As declarações da ministra foram dadas ao lado da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde, durante o evento "Diálogo Agrícola Brasil-Estados Unidos", realizado na quinta-feira, 15, em Brasília, e promovido pela CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Na ocasião, a ministra citou o levantamento feito pela CNA, que mostra que, se a lei americana fosse acionada hoje, provocaria uma queda de 2,7% no preço da soja.
“Os Estados Unidos são um país soberano e têm toda a sua autonomia para fazer a lei que bem entenderem, mas nós temos a OMC – Organização Mundial do Comércio, que regula os negócios entre os países e coloca condições e restrições não só aos americanos mas também aos brasileiros, na prática de ações que possam prejudicar o comércio internacional”, afirmou Kátia Abreu. “Nós verificamos, depois de um longo e profundo estudo que a CNA fez ainda no ano passado com relação às duas leis, a Farm Bill e a PAC europeia, e isso nos trouxe muita preocupação, porque não podemos inicialmente tomar nenhuma medida contra a lei, antes que ela seja praticada, porque os mecanismos são aprovados em lei, mas eles só ocorrerão se houver distorção de preço, se houver queda de preço, enfim se houver algum problema. Aí os americanos poderão ou não acionar a sua lei. Apenas depois dessa lei acionada é que nós poderemos pensar em algum mecanismo junto à OMC para proteger os produtores do Brasil.”
Após a crítica, Kátia Abreu falou sobre a responsabilidade dos dois países com a segurança alimentar do mundo, e defendeu maior diálogo e harmonização dos processos para ampliar o comércio entre Brasil e Estados Unidos.
“Esses dois países não devem ser encarados como adversários, inimigos ou concorrentes, muito pelo contrário. Nós temos as nossas funções complementares, responsabilidades mútuas com o mundo, e nós devemos harmonizar cada vez mais o nosso diálogo. A FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura espera que o Brasil aumente a produção em até 40%, até 2050. Nós temos condições de aumentar até 70% a nossa produção, tranquilamente e sem provocar desmatamentos.”
Em entrevista para a Sputnik Brasil, o membro titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, jornalista especializado em assuntos do agronegócio e editor da revista “Animal Business Brasil”, Luiz Octavio Pires Leal, comentou a crítica feita pela ministra à lei agrícola norte-americana e os prejuízos para os produtores brasileiros.
“Essa lei ainda não foi posta em prática. Então, existe uma ameaça, existe uma suspeita, uma possibilidade desse grande prejuízo, não há dúvida. E quando a lei for posta em prática ainda há a possibilidade de o Brasil recorrer à Organização Mundial do Comércio. Pelo que eu conheço da Ministra Kátia Abreu, que é uma pessoa do ramo, ela não está enxergando nenhum drama nisso, mas sim uma situação normal de concorrência entre os dois maiores produtores de soja do planeta. Os Estados Unidos produzem um pouco mais do que o Brasil. A produção de soja dos EUA é de cerca de 89 milhões de toneladas por ano, enquanto que a do Brasil é de pouco mais do que 85 milhões de toneladas anuais, Mas a produtividade é muito parecida. A grande notícia que compensa essa provável má notícia é que os EUA pela primeira vez na história dos dois países liberaram a importação de carne brasileira in natura.”