Prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, da aliança política Cambiemos (Mudemos) obteve 51,4% dos votos contra 48,6% do governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, da aliança Frente Para a Vitória (FPV).
No mês que decorreu entre o primeiro e o segundo turnos, as pesquisas de intenções de votos passaram a indicar a inversão da vantagem. Às vésperas do pleito, o favorito passara a ser Mauricio Macri, com significativas diferenças de percentuais sobre o seu concorrente direto, Daniel Scioli. Este, ao reconhecer a derrota e cumprimentar o oponente, na própria noite de domingo, disse que “os argentinos mostraram que querem mudanças.” Já o vencedor, Mauricio Macri, procurou fazer um discurso de conciliação, afirmando que a sua vitória não terá o significado de um “ajuste de contas.”
Em relação às mudanças apontadas por diversas correntes políticas, o jornalista Mário Russo, especialista em assuntos ligados à política e à economia, declarou:
“Mauricio Macri vai marcar um novo ciclo na Argentina. Ele toma posse no dia 10 de dezembro e tem pela frente uma agenda com muitos problemas sérios para resolver. Macri é um político neoliberal, que criou um partido quando exercia o primeiro mandato na prefeitura de Buenos Aires. Na época, ele sentiu que não dava para derrotar Cristina Kirchner e formou uma grande aliança, chamada Cambiemos (Mudemos). Surpreendentemente, ele fez um discurso meio populista, que não é bem a sua linha já que é um político de tendência neoliberal e vem de uma família de empresários. O pai dele, Francisco Macri, é dono de um dos maiores grupos da Argentina, o Grupo Macri, que tem grandes negócios em logística, construção civil e alimentos. É um grupo forte não só na Argentina como no Brasil e no Uruguai. Mauricio Macri pegou essa experiência toda da prefeitura de Buenos Aires em 2007, foi reeleito em 2011 – e fez uma campanha muito vigorosa, voltada principalmente para a camada mais pobre da população que é o nicho tradicional do peronismo e do kirchnerismo, prometendo manter benefícios sociais como renda mínima para idosos e um plano de infraestrutura que ele julga que será um dos maiores da história do país. O problema é de onde ele vai tirar dinheiro para isso porque a Argentina está numa situação de penúria há muito tempo, em vários aspectos. Temos a questão da dívida externa por volta de 140 bilhões de dólares, e as exigências dos fundos abutres de receber US$ 1.3 bilhão, por conta da decisão do juiz Thomas Griesa.
Já o Professor de História e Relações Internacionais Rafael Araújo, da Unilasalle e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em políticas latino-americanas, também acredita em mudanças mas considera muito cedo para se garantir que, com a vitória de Mauricio Macri, o kirchnerismo e o peronismo chegaram ao fim na Argentina:
Sobre o posicionamento de Mauricio Macri em relação à Rússia, ao Brasil e ao Mercosul, Rafael Araújo destacou:
“Sobre o Brasil acredito que as relações vão se manter muito próximas do que são hoje. Mauricio Macri apontou diversas vezes, ao longo da campanha, que o aliado preferencial dele na América Latina é o Brasil. Ele, de uma certa forma, acena para uma negociação, pela manutenção dos laços políticos e comerciais entre Brasil e Argentina, talvez até um aprofundamento disso.
Para mim, os maiores pontos de tensão se darão com a China e com a Rússia, já que Mauricio Macri apontou por diversas vezes durante a campanha que reaproximaria a Argentina da União Europeia e, principalmente, dos Estados Unidos. Neste sentido, um distanciamento dos russos e dos chineses pode ser uma consequência dessa reaproximação, o que considero bem possível de acontecer.
Nesta terça-feira, 24 de novembro, a Presidente Cristina Kirchner receberá o seu sucessor Mauricio Macri na residência oficial do Palácio de Olivos para dar início ao processo de transição. A reunião está marcada para as 19 horas de Buenos Aires, 20 horas de Brasília. A posse de Mauricio Macri na Presidência da Argentina está marcada para a quinta-feira, 10 de dezembro.