A decisão da ONU, que está sendo festejada pelo Governo argentino, reconhece os direitos da Argentina sobre a exploração dos recursos naturais de sua plataforma continental, de acordo com a Convenção do Mar de 2009. Com o aval, a Argentina aumenta em 35% sua fronteira marítima até o limite que se aproxima das Ilhas Malvinas, chamadas de Falklands pelos ingleses, e que foram palco de uma guerra entre os dois países de 2 de abril a 14 de junho de 1982.
“Essa é uma comissão da ONU de especialistas que trata das fronteiras marítimas. É importante não só do ponto de vista econômico, como também reconhece que as Ilhas Malvinas são uma área de disputa, algo que a ONU não tinha feito até então. Para a Argentina é algo simbólico, porque agora ela consegue fazer novos pleitos em outros órgãos dentro da ONU e começar uma negociação com a Grã-Bretanha.”
Para a especialista em políticas latino-americanas, do ponto de vista da Grã-Bretanha o aval da ONU fragiliza os argumentos de que as Ilhas Malvinas ou Falklands fazem parte da soberania britânica.
“O Primeiro-Ministro David Cameron questionou a decisão da ONU, afirmando que ela é vinculativa, não significa que ela esteja dando aval à Argentina, e afirmou que a questão da soberania depende de uma consulta popular, que foi feita em 2011 com um resultado expressivo em que mais de 90% da população das ilhas preferem ficar sob a soberania britânica.”
Segundo a professora da ESPM, outro elemento bastante importante para a Argentina é que o aval da ONU permite que o país possa explorar o mar nessa região, com direitos ao subsolo, uma área de exploração de petróleo.
“É algo que provavelmente vai ser negociado com empresas que já atuam nessa região.”
O conflito em torno das Malvinas começou quando tropas argentinas tomaram Port Stanley, a capital do arquipélago, em 2 de abril de 1982. A resposta da Grã-Bretanha foi imediata, deslocando para o Atlântico Sul uma força-tarefa com 28 mil homens, quase quatro vezes maior do que o contingente argentino.
No dia 25 de abril, tropas britânicas desembarcaram na Ilha Geórgia do Sul e prepararam a contraofensiva com o apoio logístico também da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Houve perdas pesadas de ambas as partes. Do lado argentino, o torpedeamento do cruzador “General Belgrano” causou a morte de 386 tripulantes. Os britânicos perderam o destróier “Shefield” e outros navios, além de alguns caças abatidos pela artilharia antiaérea. O avanço britânico cresceu em 21 de maio, com o desembarque de mais tropas no lado oriental das Malvinas, e prosseguiu até a rendição das tropas argentinas em 14 de junho.
O saldo final dos combates para a Argentina foi de quase 1 mil mortos, um número não revelado de feridos, 102 aviões derrubados e oito embarcações afundadas. Os britânicos contabilizaram 255 mortos, 777 feridos, 34 aeronaves abatidas e 6 embarcações destruídas. O custo da campanha foi avaliado em US$ 5 bilhões. Politicamente, a Primeira-Ministra Margareth Thatcher consolidou seu poder de influência na Europa, e do lado argentino a derrota contribuiu para acelerar a queda da ditadura militar.