"O modelo de negócio [na Stratfor] é destinado a fomentar discussões sobre os temas mais atuais e oferecer o que deve ser informação privilegiada sobre os acontecimentos geoestratégicos", Becker disse à Sputnik. "Focando-se nas notícias populares na mídia principal, a Stratfor aspira a ser mencionado pela mesma mídia, atraindo mais atenção às suas publicações".
Becker também esclareceu o que a empresa de inteligência faz para que as suas matérias pareçam mais fidedignas do que são na realidade.
"Geralmente, as conclusões categóricas da Stratfor são baseadas em uma linguagem analítica que, ao ser lida de forma cuidadosa, não revela evidências mas sim conjeturas, uso de informações de fontes anônimas e estratagemas linguísticos", disse.
Desta forma, esta estratégia e retórica fazem com que "os leitores acreditem que a conclusão feita pela Stratfor é plenamente provada, enquanto não é".
Por exemplo, se prestamos atenção ao primeiro parágrafo do relatório mais recente que afirma que "a Rússia expandiu a sua presença na Síria". O seguinte trecho foi destacado em itálico pela Sputnik para enfatizar as partes mais demonstrativas.
Segundo Becker, esta afirmação significa muito pouco mas a escolha de palavras para convencer os leitores de algo que a Rússia nunca negou é muito inteligente.
"É muito hipócrita, tendo em conta o facto de que a Rússia confirmou de forma oficial que está transportando cargas militares para a Síria", frisou Becker. "Não é uma novidade. Isso não é uma revelação que provoque condenação, como é apresentado aos leitores, e não requer imagens de satélite".
"A Rússia tem prestado à Síria ajuda militar e tem mantido laços comerciais com a Síria de forma aberta por muitos anos", acrescentou.
"Fortificações terrestres são vistas ao longo de toda a aterrissagem mais oriental. Provavelmente, as mudanças no aeródromo permitirão aceitar aeronaves pesadas de transporte", diz o relatório. "O reforço do aeroporto mostra que Moscou se prepara para instalar suas aeronaves na Síria, se é que não o fez já".
Mais uma vez, não é apresentada nenhuma evidência mas a parte final da frase permite à Stratfor reafirmar a sua hipótese pouco fundamentada com um prognóstico ainda menos fundamentado.
Estratégias semelhantes são usadas em todo o relatório. Se a sua tática pode ser hipócrita, a própria estratégia não parece surpreendente. A empresa tem experiência de fazer afirmações sensacionalistas, inclusive o recente prognóstico sobre o colapso da Rússia, China e a UE antes de 2025. O seu fundador, George Friedman, também predisse uma grande guerra entre os Estados Unidos e o Japão no fim da Guerra Fria, afirmação que não pode ser mais errada.
A empresa de inteligência também tem laços estreitos com a Agência Central de Inteligência (CIA). Vladimir Kozin, chefe do grupo consultivo do diretor do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, disse à Sputnik que a Stratfor "trabalha com a CIA, que conduz uma campanha contra a Rússia".
"A análise sensacionalista da Stratfor, com imagens de satélite e descrições do que se pretenderia mostrar, deve ser visto como é na realidade, uma peça de teatro", disse Becker.
"É um roteiro. É propaganda velada em forma de jornalismo, elaborada por um grupo de professores e oficiais aposentados da inteligência e do Pentágono, que aspiram a trazer mais lucro à sua empresa oferecendo informação privilegiada das notícias mais populares".