Correa propôs a seus colegas chefes de governo e estado que a CELAC substitua a OEA (Organização dos Estados Americanos) como órgão representativo dos interesses dos países latino-americanos e caribenhos. Rafael Correa foi além, afirmando que a OEA representa os objetivos dos Estados Unidos e, assim, este país deve ficar de fora da nova estrutura. A proposta de Rafael Correa foi analisada pelo Professor de Relações Internacionais Jonuel Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense.
Para o especialista, a abordagem desta questão já era esperada:
“A exclusão dos Estados Unidos da representação dos países das Américas já estava subentendida desde que a CELAC foi criada em 2010. É uma tentativa de sair um pouco daquele círculo vicioso da OEA que, de fato, era um instrumento de política exterior dos Estados Unidos e, embora tenha se democratizado, ficou com muitas marcas anteriores, ou seja, o governo americano tem muita dificuldade em desmentir sua política anterior. A CELAC foi criada para libertar os demais países das Américas da influência dos Estados Unidos sobre a Organização dos Estados Americanos. Isso, no entender de alguns dos fundadores, não excluía a possibilidade de a OEA continuar funcionando, de que as Américas, incluindo Estados Unidos e Canadá, continuassem a ter um órgão representativo e que a CELAC funcionasse mais como elemento de defesa da América Latina e do Caribe, como força de pressão para democratizar e atualizar a OEA. Tornou-se evidente que todo o sistema pan-americano deve ser revisto, reexaminado, e os Estados Unidos têm de pensar seriamente não só na revisão de sua política internacional mas, sobretudo, nos seus vizinhos. É uma tarefa que já não vai incumbir ao Presidente Barack Obama mas a quem vier a substituí-lo.”
Na opinião do Professor Jonuel Gonçalves, a possível exclusão dos Estados Unidos deste órgão representativo poderá afetar um outro país da América do Norte:
“Geralmente só se fala no afastamento dos Estados Unidos mas este processo acabaria envolvendo também o Canadá. O Presidente da Bolívia, Evo Morales, é favorável à mesma tese e o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também. O governo anterior da Argentina, da Presidente Cristina Kirchner, também era favorável a um grande reforço da CELAC ainda que em prejuízo da OEA, o que se acentuou quando começou o litígio entre Buenos Aires e Washington sobre o congelamento de bens da Argentina. O governo argentino considerava que a diplomacia norte-americana estava muito agressiva em relação aos demais países das Américas. Com a mudança de governo na Argentina, eu não sei qual será a posição do atual Presidente, Maurício Macri, que procura manter boas relações com Washington.”
Para o Professor Jonuel Gonçalves, a OEA se tornou anacrônica:
“A entidade parou no tempo, e está mais atrasada e do que diversas organizações que têm sido criadas na Ásia, todas dotadas de muita atualidade, e muita capacidade de atuação. Não é de se excluir a hipótese que, no quadro de uma grande negociação do sistema pan-americano, chegue-se à conclusão de que a OEA já faz parte da história e nada mais.”