Para isso, afirma o texto da Declaração, será preciso equilibrar os esforços em várias áreas para criar um ambiente favorável para os negócios.
A Sputnik contatou o empreendedor e cientista geopolítico Pável Grass, da Universidade PUC-Rio. Para ele, o ambiente econômico atual não é muito favorável para mudanças drásticas:
“O Brasil está mergulhado em crise profunda, tanto na economia, como na gestão interna política e isso tenderá a se refletir numa menor participação, ou, melhor, numa participação menos ativa do país em fóruns internacionais, incluindo BRICS. A situação da própria Rússia também não é favorável no plano econômico e político, o que contrairá declarações ou apresentações de grau mais acentuado nos BRICS”.
De acordo com o professor Grass, a África do Sul pode se tornar o protagonista político, econômico e até científico, “propondo novos projetos e aumentando sua participação em outros já existentes”.
A área em que maior progresso pode ser esperado em 2016 é a ciência: para Grass, que é também sociólogo e geopolitólogo, “é a mais concreta, a área mais promissora e que poderá trazer bons frutos a médio e longo prazo”. Segundo o cientista, a Índia “possui ótimos indicadores e centros científicos de referência mundial”, fato que faz este país importante para o desenvolvimento científico e tecnológico internacional.
Neste sentido, vale lembrar que o primeiro evento do ano da presidência russa nos BRICS foi um encontro em grande parte dedicado à ciência e tecnologia (mesmo se o lema da conferência foi “Parceria econômica dos países dos BRICS como base de um mundo multipolar”).
Depois, em outubro, foi anunciado o projeto da Rede Universitária dos BRICS. O projeto foi vocalizado primeiro pelo reitor da Universidade das Relações Exteriores da Rússia (MGIMO), Anatoly Torkunov, e depois reiterado na Cúpula Global das Universidades dos BRICS, primeiro evento desta envergadura na história do grupo. A Cúpula teve a participação de reitores e representantes de mais de uma centena de universidades dos cinco países do grupo.
Um ano antes disso, em dezembro de 2013, representantes de universidades brasileiras visitaram a Rússia para preparar um acordo geral sobre o fomento à cooperação nas áreas acadêmica e científica, com uma ênfase especial na internacionalização.
O ano 2015 terminou com a implementação do sistema de navegação por satélite russo Glonass em todo o território do país – inclusive na Crimeia e na cidade de Sevastopol, que passaram oficialmente a integrar a Federação da Rússia em março de 2014, depois de um referendo. Os responsáveis pelo Glonass estudam a harmonização do sistema com o análogo chinês BeiDou; a América Latina, segundo várias estimativas, pode ser abrangida toda em um prazo pequeno. Duas antenas do Glonass estão situadas em solo brasileiro.
Economia para segurança mundial
Os BRICS se manifestaram como um grupo informal que defende os princípios de um mundo multipolar. Há dois instrumentos financeiros criados para sugerir uma alternativa aos já existentes Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional. São o Arranjo Contingente de Reservas e o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NBD).
O NBD começará a emitir créditos já em abril do ano em curso. O intuito não é só ajudar os países-membros do grupo, senão os créditos podem ser destinados a projetos ligados ao desenvolvimento da infraestrutura de países que não sejam membros.
Aqui surge uma pergunta que faz o sociólogo Pavel Grass: “Por que não pensar em um esforço coletivo dos BRICS para reconstruir a infraestrutura na Síria, Líbia e Iraque?”. Segundo o cientista, isso poderia “aumentar ainda mais a influência russa na região” e “abrir espaço para o capital brasileiro e para as empresas de construção civil do Brasil naquela região”.
“Eu creio que é necessário planejar agora o que será feito na Síria e no Iraque num período pós-ISIS (sigla em inglês do grupo terrorista Daesh, também conhecido como “Estado Islâmico”), e por quem”, ressalta Grass.