Antes do acidente as condições do rio já não eram muito boas, em especial por causa da contaminação por esgoto e metais provenientes de atividades mineradoras no entorno, mas o mar de lama piorou muito a situação, afirma Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da fundação. Segundo ela, não há dúvida de que os indicadores observados nesse levantamento são resultado da contaminação pelos rejeitos de minério da Samarco.
Para checar isso também foram feitas coletas em afluentes do Rio Doce antes da área do rompimento da barragem, que serviram para comparar com os pontos afetados. Foram eles que receberam a nota "regular". "Nesses locais há concentração de metais, mas não acima do que prevê a lei. O material que saiu da barragem alterou completamente a qualidade da água. Dá para garantir com segurança que a condição ruim da água até Regência é consequência do rompimento da barragem", explica Malu.
Malu lembra que isso não significa que a lama seja tóxica, expressão que foi atribuída várias vezes nos dias seguintes ao acidente. "Esses metais pesados são encontrados na natureza em geral em concentrações que não afetam a saúde. Mas as coletas mostraram que há vários pontos fora do padrão, o que torna a água imprópria para o consumo humano e animal. Podem afetar rins estômago", diz.
Ela afirma que o que mais impressionou nos resultados, no entanto, foi a persistência da lama. Esperava-se que com o início das chuvas ela iria se dispersar, mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, a lama que caiu nas margens agora está sendo carreada para dentro da água. E mesmo a que já tinha se depositado no leito não está diluindo. Ao longo das coletas, os pesquisadores encontraram depósitos de sedimentos de 40 centímetros a 3 metros de altura. "A lama está impermeabilizando o leito do rio e mesmo com as chuvas não vemos o rio se regenerar. E para piorar ele segue recebendo mais metais pesados da lama do entorno", relata.
As coletas foram feitas entre os dias 6 e 12 de dezembro, em uma expedição que contou com o apoio da Ypê Química Amparo, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, da ProMinent Brasil e de outros grupos de especialistas voluntários, como o Giaia (Grupo Independente de Avaliação de Impacto Ambiental). As análises foram feitas logo depois e repetidas na semana passada, informou Agência Estado.