Na carta, Dilma reiterou o compromisso do governo brasileiro com o estabelecimento de um Estado Palestino soberano. A Presidenta lembrou que, em 2010, o Brasil reconheceu formalmente o Estado da Palestina e defendeu que haja viabilidade econômica e um território próximo, "com capital em Jerusalém Oriental, convivendo lado a lado, em paz e segurança, com Israel, com base nas fronteiras internacionalmente reconhecidas de 1967".
Dilma promete ainda que o Brasil vai continuar apoiando "ativamente" os esforços para que se alcance "paz justa e duradoura" na Palestina, baseada na "concretização do direito inalienável à autodeterminação do povo palestino".
Sobre a situação de Israel e Palestina, e sobre as posições do Brasil em relação ao conflito palestino-israelense, a Rádio Sputnik Brasil entrevistou o Professor de Relações Internacionais Jorge Mortean, da Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo. O Professor Jorge Mortean é especialista em questões relacionadas ao Oriente Médio.
Jorge Mortean: É uma situação bastante complicada para resumir em poucas palavras mas o que se pode dizer é que tanto israelenses quanto palestinos são vítimas de um conflito muito maior que não lhes pertence só no sentido territorial, ou seja, territórios ocupados ou fronteiras que ficam dançando ano cá ano acolá com conflitos que duram desde o estabelecimento do Estado de Israel. Temos um problema regional maior que são os palestinos que estão refugiados em outros países, que não podem voltar ao seu território ou ao território que assim ficou estabelecido para a criação do seu Estado e temos Israel com um governo muito conservador que tampouco parece ter uma abertura para o diálogo. Fala-se muito de uma quarta Intifada sendo lançada em poucos meses, dizem que o conflito está bem escalonado. Quanto à posição brasileira, nossa diplomacia se mantém bem linear ao longo da história. O Brasil, desde a partilha da região da Palestina, que proporcionou a criação do Estado de Israel, é a favor da solução de dois Estados, sendo que o Estado judeu foi estabelecido de modo mais rápido e com êxito. Os palestinos sofrem com o jogo árabe dos vizinhos que nem lhes compete muito, mesmo porque eles não têm nenhuma estrutura oficial de Estado para poder atuar em corpo diplomático fixo ou representação internacional além do problema já citado dos refugiados nos países árabes circunvizinhos. Voltando ao Brasil, nós mantemos essa posição pois o Brasil sempre pensa no seu soft power, somos conhecidos lá fora por sermos um país que sempre está propiciando um diálogo e paz, sempre está tentando seguir esta linha. Acho que a presidente vem corroborando, assim como os governos anteriores, nesse sentido. A declaração que ela deu é de preocupação no sentido de que o Brasil não quer ver esse conflito escalando por falta de diálogo entre palestinos e israelenses, por conservadorismo de ambos.
JM: Sem dúvida. A meu ver, Israel não voltaria às fronteiras de 1967 porque a regulamentação, a delimitação e demarcação de fronteiras passaria pelo diálogo com países com os quais Israel não tem relações diplomáticas estabelecidas, como o Líbano e a Síria. Tem também a questão das colinas de Golán e face aos problemas que a Síria tem enfrentado, e isso também reverbera e reflete no Líbano, acho que esta possibilidade de diálogo é praticamente impossível, ainda mais agora com a reeleição do conservador Primeiro-Ministro israelense Benjamin Netanyahu ao governo do Estado.
S: O senhor não acredita que seja possível estabelecer a paz a curto prazo?
JM: A curto prazo, não. Ao contrário. Como já disse, fala-se até de uma quarta intifada, ou seja, uma quarta onda de levante do povo palestino com relação à ocupação israelense nos territórios prometidos para a criação de seu Estado.
S: Qual seria a solução para esse conflito, a intermediação da ONU?
JM: A ONU tem se mostrado um pouco ineficaz nesse sentido, justamente por entender também que israelenses e árabes acabam sofrendo pressões tanto do ocidente quanto dos árabes para que esse conflito perverso acabe sendo perpetuado.