As opiniões dos sírios comuns divergem em relação à dita trégua. Por exemplo, em Damasco, que vive em segurança relativa, muitos habitantes opinam que o cessar-fogo só dará tempo aos grupos armados extremistas que também fazem parte da oposição moderada para respirar um pouco e ganhar novas forças após derrotas que sofriam nos combates com o exército governamental. Outra parte dos habitantes da capital síria esperam que a trégua se torna em uma chance para a volta do país aos tempos de paz.
Somente em prol dos sírios
O oposicionista Sinan Diyab que não faz parte de qualquer organização paramilitar saúda a trégua porque ela reduz bruscamente os riscos para a população civil ficar sob fogo durante confrontos e catalisa o processo de regularização pacífica no país.
“Mas há uma condição: esta trégua não abrange os terroristas de maneira nenhuma. O fato que o Daesh e a Frente al-Nusra são excluídas deste acordo é bom, mas há outras organizações terroristas também. Por isso a regularização pacífica não deve contradizer a política de luta contra terrorismo no país porque a trégua é feita em prol dos sírios e em prol da regularização política entre os sírios”, sublinhou.
Passo importante
“Embora seja uma chance para resolver a crise no país através do Conselho de Segurança da ONU, mas a situação no campo de batalha é capaz de minar a regularização pacífica em qualquer segundo”, disse.
Porém, muitos sírios veem na trégua uma esperança para o povo esmagado pela guerra.
“Isto não é só para o bem ou oposição, mas sim também é para o bem de todo o povo sírio”, disse doutora das ciência políticas da Universidade de Damasco Butheyna Musa.
A trégua é irrealizável
Entretanto, nem todos têm boas expectativas da trégua. Assim, Akram Azuz, que trabalha como jurista em Damasco, disse à Sputnik que a trégua não é realizável porque o cessar-fogo somente pode ocorrer entre países ou exércitos.
“Vivemos na Síria – que é um Estado soberano. Mas o que acontece aqui não é uma guerra, mas sim terrorismo internacional organizado <…> e temos pleno direito de defender a nossa soberania, mas a trégua só dá solo fértil a grupos terroristas para realizarem guerra na Síria”.
Azuz opina que o cessar-fogo por parte das tropas governamentais não dá garantias de trégua por parte do lado oposto da frente.
Nada dará certo?
O jornalista sírio Basil Muhammad divulga uma previsão bastante escura sobre o acordo de cessar-fogo.
“Nada dará certo porque os terroristas não obedecem a nenhuns acordos. São dirigidos por forças políticas externas. O nosso governo decidiu suspender fogo, mas o problema é que os terroristas não estão de acordo para cessar o fogo”.
Esta é mais uma tentativa de pôr fim à guerra civil no país, iniciada em março de 2011 e que resultou em mais de 4 de milhões de pessoas refugiadas e desalojadas, além de um número de mortos que, para organismos como a ONU, atinge 250 mil. No quadro deste conflito sangrento o governo do país luta contra facções de oposição e contra grupos islamistas radicais como o Daesh (também conhecido como “Estado Islâmico”) e a Frente al-Nusra.
Um processo pacífico está também em curso entre os grupos de oposição e representantes do governo. Amanhã (26 de fevereiro), o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, irá anunciar a data da renovação da série de negociações Genebra 3. Desta vez, as negociações terão lugar em outra cidade da Suíça, Montreux.