De acordo com o chanceler, nem houve pedido por parte de Ancara:
“Não se trata de uma recusa por parte do senhor Obama a um pedido de encontro por parte do senhor presidente [Erdogan]. Nós não enviamos nenhuma solicitação à Casa Branca, portanto, não recebemos nenhuma recusa. Estas informações não correspondem à realidade”.
Explicou, aprofundando-se ainda mais nesta justificativa, que existe uma “tradição diplomática” na Turquia: “o presidente e o primeiro-ministro se trocam a cada ano em reuniões da Assembleia Geral da ONU e em cúpulas do G20:
“No ano passado, a Turquia foi representada na Assembleia Geral da ONU pelo senhor presidente, neste ano é o senhor primeiro-ministro quem irá a Nova York. No ano passado, o senhor Davutoglu participou da cúpula do G20, neste ano, a cúpula terá lugar no nosso país e será presidida pelo senhor Erdogan. É por isso que o senhor presidente não vai a Nova York, e não adianta buscar outras explicações”.
Diferença temporal
Foi na mesma coletiva que Cavusoglu confirmou que a operação conjunta turco-estadunidense contra o Estado Islâmico está pronta para começar. Mais cedo, John Kirby, representante oficial do Departamento de Estado dos EUA, tinha negado que houvesse prontidão.
Cavusoglu culpou a “diferença temporal” que impediu a chegada a tempo de informações mais recentes aos EUA.
Porém, ainda mais cedo, há duas semanas, a Turquia primeiro negava que os aviões norte-americanos tivessem decolado de pistas de bases militares turcas, nomeadamente da maior delas, Incirlik, no sul, perto da fronteira com a Síria. Depois, as autoridades explicaram que tinham falado em “aviões turcos”, e não “aviões estadunidenses” que estariam decolando sem o intuito de bombardear as posições dos rebeldes.
A Turquia vive uma situação especialmente tensa desde 20 de julho, quando uma explosão matou mais de 30 pessoas na cidade de Suruc, perto da fronteira com a Síria. O autor do atentado foi reconhecido como um membro do Estado Islâmico que visava um grupo de voluntários da minoria étnica curda (presente na Turquia, Síria e Iraque), que estavam preparando um plano de restauração para a cidade de Kobane, na região curda da Síria e proibida pelo Estado Islâmico, grupo terrorista proibido na Rússia e uma série de outros países.
No dia seguinte ao atentado, dois policiais turcos foram mortos por militantes do Partido dos Trabalhadores Curdos, braço extremista armado dos curdos da Turquia. E no final daquela semana, um grupo de terroristas do Estado Islâmico tentou violar a fronteira sírio-turca, o que provocou o primeiro combate transfronteiriço contra o Estado Islâmico para a Turquia. Ato seguido, Ancara pediu ajuda aos EUA, disponibilizando para esse país as suas bases militares.
Mas depois, o presidente Erdogan anunciou que o seu alvo principal eram os militantes curdos, provocando críticas por parte da comunidade internacional. O chanceler russo Sergei Lavrov instou todas as partes combatentes a deixarem o "acertar das contas" para depois, centrando-se no momento no combate à ameaça terrorista.