Para Júlio Turra, que confirmou para a Sputnik Brasil os termos de sua entrevista à emissora venezuelana, a presença dos EUA por trás das articulações que levaram à votação do pedido de impeachment no domingo, 17, começou a se tornar visível a partir das denúncias do ex-técnico de informações da NSA, Edward Snowden, de que a Agência de Segurança Nacional vinha espionando a Presidenta Dilma Rousseff, seus ministros e pessoas próximas a ela, além de grandes empresas brasileiras como a Petrobras.
O diretor-executivo da CUT também confirmou que na sexta-feira, no sábado e no domingo (os três dias da sessão da Câmara sobre o impeachment) a entidade participará de várias manifestações em todo o país, garantindo apoio e solidariedade a Dilma.
Júlio Turra reitera que a participação dos EUA na tentativa de impedimento de Dilma Rousseff “é um apoio discreto, um apoio por trás das coxias, mas que se evidencia numa série de atitudes do Governo norte-americano”.
“Recentemente, Barack Obama visitou Buenos Aires e fez questão de dar uma declaração sobre o Brasil, dizendo que tinha confiança nas instituições para resolver a crise, ao mesmo tempo em que elogiava o Macri como modelo para toda a América do Sul – Mauricio Macri, então recém-eleito presidente da Argentina contra o candidato [Daniel Scioli] de Cristina Kirchner. Considerando que o golpe no Brasil é um golpe, entre aspas, institucional – não se trata de um golpe militar, mas de um golpe institucional, cujo instrumento principal é o Judiciário, através da Operação Lava-Jato, que é dirigida por um juiz que estudou e foi treinado nos EUA, o Juiz Sérgio Moro, com a cumplicidade do Supremo Tribunal Federal, que o deixa fazer o que bem entende” – explica Júlio Turra.
Segundo ele, desde 2013 as revelações de Edward Snowden mostraram que a Agência Nacional de Segurança dos EUA, a NSA, monitorava a Presidenta Dilma Rousseff e a Petrobras, o que, na época, gerou um incidente diplomático. A presidente suspendeu uma viagem que tinha agendada para Washington no final de 2013.
"A Operação Lava-Jato vem desde 2012. Em 2013 a Agência Nacional de Segurança dos EUA estava monitorando a presidente e a Petrobras, e a Operação Lava-Jato é toda em cima de corrupção envolvendo a Petrobras, que é a maior empresa do Brasil, com controle estatal. Obviamente que quebrar a Petrobras interessa às multinacionais americanas do petróleo, que têm fiéis seguidores no Brasil, como o Senador José Serra, do PSDB, que é autor do projeto do fim do regime de partilha na área do pré-sal. Ao mesmo tempo, ele é um dos paladinos do impeachment, e já tinha declarado em 2009 a um representante da multinacional Chevron que se ganhasse a eleição de 2010 reverteria a regra da partilha do pré-sal. Felizmente ele não ganhou, ganhou a Dilma" – afirma Turra.
Ele conta ainda, que na própria Operação Lava-Jato, o envolvimento dos procuradores do Ministério Público Federal do Brasil com autoridades dos EUA mostra que há uma articulação entre eles. Nas suas palavras, o jornal ‘Valor Econômico’ de 4 de abril anunciou que o Departamento de Justiça dos EUA investiga a utilização do sistema financeiro lá dos EUA para o pagamento das chamadas propinas no Brasil, e essa investigação está em ligação direta com a força-tarefa do Ministério Público que atua no Paraná, que é o mesmo local onde o Juiz Moro é juiz de Primeira Instância.
O diretor-executivo da Central Única dos Trabalhadores conclui sua entrevista à Sputnik Brasil dizendo que “estas são as evidências de que há uma pressão combinada de instituições dos EUA com essa Operação Lava-Jato no Brasil”.