Pai do menino sírio afogado: 'Mundo deve parar esta tragédia'

© AP Photo / DHAA paramilitary police officer carries the lifeless body of an unidentified migrant child, lifting it from the sea shore, near the Turkish resort of Bodrum, Turkey, early Wednesday, Sept. 2, 2015.
A paramilitary police officer carries the lifeless body of an unidentified migrant child, lifting it from the sea shore, near the Turkish resort of Bodrum, Turkey, early Wednesday, Sept. 2, 2015. - Sputnik Brasil
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As fotos do menino sírio Aylan Kurdi, cujo corpo foi arrastado no litoral turco perto da cidade de Bodrum emocionaram o mundo inteiro. A Sputnik falou com o pai da criança que contou como aconteceu a tragédia e apelou à comunidade mundial para juntar esforços visando pôr fim às mortes de pessoas inocentes que tentam buscar asilo no estrangeiro.

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O sírio Abdullah Kurdi estava com a sua mulher e dois filhos Aylan e Galip num dos dois barcos que transportavam refugiados da Turquia à Grécia pelo mar Mediterrâneo à noite. Devido a uma tormenta o barco capotou o que resultou na morte de 12 pessoas, inclusive oito crianças. Entre os mortos estavam a mulher e os dois filhos de Abdullah. O corpo sem vida do filho mais jovem, Aylan de 3 anos, foi arrastado ao litoral turco perto de Bodrum. As fotos da criança geraram grande turbulência na mídia internacional.

© AP Photo / Mehmet Can MeralAbdullah Kurdi, pai do rapaz sírio afogado
Abdullah Kurdi, pai do rapaz sírio afogado - Sputnik Brasil
Abdullah Kurdi, pai do rapaz sírio afogado
Abdullah contou a trágica história da vida da sua família e divulgou os detalhjes da catástrofe:

“Eu e a minha família vivia em Damasco até 2012. Quando começou a guerra, nós resolvemos mover a Kobane que é a minha cidade natal. Entre de pouco fui trabalhar na Turquia, mas a minha mulher e as crianças ficaram em Kobane. Em Istambul trabalhei na construção civil. Quando no ano passado os militantes [do Estado Islâmico] atacaram Kobane, eu rapidamente levei a família a Istambul. Vivíamos uma vida difícil porque o salário foi pequeno. A minha irmã mais velha vive na Suíça e o irmão mais velho no Canadá. A irmã propôs que vínhamos a ela e nós aceitamos a proposta. Eu encontrei uma pessoa que faz transferes de refugiados. Ele enviou-nos a Bodrum para um contrabandista. Esta pessoa levou-nos para as montanhas e disse que íamos começar a viajem dali e cobrou 1.200 dólares de cada um. Cerca da meia-noite embarcamos num barco e zarpamos do litoral. Junto conosco mais 13 pessoas estavam no barco. Em breve surgiram grandes ondas. Em reparar isso, o nosso monitor mergulhou no mar e afastou-se nadando. As ondas ficavam cada vez mais fortes e o nosso barco capotou sacudido por uma delas. Começamos a gritar em pânico. Eu tentava acalmar as crianças, gritava para que não tivessem medo e que tudo ficará bem. Durante uma meia-hora eu conseguia segurar eles em cima da água e não deixá-los asfixiar-se. Mas em qualquer momento as forças deixaram-me e eles se afundaram; Quando eu consegui levantá-los, ambos eram mortos. Os que sabiam nadar entre nós conseguiram salvar-se. Eu ficava no mar por três horas e meia até que os funcionários da  guarda costeira levaram-me para o litoral. 

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Agora eu tento achar o contrabandista que ofereceu transportar-nos para a Grécia. Eu quero que ele responda pela morte da minha família.

É claro que eu percebi o risco de uma viagem destes, mas depois de ler muitas histórias de como refugiados sucessivamente atingiram Europa, eu tinha esperanças de que teríamos sorte.

Levei os corpos da minha família e hoje planeio voltar à pátria, a Kobane, para sepultá-los ali. Agora na minha vida resta nada, apesar da memoria e três sepulturas.

Vou continuar em Kobane e diariamente vou visitar a sepultura da minha mulher e os filhos. Os filhos foram tudo para mim. Eu os amei mais do que a minha vida. Eu decidi fazer a viagem para o seu futuro bem na Europa. Agora já nunca poderei olhar para o mar, imediatamente vejo os acontecimentos horríficos daquela noite…

Tudo que peço do mundo é achar a via de parar com a catástrofe, por fim às mortes de pessoas inocentes que tentam se salvar e achar o asilo no estrangeiro. Os meus filhos morreram, mas outras famílias também têm filhos que não devem morrer. O mundo deve parar com a tragédia”.

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