Joaquim Levy também sustentou junto a Christine Lagarde a necessidade da criação de uma espécie de fundo de infraestrutura internacional pelo qual os países desenvolvidos aplicariam seus recursos em países emergentes, proporcionando a estes a oportunidade de tornar as suas economias cada vez mais fortes e competitivas.
O economista Roberto Fendt, diretor-executivo do Cebri – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, analisou para a Sputnik Brasil as ponderações do Ministro Joaquim Levy. Para o especialista, ao atingir este volume de reservas internacionais (US$ 375 bi), o Brasil demonstrou ao mundo que soube aproveitar os bons tempos da economia para criar uma poupança forte, e assim pode refutar as avaliações de que o país poderia estar em situação de risco.
Roberto Fendt: Minha primeira observação é de que a Sra. Lagarde, não sei de antes ou depois dessa conversa, mas suponho que antes, apontou que havia dois países problemáticos na América do Sul: a Venezuela, cujo PIB deve decrescer cerca de 10% este ano (é uma queda do PIB de proporções da Grande Depressão); e o outro país, que também está com a economia fora do lugar, o Brasil, cujo PIB deve cair, na opinião da Sra. Lagarde, algo em torno de 3% este ano. Ou seja, na opinião dela, a situação não está muito boa.
Mas as palavras do ministro fazem sentido. Por que isso? Em primeiro lugar: durante o primeiro Governo do Presidente Lula, a economia mundial estava bombando. O Presidente Lula assumiu o Governo e recebeu uma herança benéfica, advinda, entre outras coisas, da estabilidade do poder de compra do real. Ele assumiu sob a égide da Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada no Governo do seu antecessor. Com isso, a economia estava muito sólida. Quando o Presidente Lula assumiu o seu primeiro mandato, foi o período em que o preço das commodities, as matérias-primas que o Brasil vende, estava bombando, estava nas alturas. Tudo o que nós queríamos vender, os chineses compravam e pagavam a preço de ouro, e nós acumulamos um volume de reservas muito grande em relação às nossas necessidades de pagamentos ao exterior. Provavelmente foi um dos períodos melhores sob este critério.
Hoje, nós estamos bem ou mal? No que diz respeito à balança de pagamentos, eu diria que nós estamos muito melhor do que estivemos num passado mais remoto, há 10 anos ou até mais, 20 anos atrás. Por que isso? Porque no Governo que antecedeu o do Presidente Lula introduziu-se, por obra do então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o regime de câmbio flutuante. Se nós tivermos, por algum motivo, uma saída de capitais do Brasil ou não conseguirmos exportar o suficiente para pagar o que estamos importando, o câmbio desvaloriza; ao desvalorizar o câmbio, diminuem as importações, estimulam-se as exportações e a situação se resolve sozinha, não precisa de nenhum salvador da pátria, o próprio sistema de câmbio flutuante resolve o problema.
O que fica no ar é que o período de bonança não permitiu que nós aprendêssemos que o setor público não tem um cheque em branco para gastar à vontade, quer por vias legais, quer por vias das “pedaladas”. Há limites para os gastos, e isso nós não conseguimos aprender. Quanto a isto, nós estamos extremamente vulneráveis, nós não temos defesas, as dificuldades em cortar despesas são monstruosas, o Congresso se nega a votar os vetos da Presidenta Dilma.
O ano está acabando e o ajuste fiscal mal começou, atingiu só a periferia do problema e esse é o grande problema hoje. Concordo que o ministro está correto: com relação ao balanço de pagamentos nós estamos muito mais seguros hoje do que estivemos em outros momentos no passado. Com relação ao lado fiscal, nós estamos muito piores do que estávamos até 2002, quando a Lei de Responsabilidade Fiscal impedia todo tipo de barbaridades que foram cometidas nesses últimos anos, particularmente em 2014.