Em comunicado oficial, a Fitch explicou que “o rebaixamento reflete a elevação do endividamento do Governo, o aumento dos desafios para a consolidação fiscal, a piora do cenário econômico e a crise política”.
A respeito do assunto, Sputnik Brasil ouviu os economistas Roberto Fendt, diretor-executivo do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), e Heitor Silva, professor da Faculdade de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Fendt afirma que a nota da Fitch não surpreende, e Heitor Silva adverte que as avaliações das agências de classificação de risco devem ser vistas com cautela.
Roberto Fendt comenta:
“A Standard & Poor's havia rebaixado a nota do Brasil, e, ao fazê-lo, nós caímos para o grau especulativo. No caso da Fitch, não, porque ela tem um grau intermediário e nós estamos agora na ‘beiradinha’.”
“O que provocou isto?”, indaga Roberto Fendt. E ele responde: “Dois fatos: 1 – as enormes incertezas no plano político; e 2 – as certezas das dificuldades que o país está atravessando no plano econômico. Há uma relação entre os dois no entender da agência. Ela entende que essa incerteza política torna mais difícil chegar a uma solução para os problemas do endividamento interno do Brasil. A ocorrência de incertezas no plano político dificulta o plano de ajuste necessário para novamente colocar o país numa trilha de sustentabilidade para o seu endividamento. A Fitch reconhece que há fatores positivos também, e o principal deles é o nível de reservas. Temos reservas internacionais muito grandes.”
Na avaliação de Roberto Fendt, o fato de o Brasil ter reservas internacionais de cerca de US$ 375 bilhões pesa muito:
“Pesa muito porque numa situação em que o país tem poucas reservas ele não só passa a ter um risco de inadimplência do seu endividamento, tanto em moeda estrangeira quanto em moeda nacional, mas também corre o risco de ter uma séria crise no balanço de pagamentos, e aí cessam os empréstimos internacionais e o país tem dificuldades de comprar a prazo no exterior, e todas as outras mazelas que vêm em consequência disso. No caso brasileiro, uma crise no balanço de pagamentos é praticamente – eu não diria impossível porque não se aplica neste caso concreto – mas é de probabilidade quase zero, porque o câmbio é flutuante, o país não precisa usar reservas internacionais.”
O Professor Heitor Silva explica a questão sob o enfoque dos investidores – os megainvestidores – que seguem as indicações das agências de classificação de riscos:
“O problema desse rebaixamento é porque principalmente os fundos de pensão têm que recolher uma parte dos recursos que eles tomam das pessoas que contribuem todo mês para suas futuras aposentadorias, e colocar em papéis que tenham um alto grau de segurança – no mínimo, o grau BBB [da Fitch]. Quando o Brasil é colocado como BBB- [pela Fitch], ele não pode mais compor estas carteiras com esta finalidade, e isso significa um impacto sobre estes papéis, pois um investidor que tenha muita força no mercado não pode comprar estes papéis.”
À pergunta sobre como isso é calculado, o Professor Heitor Silva explica: