Nicolás Maduro vai convocar a OPEP para enfrentar “manobras dos Estados Unidos”

ENTREVISTA COM JOSÉ MAURO DE MORAIS
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As sucessivas depreciações das cotações do barril do petróleo levaram o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a recomendar aos seus ministros um pedido de convocação dos demais países-membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para opor uma reação a essas baixas.

Maduro está convencido de que “manobras dos Estados Unidos estão causando as reduções e prejudicando a economia de países emergentes como a Venezuela.”

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Sobre a depreciação dos preços do petróleo (esta semana, as cotações chegaram a cair para até 24 dólares o barril) e a atitude do líder venezuelano, Sputnik Brasil ouviu o economista José Mauro de Morais, coordenador de Estudos da Área de Petróleo e membro da Diretoria de Estudos Setoriais do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Morais sustenta que os preços do barril de petróleo vêm caindo porque “a oferta está muito superior à procura, situação que a própria OPEP decidiu bancar”.

Para especialista do IPEA, “o presidente da Venezuela tem todo o direito de pensar no bem da economia do seu país, mas certamente enfrentará muitas resistências na OPEP para que a entidade reveja a sua posição atual”. 

“É possível que um pedido de Nicolás Maduro e uma reunião dele com a OPEP levem a alguma decisão da Organização de finalmente começar a diminuir a produção”, diz Morais. “Se a ação de Maduro de provocar a reunião não leve imediatamente à decisão de diminuir a produção com o fim de aumentar os preços, pelo menos pode despertar na OPEP um sentimento de que talvez esteja na hora de reverter a decisão de novembro de 2014, quando resolveram não diminuir a produção como uma tentativa de reduzir a produção dos Estados Unidos. Parece que esse objetivo da OPEP está sendo conseguido, com relação ao óleo de xisto nos EUA. Desde que os preços caíram abaixo dos US$ 50 nos EUA, há um prejuízo relativamente grande nos produtores de óleo e de gás de xisto porque o custo de produção do óleo de xisto nos EUA é maior que o custo de produção de óleo, por exemplo, no Oriente Médio. Há uma ideia de que um custo mínimo seria em torno de US$ 50 na produção de óleo de xisto. É claro que há outras regiões de produção em que o custo seria menor, principalmente tendo em vista que a redução de preço leva a uma redução de custos, a uma tentativa de diminuir custo em geral e a uma melhoria das tecnologias aplicadas, de tal forma que essas novas tecnologias diminuam mais ainda o custo de produção. Isso está acontecendo nos EUA. Só que agora a redução foi tão dramática que os preços do petróleo a US$ 28, US$ 30, se encontram em seu nível mais baixo nos últimos 15 anos. Há a notícia também de que muitas plataformas de perfuração de rochas de xisto nos EUA já estão fechando, não estão conseguindo suportar a baixa demanda. Então, é possível que esse objetivo da OPEP de diminuir a produção de gás de xisto nos EUA já esteja em grande parte alcançado.”

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Quanto às afirmações de Nicolás Maduro, de que as pressões dos EUA visam a abalar os países produtores de petróleo, José Mauro de Morais comenta:

“Na verdade, o mercado é que está funcionando, e não uma interferência tão grande dos demais países, dos Governos, que possam interferir numa situação tão dramática de queda de preços assim. Na verdade, o mercado funciona. A produção cresceu muito depois de 2008, 2009, a produção do óleo de xisto nos EUA alcançou níveis recordes, por conta, é claro, do preço de US$ 110 o barril. Podemos imaginar que a um custo de produção de US$ 50, US$ 55 e até menos em alguns casos, e um preço de venda de US$ 110, é claro que isso foi o fator principal que estimulou enormemente os investimentos no gás e no óleo de xisto nos EUA. Foi o próprio mercado com seus preços altos, com a alta demanda chinesa de petróleo, que determinou o aumento da produção em geral e o excesso de oferta, e que levou, em agosto de 2014, ao começo da queda dos preços.”

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