A seguir, alguns trechos da sua entrevista:
- Estão sendo observadas mudanças positivas nesta questão. Em particular, com a visita de um grupo de políticos franceses, liderado por Thierry Mariani, à península. Creio que esta tendência irá se aprofundar com o passar dos anos. Eu avalio este fato com uma reunificação com a Rússia, como um retorno da Crimeia ao ventre histórico da Rússia. Ao meu ver, essa reintegração possui uma dupla legitimidade. Por um lado, histórica, já que a sua permanência junto à Ucrânia foi curta, do ponto de vista da história. E, por outro, autodeterminante, pelo fato de ter havido um referendo na Crimeia, do qual eu tive o orgulho de participar como um dos poucos observadores estrangeiros. E nesse referendo, que teve uma alta participação da população, 97% dos eleitores optaram pela adesão à Rússia em condições totalmente pacíficas. E eu creio que os imparciais, livres e justos deputados estão pouco a pouco reconhecendo que o futuro da Crimeia está indissoluvelmente vinculado à Rússia.
- Ao vermos quem está atualmente envolvido com finanças e economia de alguns setores ligados aos investimentos na Ucrânia, nos deparamos com uma questão bastante legítima de se ela é mesmo um Estado independente. Infelizmente, hoje a Ucrânia está sendo controlada por pessoas subordinadas à forças estrangeiras, em particular aos norte-americanos e seus amigos. Infelizmente esse é o principal motivo do nosso conflito. Eu tenho a profunda convicção de que se a Ucrânia fosse realmente gerida por pessoas que colocam a realidade histórica e os interesses de seu país em primeiro plano, ela viveria em harmonia com o seu entrono histórico, em primeiro lugar com Moscou e também com países da Europa Ocidental, e não tentaria ficar constantemente inflando a chama desse conflito, como o fazem os amigos do senhor Poroshenko.
- Durante o referendo eu visitei regiões povoadas por tártaros, e ali tudo estava igualmente calmo como no restante do território da Crimeia. Os tártaros representam de 8% a 10% da população. É preciso reconhecer que a sua participação na votação não foi tão ativa. No entanto, não podemos dizer que a minoria tártara era em sua maioria contrária à adesão à Rússia. Houve sim manipulação e uso da parcela de tártaros mais submetida à influência dos ideais islâmicos por forças turcas, norte-americanas ou turco-norte-americanas. Nós constatamos tentativas de sua utilização por norte-americanos e pela Turquia, a exemplo daquilo que acontece no Cáucaso e na Ásia Central. Ou então a exemplo do que está acontecendo na região de Xinjiang, onde os uigures estão sujeitos ao mesmo tipo de tratamento por parte do governo de Ancara e das forças norte-americanas. Tais maquinações são reais, e a Rússia precisa ficar atenta quanto a isso. No entanto, devemos reconhecer que muitos tártaros estão felizes em aderir à Rússia.
- Como historiador e cientista político eu tenho o hábito de promover análises comparativas ao olhar para a história. Eu trabalhei com questões da Chechênia e lembro bem que no início dos anos 1990 os EUA desempenhavam um papel importante do armamento dos rebeldes chechenos islâmicos. A mesma lógica é observada em muitas regiões do mundo. O mesmo acontece no Oriente Médio. Hoje, o Estado Islâmico é uma consequência da política norte-americana. Os norte-americanos armaram todos os movimentos islâmicos. Isso levou à desestabilização de Estados nacionais. Hoje, se quisermos estabilidade internacional, precisamos fortalecer os Estados-nação. A Rússia defende tal visão do direito internacional, da estabilidade de Estados nacionais perante esses jogos desestabilizadores praticados pelos EUA com o uso do islamismo ou da máfia. E falando sobre a Crimeia e outras regiões de importância geopolítica, é precisa ficar ciente dos extremamente perigosos e disfarçados jogos que os EUA estão praticando.