Mídia portuguesa muda de tom em relação à Rússia

© Sputnik / Yekaterina Chesnokova / Acessar o banco de imagensMosteiro da Trindade-São Sérgio, região de Moscou, Rússia, janeiro de 2016
Mosteiro da Trindade-São Sérgio, região de Moscou, Rússia, janeiro de 2016 - Sputnik Brasil
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A mídia portuguesa tem vindo a mudar o tom das suas matérias em relação à Rússia desde que a campanha aérea russa na Síria atingiu resultados positivos visíveis. Antes disso, a maioria dos analistas usava um tom crítico sempre que se referia à política externa russa dos últimos anos.

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Pode-se dizer que no último mês a imagem da Rússia se tornou muito melhor, pelo menos na mídia local. É claro que continua a haver publicações e matérias apontando pontos negativos e objetivos obscuros à política russa. Mas o tom geral mudou.

Veja-se, por exemplo, o jornal Público, que em meados do mês passado publica um artigo intitulado "Síria, a guerra que a Rússia desbloqueou".

Escreve o autor da matéria:

"No momento de defender a estratégia de relativa inação em relação ao conflito sírio, a justificação mais utilizada por diplomatas e chefes de Estado no mundo ocidental era dizer que ‘não existe uma solução militar para a guerra' <…> O núcleo da estratégia ocidental não se alterou quando a Rússia começou a sua campanha aérea a pedido do regime sírio. <…> Afinal, a solução armada existe. 'Só não é a nossa', admitiu esta semana um alto responsável norte-americano. O Ocidente parece aceitar agora que a intervenção militar da Rússia alterou fundamentalmente o rumo da guerra na Síria a favor de Assad e seus aliados".

Outro jornal prestigiado, o Diário de Notícias, ao noticiar um encontro internacional em Marrocos neste domingo (20), refere a opinião do ex-chanceler português Paulo Portas, nesse evento, sobre a política russa.

"Paulo Portas foi muito crítico em relação à Europa, pela forma como avaliou, mal, o papel da Rússia em relação à guerra da Síria e ao consequente crescimento dos terroristas do Daesh.
'O Ocidente, em geral, e a Europa agiram sem qualquer realismo na questão da Síria', constatou o político, 'há dois anos que o mundo sabe que o presidente Obama não porá 'boots on the ground'. <…> O ocidente devia ter percebido muito mais cedo que a única esperança para o fim daquela tragédia era, precisamente, esse compromisso com a Rússia'. Portas lembrou que Portugal foi um dos poucos países europeus a opor-se ao fim do embargo de armas à oposição Síria. 'Não há os bons de um lado e os maus do outro. Não há inocentes no conflito na Síria. <…> Enquanto a Europa enquistava a sua relação com a Rússia no tema da Ucrânia — com a Rússia como player obrigatório — a Síria transformava-se num inferno para os seus habitantes e exportava uma crise sem precedentes para a Europa', disse o ex-ministro".

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A também prestigiada revista Sábado publica no passado dia 17 um artigo sob a manchete "Putin diz que a Rússia pode regressar em algumas horas à Síria".

A revista reproduz, em um tom neutral e até lisonjeiro, grandes partes do discurso de Putin em Moscou no dia em que condecorou os pilotos regressados da Síria. O artigo termina com a frase "Para vários observadores pró-Kremlin, a campanha de cinco meses e meio na Síria ajudou a pôr fim ao isolamento internacional de Putin, na sequência da guerra no leste da Ucrânia, e garantiu os interesses de Moscovo [Moscou] no Oriente Médio".

Também há poucos dias, no canal de TV SIC Notícias, Miguel Monjardino, professor de segurança internacional no Instituto de Estudos Políticos e de Geopolítica e Geoestratégia da Universidade Católica Portuguesa, analisou a ação militar russa na Síria.

"O principal objetivo russo foi reposicionar Moscovo [Moscou] na política internacional, ou seja, permitir retomar o diálogo com os Estados Unidos para aquilo que realmente interessa a Moscovo [Moscou], que é o estatuto geopolítico da Ucrânia, as regras do sistema internacional. Do ponto de vista de Moscou, o pós-Guerra Fria que começou em 1991 acabou e, portanto, Moscou sente necessidade de renegociar as regras do sistema internacional. Neste contexto, é muito interessante ver Jonh Kerry a ir a Moscovo [Moscou]".

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José Milhazes, comentador para o Leste europeu, com uma opinião bastante mais crítica, disse no passado sábado à rádio Antena 1:

"Os russos pretendem ter o papel que tinham perdido no Oriente Médio depois do fim da União Soviética e querem voltar à cena internacional como um dos jogadores importantes. É isso que Putin está a tentar fazer não só na Síria mas também, antes, na questão da Geórgia e da Ucrânia. <…> Resta saber se a Rússia terá poderio para manter este tipo de política externa…".

No mesmo programa da Antena 1, o comentador Bernardo Pires de Lima sublinhou:

"A Rússia tem um poder de veto informal na NATO [OTAN], quer na Ucrânia, quer no que pode ser um auxílio à Turquia e levar a NATO para o Oriente Médio, aquilo que nenhuma capital europeia quer. <…> Eu acho que o caminho que está a ser trilhado por Putin tem sido um caminho de sucesso, no sentido que ele vai contornando o seu isolamento pós-sanções, vai regressando ao Oriente Médio como uma potência decisiva e mais ou menos em paridade com os Estados Unidos".

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