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“Brasil é credor do FMI e não precisa que alguém de lá diga como país deve se comportar”

© Roberto Stuckert Filho/PR / Acessar o banco de imagensA presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, acompanhada do chanceler Mauro Vieira e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante encontro com empresários em Nova York
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, acompanhada do chanceler Mauro Vieira e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante encontro com empresários em Nova York - Sputnik Brasil
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Economista Roberto Fendt entende otimismo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas recomenda cautela com os rumos da economia do Brasil. Fendt falou com exclusividade para a Sputnik Brasil: “Christine Lagarde deve se preocupar com os países que devem dinheiro ao FMI, o que não é o caso do Brasil.”

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O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, demonstrou otimismo em relação à atual e futura situação econômico-financeira do Brasil. Em teleconferência mantida com analistas de agências econômicas internacionais de classificação de risco, Levy declarou que o Governo está “fazendo o dever de casa”, adotando as medidas necessárias à recuperação da economia.

Os analistas das agências de classificação de risco queriam saber do ministro as perspectivas do Brasil diante da redução da meta de superávit primário para 0,15%. (Entende-se por superávit primário a diferença entre receita e despesa do Governo menos o que é gasto para pagar os juros da dívida.) Levy respondeu que tem motivos para se sentir otimista em relação à recuperação, embora consciente da dureza das medidas que o Governo se viu obrigado a tomar.

O economista Roberto Fendt, diretor-executivo do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), comentou a fala de Joaquim Levy. Em entrevista à Sputnik Brasil, Roberto Fendt declarou:

“Fico feliz em saber que o Ministro Joaquim Levy se sinta otimista. Alguém precisa demonstrar otimismo neste ambiente de baixo astral que tomou conta do Brasil. Nossa situação chegou ao ponto de, todos os dias, termos más notícias. Da minha parte, eu fico muito preocupado com a redução da meta do superávit primário. Há algum tempo, esta meta vem sendo reduzida.” 

O economista continuou: “Até pouco tempo atrás, a redução era de 2%, depois caiu para 1% e agora está em 0,15%. Agora, observe que fato curioso: nos últimos 12 meses, encerrados em maio, as despesas não financeiras, correntes, as despesas públicas consolidadas cresceram 11,5%; as despesas de custeio cresceram 16%. Então, como agora todos se deram conta de que houve uma frustração de receitas? Comparados os cinco primeiros meses de 2015 ao mesmo período de 2014, vê-se que isto não é verdade. Houve um aumento este ano em relação ao anterior de 5,3%, ou seja, 26 bilhões de reais entraram a mais na economia nacional no período atual em relação ao período anterior. Não é pouca coisa.”

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“Então, o que está acontecendo no Brasil não é frustração de receitas, mas, sim, o resultado direto do corte de despesas”, observou Roberto Fendt. “Diante de tudo isso, eu acredito que o Ministro Joaquim Levy tenha lá suas razões para estar otimista e para acreditar que o grau de investimento não será perdido. Mas, com toda a franqueza: eu não botaria a mão no fogo em torno disso. Porque estas agências de classificação de riscos têm um conjunto de parâmetros que norteiam as suas avaliações. Esse conjunto de parâmetros diz respeito às contas fiscais, à inflação, ao crescimento do PIB – a receita tributária depende do crescimento do Produto Interno Bruto – e assim por diante. O ministro está certo num aspecto: neste momento, não se vislumbra a possibilidade da perda de grau de investimento para o Brasil. Mas insisto: é preciso estar atento porque as circunstâncias não nos favorecem. Se perdermos o grau de investimento, a situação vai se agravar. Por exemplo, muitos fundos que aplicam recursos aqui só fazem isso porque o Brasil tem grau de investimento mantido pelas agências de classificação de risco. Se este grau cair, os recursos desses fundos serão repatriados aos países de origem.”

Além das agências de classificação de riscos, também o Fundo Monetário Internacional demonstrou preocupação com a situação econômica do país. Através do seu porta-voz, Gerry Rice, a diretora-gerente do FMI, a francesa Christine Lagarde, declarou que “o Brasil precisa continuar, sem interrupção, com o esforço para melhorar as contas fiscais do país, mesmo com adoção de novas metas”. As declarações foram prestadas após Christine Lagarde avaliar as mudanças anunciadas na quarta-feira, 22, mudanças que incluem a redução da meta de superávit primário em 2015 de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto.

Na opinião da diretora-gerente do FMI, “o Governo do Brasil tem que continuar buscando a restauração da sustentabilidade fiscal e a redução do déficit público. Os esforços precisam continuar sem interrupção, mesmo com as metas revisadas". Gerry Rice explicou ainda que para o Fundo Monetário Internacional “a redução da meta fiscal precisa ser entendida no contexto de uma recessão no Brasil que acabou sendo pior do que o esperado”. 

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O porta-voz lembrou que no início de julho o FMI reduziu a previsão de crescimento do PIB do Brasil, de contração de 1% em 2015 prevista em abril para queda de 1,5%, o que, para o Fundo Monetário Internacional, é “um dos piores desempenhos entre as maiores economias emergentes do mundo”.

Para Roberto Fendt, o FMI não tem razões para se manifestar sobre a situação do Brasil:

“Nós não precisamos destas advertências. O Brasil é credor do Fundo Monetário Internacional e não precisa que alguém venha lá do Olimpo dizer como o Brasil deve se comportar. Todos nós sabemos que as coisas por aqui não estão bem. Mas não precisamos que alguém de fora, principalmente a diretora-gerente do FMI, venha nos mostrar o que está errado e deve ser corrigido. Nós sabemos como proceder e não precisamos de lições. A Sra. Christine Lagarde deve se preocupar com os países que devem dinheiro ao Fundo Monetário Internacional. Este não é o caso do Brasil.”

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