"Em termos geopolíticos e estratégicos, a Argentina se aproxima das "políticas desenvolvimentistas" do grupo BRICS, com quem, possivelmente, poderá trabalhar em conjunto no futuro . Assim como o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS foi criado para financiar grandes projetos de energia, transportes e desenvolvimento industrial, dando condições para aumentar o volume de comércio, a Argentina também está criando condições para garantir à indústria um mercado suficientemente grande e unificado em nível nacional, permitindo o desenvolvimento e integração da economia local e da América Latina" – garante Quispe.
Sobre este assunto, a Sputnik conversou com o especialistas russo em energia nuclear Sergei Kondratiev, chefe de pesquisa do Instituto de Energia e Finanças da Rússia. Eis o que ele tem a dizer sobre este novo acordo.
Sputnik: O que significa o acordo firmado entre Buenos Aires e Pequim às margens da reunião de cúpula do G-20 para o setor nuclear e a economia da Argentina?
Sergei Kondratiev: Creio que em grande parte isso não se dirá seriamente sobre os indicadores econômicos da Argentina. Já que, atualmente, a indústria argentina não consegue suprir as exigências técnicas do projeto. Portanto, uma parte significativa dos equipamentos deverá ser trazida do exterior. Possivelmente da China, ou de outros países parceiros. Além disso, é provável que os prazos desse acordo sejam bastante longos, já que, atualmente, a Argentina não carece de uma quantidade tão grande de usinas elétricas nucleares. A demanda até aumenta, mas esse crescimento é lento. E tem também a questão do retorno dos investimentos nas condições atuais. Creio que a pergunta atual seja se a China e a Argentina conseguirão resolver todas essas questões durante a fase da organização técnico-econômica dessas usinas.
S: E quais seriam para a China as vantagens do desenvolvimento da cooperação com a Argentina?
S: A China também pretende construir novas usinas nucleares em seu próprio território. Ela dará conta de ambos os projetos?
SK: A China, atualmente, é um dos maiores mercados em volume de construção de novas usinas nucleares. Mas é preciso levar em conta que as empresas chinesas desses setor atuam principalmente no interior do próprio país, tendo uma experiência muito pequena no exterior, que consiste na construção de uma usina no Paquistão. E o acesso ao mercado dos países da América Latina é, provavelmente, muito importante para a indústria nuclear chinesa. É provável que no futuro as empresas chinesas tenham que apresentar referências internacionais, que elas ainda não possuem. Portanto, elas deverão atrair outros fornecedores, possivelmente da Coréia do Sul, ou dos EUA, o que, por sua vez, também irá colaborar com os objetivos de expandir a construção no interior do próprio país. Além disso, a China está expandindo sensivelmente a sua capacidade industrial seguindo metas traçadas antes do acidente de Fukushima, sendo capaz de construir muito mais usinas do que o planejado atualmente. Portanto, a China tem todas as possibilidades de executar o projeto na Argentina, apesar de que uma série de questões sérias relativas a tarifas ou à segurança ainda serão colocadas e poderão frear significativamente a sua realização.