Ao falar sobre o assunto em conversa exclusiva com a Sputnik Brasil, o Deputado Federal Enio Verri, presidente do Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores no Estado do Paraná e professor de Economia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), afirma que a presidente está certa ao cobrar uma atitude de compreensão do Poder Legislativo ante o momento econômico do país, e assegura que o PT está unido e coeso em torno de Dilma Rousseff.
Enio Verri: O apelo que a Presidenta Dilma faz não se prende só aos vetos. Este ano de 2015 não tem sido um ano fácil para a economia do país e o Congresso Nacional não tem sido um grande parceiro. Se nós pegarmos a questão dos vetos, um deles, que é contra o aumento de quase 80% para os servidores do Judiciário, foi aprovado pelo Senado e coube à Presidenta Dilma vetar. E voltou agora para o Senado manter o veto. Mas, além disso, ocorreram vários outros projetos que foram aprovados nas Comissões ou em Plenário, que de maneira nenhuma mostra uma sensibilidade, em especial da Câmara dos Deputados, com o que está acontecendo na economia do Brasil. Na semana passada foi aprovado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados um projeto que cancela os programas de demissão voluntária de 1996 até hoje. Para quem não sabe o que é isto, é quando um servidor da União recebe uma verba substancial para sair do Governo – além das rescisões, prêmios e tudo o mais. Ele saiu, por exemplo, em 1997, 1998, e agora este projeto que foi aprovado vai trazê-lo de volta ao emprego, defasado em termos de conhecimento, prestes a se aposentar – e volta para o cargo. São projetos como este que causam danos muito grandes ao erário e, num momento em que o mercado é sensível às inseguranças que estão ocorrendo no mundo e em especial no Brasil, ficam ainda mais preocupantes. Por isso, o apelo que a Presidenta Dilma faz é um apelo não só de Governo, mas de Estado, para a preocupação com que se mantenham os vetos mas também que não se criem mais pautas-bombas como essas que foram criadas.
S: O veto que mais preocupa a presidente é o aumento dos salários do Poder Judiciário?
EV: Neste momento é. É o mais alto impacto de alguns milhões imediatamente, e isso num momento de ajuste econômico. Primeiro, que é impossível ser pago, o que manda uma mensagem para o mercado muito negativa, considerando que os poderes não estão trabalhando de forma homogênea na preocupação com o que está acontecendo na economia do país. É o veto Número 26 e deve ser colocado em pauta segundo declarou o presidente do Senado.
EV: Deve ser isso. Claro que na política data é uma coisa que se ajusta. Mas há uma intenção por parte dos partidos da base aliada, que não estiveram presentes na última eleição e contribuíram para que não houvesse quórum. Houve uma reunião com a liderança do Governo, e a expectativa é de que na próxima semana, na terça-feira, 13, às 19h, ocorra esta reunião do Congresso, e aí, sim, com todo o quórum necessário.
S: O PT está coeso na aprovação desses vetos?
EV: 100%. Não há problema nenhum. Na sessão de quarta-feira, 7, o índice de participação foi de 89% – porque alguns parlamentares estavam doentes e não se encontravam em Brasília –, ou seja, 100% dos parlamentares do PT que estavam em Brasília estavam lá para votar favoravelmente ao Governo.
S: E os demais partidos da base aliada?
EV: Houve partidos com 100%, como o PCdoB; o PDT, com 60%; o PMDB, com 60%. Foi uma participação alta, mas alguns partidos tiveram uma participação baixa, como o PP, o PSD, o PR, o PTB, em especial esses quatro tiveram uma participação pequena. Mas o Ministro Ricardo Berzoini já teve um diálogo com eles para que na semana que vem eles estejam presentes para que haja o quórum necessário e sejam mantidos os vetos.
EV: Acho que o motivo não foi só esse. É claro que o senador tem razão, afinal de contas chamar duas sessões e não dar quórum não é correto, sabendo que os parlamentares estavam na Casa. O senador tem toda a razão em emitir este tipo de opinião. No lugar dele eu faria a mesma coisa. Mas me parece que é muito mais resultado do fato de não ter havido tempo ainda de os ministros que fazem a articulação política sentarem com esses partidos, com suas direções, para conversar melhor. Acho que tenha sido muito mais por falta da construção do diálogo, pelo pouco tempo de presença dos ministros em suas pastas, do que por outro motivo. Alguns ministros tomaram posse na terça-feira, 6, não tem nem uma semana. Por isso não houve tempo de eles articularem suas agendas para fazer aquilo que lhes cabe, que é a construção política.
S: O senhor participa desta avaliação da presidente da República de que o Congresso Nacional tem uma grande responsabilidade perante a recuperação da economia brasileira?
EV: Sem dúvida. Não só o Congresso Nacional, como o Executivo, que eu entendo que já está fazendo sua parte, e o Judiciário, que também precisa começar a contribuir com redução de despesas para ajudar nesse momento importante da vida do Brasil.
EV: Há um termo na economia que se chama “ceteris paribus”, que quer dizer o seguinte: se as coisas se mantiverem como estão, ou seja, a troca dos ministros, a organização e a semana que vem votando e mantendo os vetos, mandando esta mensagem ao mercado, no final do ano que vem nós já começaremos a ter um novo retrato da economia. O que precisa agora é reconstruirmos a confiança porque o investidor é atraído muito mais por questões psicológicas do que concretas. Neste momento de insegurança política também há insegurança econômica e o investidor se retrai. Acredito que, organizando a questão política, a questão econômica flui com mais facilidade. Mas não há milagre, não será este ano que teremos o crescimento positivo do PIB. No ano que vem o primeiro semestre será muito difícil. Iremos apontar algum crescimento a partir do final do segundo semestre do ano que vem.