Lula, que na quinta-feira, 3, foi recebido no Palácio Guanabara pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, fez sérias críticas ao presidente da Câmara, afirmando, entre outras observações, que “ele não está pensando no Brasil mas somente em si mesmo”.
Sobre a reação de Lula e do Partido dos Trabalhadores ao acolhimento do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, Sputnik Brasil ouviu um dos parlamentares mais próximos aos dois presidentes, Paulo Pimenta, do PT do Rio Grande do Sul. De acordo com o parlamentar, o PT fechou questão em torno da preservação do mandato da Presidenta Dilma. “e, mais do que isso, da defesa da democracia e do repúdio a quaisquer tentativas de golpe no Brasil”.
Paulo Pimenta: Na minha opinião, é absolutamente claro que a motivação que levou o Presidente Eduardo Cunha a tomar esta decisão em nada, em nenhum aspecto, configura o interesse público. Isso por si só já caracteriza o abuso de poder e o desvio de finalidade. Sempre que um agente público, no uso de suas prerrogativas, toma decisões que não tenham uma justificativa pública e sim tendo como único motivo o seu interesse pessoal, isso caracteriza o abuso de poder. Neste caso particular, isto ocorre de maneira ainda mais grave porque é uma prerrogativa exclusiva do presidente da Câmara a possibilidade de aceitar o pedido de impeachment de um presidente da República. E como a sociedade brasileira acompanha, neste último período, na medida em que se agravaram as denúncias contra o presidente da Câmara e a cada semana novas denúncias surgem e ele vai perdendo o apoio dentro do Congresso Nacional, e ficou claro que ele não teria maioria no Conselho de Ética, ele parte para um gesto como este, claramente no sentido de retaliar o Partido dos Trabalhadores e o Governo, que não aceitaram estabelecer com ele um jogo de troca de favores não republicano. A pressão, esse constrangimento a que ele vinha submetendo o Congresso Nacional, os partidos políticos, e tentou submeter o Governo, precisava ser denunciado à nação e foi isto que aconteceu. A abertura do processo de impeachment é um gesto absolutamente inconsequente, com profundas repercussões no cenário macroeconômico, na política nacional. E, por incrível que pareça, isto tudo ocorre como uma estratégia de defesa desse cidadão que responde a inúmeros processos criminais no Brasil e é investigado fora do Brasil e que não tem limite para buscar uma estratégia que possa impedir que a responsabilização criminal ocorra em função desses crimes que ele cometeu.
PP: O Presidente Lula está coberto de razão, e eu vou mais adiante: não é a defesa do mandato da presidente da República, é a defesa da legalidade, a defesa da Constituição. Nós estamos diante de uma tentativa de afrontar a Constituição Federal e a democracia brasileira, e é contra isso que nós nos levantamos. Não só integrantes do Partido dos Trabalhadores, não só integrantes de partidos da base aliada, mas já são vários intelectuais, juristas, constitucionalistas, pessoas que não têm vínculo com o nosso partido ou com o nosso Governo, inclusive figuras proeminentes da oposição que já vieram a público denunciar o golpe, denunciar esta gravíssima tentativa de subjugar o país aos interesses de uma pessoa que responde a inúmeros crimes e que nós não podemos nos calar diante desta situação. Devemos responsabilizá-lo de todas as maneiras por esta atitude insana, e foi desta maneira que o Presidente Lula caracterizou o ato do Presidente Eduardo Cunha.
PP: Nós vamos transformar este episódio numa luta pela democracia, numa luta pela legalidade, numa luta em defesa da Constituição. Nós entendemos que o que está em risco não é o mandato da Presidenta Dilma, é algo que vai além disso, e o Presidente Lula, como democrata que é, como uma das principais lideranças populares deste país, certamente estará junto conosco, à frente deste processo, liderando uma ampla mobilização social em defesa da Constituição, em defesa da democracia.