também guarda minas de ouro, diamante e urânio. Na época da colonização espanhola do continente, a Holanda aproveitou as turbulências do império espanhol para tomar posse sobre a Guiana. Em 1814, parte do território foi vendida pelos holandeses à Inglaterra, que começou a ocupá-lo a despeito do reconhecimento, por parte de Portugal, Espanha e Brasil, de que a região pertencia à Capitania Geral da Venezuela.
A reivindicação também conta com o apoio do Parlamento Latino-americano, do qual a Guiana, aliás, não faz parte. O país conquistou sua independência em 1966, mesmo ano da assinatura do acordo com a Venezuela, mas continua até hoje sob forte influência britânica e estadunidense.
.@NicolasMaduro @LaHojillaenTV EE.UU AHORA APUESTA A LA EXXON MOBIL Y DAVID GRANGER PARA DESESTABILIZAR AL PAIS! pic.twitter.com/8PZ0dgv98W
— HOLA SOY EDILIO (@Rafa4F) 12 julho 2015
Esta semana, o Grupo Venezuelano do Parlatino conseguiu aprovar por unanimidade uma declaração de respaldo às ações do presidente Nicolas Maduro em defesa dos direitos da Venezuela sobre Essequibo, apoiando a mediação da ONU para resolver a disputa com a Guiana.
"O presidente da Guiana, David Granger, atua como um refém da Exxon Mobil. Ele se pôs à margem da legalidade ao defender um laudo que foi nulo e sem efeito, tal como eles mesmos admitiram em 1966, quando assinaram o Acordo de Genebra. [Granger] deve retificar e respeitar o direito internacional", declarou o presidente do Parlatino, Angel Rodriguez, ressaltando a importância da decisão para a soberania da América Latina.
No próximo dia 30 de julho, Caracas apresentará sua posição durante uma reunião da junta diretora do Parlatino, no Panamá, e em agosto, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) convocará uma reunião extraordinária para analisar o conflito, segundo anunciou Maduro na última sexta-feira (17), durante a Cúpula do Mercosul em Brasília.
O professor brasileiro Rafael Araújo, especialista em política venezuelana, comentou a questão do Essequibo com exclusividade para a Sputnik Brasil. Ele diz que essa causa é histórica, “não é uma disputa que começou no Governo Nicolás Maduro ou no Governo Hugo Chavez – tem mais de cem anos”.
“Os recursos naturais e a sua potencial exploração fazem com que em períodos históricos variados a questão novamente ganhe força”, continua o Professor Araújo. “A retomada da polêmica nos últimos dias se deve justamente à exploração de petróleo pela Exxon Mobil no território da Guiana Essequibo, algo que não poderia ocorrer de acordo com os tratados internacionais, por ser uma região de reclamação da Venezuela, reclamação que tem legitimidade por conta do aceite da ONU, que tem uma carta, a Carta de Genebra, de 1966, na qual reconhece que o tratado do início do século XX entre Inglaterra e Venezuela é um tratado passível de suspeita, já que não foram venezuelanos que o fizeram, mas, sim, advogados ligados à Inglaterra e que supostamente representavam a Venezuela.”
“Nos anos 60 o presidente venezuelano Rómulo Betancourt retomou esse debate sobre a legitimidade ou não do acordo de 1905”, acrescenta Rafael Araújo. “A ONU deu aval à reclamação venezuelana, mas a questão está paralisada porque a Guiana tem a Inglaterra e os EUA como dois poderosos aliados, e, por mais que a ONU tenha reconhecido a legitimidade do questionamento venezuelano em relação ao tratado, a questão não caminha justamente porque a Guiana tem atrás de si ‘somente’ os EUA e a Inglaterra.”