Sputnik: Como o senhor avalia a atual situação no Afeganistão?
Hamid Karzai: Se eles [EUA e OTAN] sentem não terem sido capazes de derrotar o terrorismo, então é chegada a hora de eles começarem a se consultar com as grandes potências mundiais que também são vizinhas do Afeganistão: Rússia, China, Índia e Irã.
Sputnik: Na sua opinião, quem almeja a instabilidade no Afeganistão, quem está por trás disso, quem tem esse interesse?
Hamid Karzai: Nós sabemos claramente que o estabelecimento militar do Paquistão tem tentado durante anos desestabilizar o Afeganistão. Esperávamos que isso mudasse com a chegada dos EUA e do Ocidente, já que o Paquistão é seu aliado, e a sua cooperação mútua poderia resultar numa maior estabilidade para o Afeganistão. Mas, infelizmente, isso não aconteceu.
Então, nós também sabemos que o Afeganistão só terá paz quando os EUA e o Paquistão o quiserem. Quando ambos começarem a ver que é chegada a hora para a paz no Afeganistão, o Afeganistão terá paz.
Nós aqui sabemos o que o Paquistão está fazendo. O que nós queremos é clareza na posição dos EUA. Se o Paquistão é seu aliado, então esse aliado deveria ajudá-los, ao invés de proporcionar um ambiente onde os afegãos sofrem, onde nossos aliados sofrem e onde o radicalismo segue aumentando a cada dia. Se o Paquistão não está fazendo isso, não está ajudando os EUA, como é que os EUA continuam ajudando o Paquistão com centenas de milhões de dólares? Trata-se, portanto de uma dicotomia, e esse é o motivo para duvidarmos de suas intenções.
Mas quais são as intenções dos EUA? A luta contra o terrorismo, ou algo mais? Se for a luta contra o terrorismo, e o Paquistão não está ajudando, então os EUA precisam tomar medidas apropriadas, e, principalmente, em consulta com Rússia, China e outros países.
Sputnik: Infelizmente, existe uma terceira frente (inclusive por parte de alguns poderes políticos locais) e uma grande quantidade de desinformação sobre a situação no Afeganistão, o que, certamente, não é bom para o país.
Sputnik: Bem, preciso perguntá-lo sobre o surgimento do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão. Trata-se de um “EI estrangeiro” ou de um “EI afegão”? O EI representa alguma ameaça ao Afeganistão? É o mesmo EI ligado aos acontecimentos atuais no Oriente Médio? Como você interpreta o comportamento do EI nos países árabes, principalmente na Síria e no Iraque?
A ascensão do Estado Islâmico no Iraque e na Síria pode ter fatores tanto internos, quanto externos. Pode haver um ambiente interno para a sua ascensão. Mas eles não podem ter feito isso tudo sem um apoio externo – isso seria impossível. Ninguém pode ser tão ativo, tão ágil, tão militarmente móbil sem a ajuda estrangeira. Então, certamente, existe o apoio e o interesse estrangeiros promovendo eles.
No Afeganistão não há qualquer ambiente interno para eles. Eles são totalmente estrangeiros, totalmente alheios ao Afeganistão. Então, se houver alguma situação em que eles forem mais numerosos, superiores em equipamento, mais fortes militarmente, isso indicará para nós a existência de um agente estrangeiro e um forte apoio externo para mantê-los na ativa.
Sputnik: Disseram haver um grupo militante na Síria chamado de “Grupo Afegão”, que, entre alguns outros, teria Sheikh al-Afghani como um de seus membros. Seria esse mais um ataque da mídia contra o Afeganistão?
Sputnik: Não faz muito tempo o senhor esteve na Rússia em visita oficial. Percebemos ter sido uma viagem significativa e calorosa. Como o senhor avalia essa sua última visita e o seu último encontro com o presidente russo Vladimir Putin?
Hamid Karzai: Visitar a Rússia foi uma enorme oportunidade, algo que eu queria fazer há muito tempo. A hospitalidade refletiu as profundas tradições do povo russo, tanto por parte do governo quanto das pessoas em geral, bem como das instituições que me convidaram.
Sputinik: O senhor apoia a proposta do Presidente Vladimir Putin em formar uma aliança para combater o terrorismo e o Estado Islâmico, que surgiram nos países árabes e estão chegando à Europa?
Hamid Karzai: Sim, dou o meu grande apoio a ele nessa questão. Se o Ocidente e os EUA estão sinceramente lutando contra o terrorismo, eles devem se juntar à Rússia e à China, e ouvir o Presidente Putin.
Sputnik: O senhor falou com grande entusiasmo sobre a Rússia e chamou Vladimir Putin de amigo. Como o senhor enxerga o futuro das relações entre Rússia e Afeganistão em termos de cultura, economia, ciência e política?
E nós querermos que a Rússia se reafirme para tomar uma forte posição e se fazer presente nessa região, como o era no passado.