O professor de História e Relações Internacionais da Unilasalle e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rafael Araújo, comenta que desde a campanha eleitoral Mauricio Macri já sinalizava que as relações entre a Argentina e a Venezuela não seriam nada amistosas. E por isso, diz o especialista, não causa surpresa a troca de acusações entre Macri e Delcy Rodríguez na Cúpula.
“Essa atitude de Mauricio Macri expressa o que ele já havia apontando desde o período eleitoral”, diz Rafael Araújo. “Já se posicionava bastante crítico em relação ao Governo de Nicolás Maduro. De fato, é a primeira rusga entre a Argentina e a Venezuela, e talvez estejamos entrando numa nova fase da história sul-americana, em que argentinos e venezuelanos terão alguns embates em torno de divergências políticas, de visões econômicas e de relações internacionais.”
Para Rafael Araújo, a discussão entre os dois países é uma questão muito polêmica. O especialista disse que não vê com bons olhos o fato de Mauricio Macri, no início do mandato, já se envolver em embates com a Venezuela.
“Eu creio que o Mauricio Macri não deveria ter logo no início do seu mandato puxado essa polêmica com a Venezuela, mas diante do que ele falou durante o período eleitoral, é uma atitude no mínimo já esperada. Macri está tomando uma posição num assunto que só diz respeito aos venezuelanos.”
Ao ser questionado se a Venezuela já contava com essa manifestação contrária por parte da Argentina, o especialista disse achar que sim, pela já conhecida postura de Macri.
“Eu penso que de fato o Governo da Venezuela já veio armado, já esperava essa atitude de Macri. De certa forma, Macri se coloca como porta-voz internacional dos críticos ao Governo de Nicolás Maduro.”
Sobre a possibilidade de o desentendimento entre Argentina e Venezuela causar um enfraquecimento no Mercosul, o Professor Rafael Araújo não acredita que o atrito cause rachas no bloco.
“Eu não diria um racha, mas Mauricio Macri também não pode entrar ‘com o pé na porta’ nesse momento, porque há uma atitude bem imparcial dos presidentes sul-americanos em relação à Venezuela. Se para alguma coisa a derrota eleitoral do Governo de Nicolás Maduro nas eleições parlamentares serviu foi para mostrar que lá não há ditadura.”
“Eu acho que ainda não há uma briga grande. É o pontapé inicial para uma situação que pode se ampliar. De fato, Brasil e Uruguai devem agir como bombeiros, no sentido de evitar que questões políticas internas da Venezuela, que dizem respeito somente aos venezuelanos, interfiram nas relações do Mercosul, da Unasul ou das relações bilaterais entre os países.”