A tendência de rebaixamento prevista pela Moody’s é atribuída pelos analistas à crise política que está dominando o Brasil e, em função disso, paralisando a economia. Desta forma, sugerem os especialistas que o Governo assuma o controle da situação para que o atual imobilismo dê lugar à retomada do crescimento econômico.
Sputnik: Cresce a avaliação entre analistas políticos e econômicos de que urge, para o Governo brasileiro, conter a crise política para que a economia possa retomar o seu rumo ou, pelo menos, perseguir a meta de crescimento.
Roberto Fendt: A crise política parece não ter fim. Há um clima de enorme insegurança com relação ao que pode acontecer. Eu diria que começa a haver um clima de fadiga na população com esse horror sem fim. Não se sabe o que vai acontecer, e enquanto não se souber fica tudo parado e então há uma dupla conjugação desse fato de natureza política em que a tendência hoje da população e também de todos os tomadores de decisão e os empresários, de que uma solução é melhor do que nenhuma solução. Enquanto não tivermos uma solução, persistiremos nesse estado de coisas, o investimento não é retomado e a recessão vai se aprofundando. Outro fato, relativamente novo, é a dificuldade de colocar em pé o ajuste econômico. Hoje os jornais noticiaram que o Ministro Joaquim Levy teria comentado que, se ele não conseguir fazer passar uma meta de superávit primário positiva, muito pequena – 0,7% do PIB –, mas uma meta positiva para 2016, ele estaria disposto a deixar o cargo. Adiciona-se mais um elemento: mal ou bem todos sabiam exatamente o que pensa o Ministro Joaquim Levy, que não mudou o seu ponto de vista em momento algum. Ele é favorável à produção de um superávit primário que recolocaria um pouco nos eixos a visão das pessoas com relação ao futuro. O superávit é muito pequeno, ele não resolveria problemas mas indicaria que estaríamos no caminho certo. Dificilmente hoje esta proposta seria aprovada por uma razão simples: todos os corações e mentes estão preocupados com o destino político de duas pessoas: a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados. Qualquer outro assunto, infelizmente, torna-se secundário diante da situação atual. Eu vejo com certa preocupação que não vai ser possível, hoje, dizer o que vem pela frente. O que precisa vir pela frente é muito simples: é necessário que haja rapidamente uma solução para a crise política, sem isso não será possível dar nenhuma solução de natureza econômica, e a solução da crise política passa por encontrar, antes do recesso parlamentar, meios e formas de verificar para que lado a política vai.
RF: Não há a menor dúvida, e por uma razão simples: diferentemente de outros lugares, o Governo aqui tem um peso muito grande na economia, não é como em outros países em que, embora o Governo tenha peso, ele não é crítico. Aqui é. Aqui, se o Governo não investe, não muda determinadas políticas que estão em vigor, nada funciona, ninguém se arrisca a investir, e vai se espalhando um sentimento ruim que vem sendo reforçado agora pela ascensão da inflação a um patamar superior a 10%, uma inflação de dois dígitos que começa a assustar as pessoas. Estamos diante de um risco de agravamento das condições, e é por isso que a agência Moody’s passou a dar um viés negativo ao Brasil já imaginando que vai ser difícil, num lapso de tempo relativamente curto, sanar todos esses problemas. Tudo depende um pouco de como a política vai perceber as consequências dessa inação. Se amanhã se chegar a uma conclusão com relação aos principais fatos, se for para um lado ou para o outro, eu creio que o cenário se inverta e a agência passe a dar um prazo maior para tomar uma decisão.