Ex-presidente do Afeganistão: EUA precisam da Rússia e da China para combater o terrorismo

© Sputnik / Aleksei Druzhinin / Acessar o banco de imagensEx-presidente do Afeganistão, Hamid Karzai
Ex-presidente do Afeganistão, Hamid Karzai - Sputnik Brasil
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O ex-presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, concedeu uma entrevista exclusiva à Sputnik, em que abordou temas relativos à atual situação do seu país, à escalada do radicalismo e do Estado Islâmico no mundo, e à necessidade de os EUA buscarem ajuda de países como Rússia e China, caso a sua luta contra o terrorismo seja realmente verídica.

Sputnik: Como o senhor avalia a atual situação no Afeganistão?

Hamid Karzai: Se eles [EUA e OTAN] sentem não terem sido capazes de derrotar o terrorismo, então é chegada a hora de eles começarem a se consultar com as grandes potências mundiais que também são vizinhas do Afeganistão: Rússia, China, Índia e Irã.

Sputnik: Na sua opinião, quem almeja a instabilidade no Afeganistão, quem está por trás disso, quem tem esse interesse?

Hamid Karzai: Nós sabemos claramente que o estabelecimento militar do Paquistão tem tentado durante anos desestabilizar o Afeganistão. Esperávamos que isso mudasse com a chegada dos EUA e do Ocidente, já que o Paquistão é seu aliado, e a sua cooperação mútua poderia resultar numa maior estabilidade para o Afeganistão. Mas, infelizmente, isso não aconteceu.

Então, nós também sabemos que o Afeganistão só terá paz quando os EUA e o Paquistão o quiserem. Quando ambos começarem a ver que é chegada a hora para a paz no Afeganistão, o Afeganistão terá paz.

Nós aqui sabemos o que o Paquistão está fazendo. O que nós queremos é clareza na posição dos EUA. Se o Paquistão é seu aliado, então esse aliado deveria ajudá-los, ao invés de proporcionar um ambiente onde os afegãos sofrem, onde nossos aliados sofrem e onde o radicalismo segue aumentando a cada dia. Se o Paquistão não está fazendo isso, não está ajudando os EUA, como é que os EUA continuam ajudando o Paquistão com centenas de milhões de dólares? Trata-se, portanto de uma dicotomia, e esse é o motivo para duvidarmos de suas intenções.

Mas quais são as intenções dos EUA? A luta contra o terrorismo, ou algo mais? Se for a luta contra o terrorismo, e o Paquistão não está ajudando, então os EUA precisam tomar medidas apropriadas, e, principalmente, em consulta com Rússia, China e outros países.

Sputnik: Infelizmente, existe uma terceira frente (inclusive por parte de alguns poderes políticos locais) e uma grande quantidade de desinformação sobre a situação no Afeganistão, o que, certamente, não é bom para o país. 

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Hamid Karzai: Infelizmente, como venho observando nos últimos 13 anos, isso é feito principalmente pela mídia Ocidental. O porquê de eles estarem fazendo isso é também uma questão para nós. Espero que não seja intencional. Já que, caso fosse intencional, indicaria uma política que também seria ruim para todos nós. Então, vamos acreditar que isso parte da ignorância, e não de uma má intenção.

Sputnik: Bem, preciso perguntá-lo sobre o surgimento do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão. Trata-se de um “EI estrangeiro” ou de um “EI afegão”? O EI representa alguma ameaça ao Afeganistão? É o mesmo EI ligado aos acontecimentos atuais no Oriente Médio? Como você interpreta o comportamento do EI nos países árabes, principalmente na Síria e no Iraque?

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Hamid Karzai: O Estado Islâmico é um organismo ou um movimento que está certamente trabalhando para desestabilizar o Oriente Médio. Nós o vimos destruir patrimônio tanto na Síria, quanto no Iraque. Fica evidente que eles estão lá para destruir patrimônio cultural e levar esses dois países muçulmanos para a Idade da Pedra, para a total destruição e desesperança.

A ascensão do Estado Islâmico no Iraque e na Síria pode ter fatores tanto internos, quanto externos. Pode haver um ambiente interno para a sua ascensão. Mas eles não podem ter feito isso tudo sem um apoio externo – isso seria impossível. Ninguém pode ser tão ativo, tão ágil, tão militarmente móbil sem a ajuda estrangeira. Então, certamente, existe o apoio e o interesse estrangeiros promovendo eles.

No Afeganistão não há qualquer ambiente interno para eles. Eles são totalmente estrangeiros, totalmente alheios ao Afeganistão. Então, se houver alguma situação em que eles forem mais numerosos, superiores em equipamento, mais fortes militarmente, isso indicará para nós a existência de um agente estrangeiro e um forte apoio externo para mantê-los na ativa.

Sputnik: Disseram haver um grupo militante na Síria chamado de “Grupo Afegão”, que, entre alguns outros, teria Sheikh al-Afghani como um de seus membros. Seria esse mais um ataque da mídia contra o Afeganistão?

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Hamid Karzai: Qualquer afegão que lutar na Síria estará cometendo um grande erro contra o seu país, contra o seu povo, contra ele próprio. Agora, para lutar na Síria, qualquer afegão precisa ser levado até lá por alguém por dinheiro ou por alguma outra razão. Ou seja, por privação ou desespero. Portanto, esperamos que isso não aconteça, e eu faço um apelo a todos esses afegãos para voltar e não cair nessas manipulações estrangeiras. 

Sputnik: Não faz muito tempo o senhor esteve na Rússia em visita oficial. Percebemos ter sido uma viagem significativa e calorosa. Como o senhor avalia essa sua última visita e o seu último encontro com o presidente russo Vladimir Putin?

Hamid Karzai: Visitar a Rússia foi uma enorme oportunidade, algo que eu queria fazer há muito tempo. A hospitalidade refletiu as profundas tradições do povo russo, tanto por parte do governo quanto das pessoas em geral, bem como das instituições que me convidaram.

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O Presidente Vladimir Putin e eu tivemos uma conversa muito franca e detalhada. Temos o mesmo ponto de vista sobre muitas questões, principalmente sobre radicalismo, terrorismo e sobre quem está por trás disso, o porquê de eles estarem sendo promovidos e financiados, e o fato de precisarmos nos unir para combatê-los, para livrar as nossas sociedades dessa ameaça. Então, foi uma grande visita, e eu agradeço ao presidente da Rússia e ao Conselho das Relações Exteriores por tê-la organizado.

Sputinik: O senhor apoia a proposta do Presidente Vladimir Putin em formar uma aliança para combater o terrorismo e o Estado Islâmico, que surgiram nos países árabes e estão chegando à Europa?

Hamid Karzai: Sim, dou o meu grande apoio a ele nessa questão. Se o Ocidente e os EUA estão sinceramente lutando contra o terrorismo, eles devem se juntar à Rússia e à China, e ouvir o Presidente Putin.

Sputnik: O senhor falou com grande entusiasmo sobre a Rússia e chamou Vladimir Putin de amigo. Como o senhor enxerga o futuro das relações entre Rússia e Afeganistão em termos de cultura, economia, ciência e política?

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Hamid Karzai: O terreno está muito bem preparado para isso. As oportunidades estão aí. As duas nações precisam aproveitar essa oportunidade e usá-la em prol de um futuro melhor para si e em prol de uma maior estabilidade e paz na região. A Rússia é um país de qualidade com capacidade para fazê-lo, e o Afeganistão será o seu parceiro para trilhar esse caminho e estender a mão da sua firme amizade.

E nós querermos que a Rússia se reafirme para tomar uma forte posição e se fazer presente nessa região, como o era no passado.

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