Os analistas das agências de classificação de risco queriam saber do ministro as perspectivas do Brasil diante da redução da meta de superávit primário para 0,15%. (Entende-se por superávit primário a diferença entre receita e despesa do Governo menos o que é gasto para pagar os juros da dívida.) Levy respondeu que tem motivos para se sentir otimista em relação à recuperação, embora consciente da dureza das medidas que o Governo se viu obrigado a tomar.
O economista Roberto Fendt, diretor-executivo do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), comentou a fala de Joaquim Levy. Em entrevista à Sputnik Brasil, Roberto Fendt declarou:
“Fico feliz em saber que o Ministro Joaquim Levy se sinta otimista. Alguém precisa demonstrar otimismo neste ambiente de baixo astral que tomou conta do Brasil. Nossa situação chegou ao ponto de, todos os dias, termos más notícias. Da minha parte, eu fico muito preocupado com a redução da meta do superávit primário. Há algum tempo, esta meta vem sendo reduzida.”
O economista continuou: “Até pouco tempo atrás, a redução era de 2%, depois caiu para 1% e agora está em 0,15%. Agora, observe que fato curioso: nos últimos 12 meses, encerrados em maio, as despesas não financeiras, correntes, as despesas públicas consolidadas cresceram 11,5%; as despesas de custeio cresceram 16%. Então, como agora todos se deram conta de que houve uma frustração de receitas? Comparados os cinco primeiros meses de 2015 ao mesmo período de 2014, vê-se que isto não é verdade. Houve um aumento este ano em relação ao anterior de 5,3%, ou seja, 26 bilhões de reais entraram a mais na economia nacional no período atual em relação ao período anterior. Não é pouca coisa.”
Além das agências de classificação de riscos, também o Fundo Monetário Internacional demonstrou preocupação com a situação econômica do país. Através do seu porta-voz, Gerry Rice, a diretora-gerente do FMI, a francesa Christine Lagarde, declarou que “o Brasil precisa continuar, sem interrupção, com o esforço para melhorar as contas fiscais do país, mesmo com adoção de novas metas”. As declarações foram prestadas após Christine Lagarde avaliar as mudanças anunciadas na quarta-feira, 22, mudanças que incluem a redução da meta de superávit primário em 2015 de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto.
Na opinião da diretora-gerente do FMI, “o Governo do Brasil tem que continuar buscando a restauração da sustentabilidade fiscal e a redução do déficit público. Os esforços precisam continuar sem interrupção, mesmo com as metas revisadas". Gerry Rice explicou ainda que para o Fundo Monetário Internacional “a redução da meta fiscal precisa ser entendida no contexto de uma recessão no Brasil que acabou sendo pior do que o esperado”.
Para Roberto Fendt, o FMI não tem razões para se manifestar sobre a situação do Brasil:
“Nós não precisamos destas advertências. O Brasil é credor do Fundo Monetário Internacional e não precisa que alguém venha lá do Olimpo dizer como o Brasil deve se comportar. Todos nós sabemos que as coisas por aqui não estão bem. Mas não precisamos que alguém de fora, principalmente a diretora-gerente do FMI, venha nos mostrar o que está errado e deve ser corrigido. Nós sabemos como proceder e não precisamos de lições. A Sra. Christine Lagarde deve se preocupar com os países que devem dinheiro ao Fundo Monetário Internacional. Este não é o caso do Brasil.”