Cristina Kirchner volta à cena política e pede mobilização

© AP Photo / Daniel LunaEx-presidente da Argentina Cristina Kirchner
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A ex-Presidente Cristina Kirchner aproveitou uma audiência na Justiça para voltar em grande estilo à cena política. Após ficar calada frente ao Juiz Claudio Bonadio, que acolheu acusações contra ela sobre manipulação em operações de dólar futuro em 2015, Cristina foi ovacionada por milhares de pessoas na saída do tribunal.

“Podem me prender, mas não vão me calar! Se pudessem, eles eliminariam a letra ‘K’ do alfabeto”, disse Cristina sob aplausos de correligionários e pessoas que passavam pela Avenida Comodoro Py, sede do tribunal.

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Após conclamar os argentinos a criarem uma Frente Cidadã – em resposta à política neoliberal do novo governo, Cristina criticou duramente os quatro meses da administração do Presidente Mauricio Macri, a quem acusou de promover aumento do desemprego e da inflação, com um tarifaço nos serviços públicos, desvalorização do peso, concordância em aumentar o endividamento externo para pagar aos fundos abutres, promover perseguição política em instituições públicas e meios de comunicação, além de criminalizar os protestos sociais, com prisões ilegais, como a da líder do movimento Tupac Amaru, Milagro Sala, detida na Província de Jujuy sem acusação formal.

Alguns analistas acreditam que as ações executadas pelo novo governo têm propiciado as condições necessárias para o ressurgimento de opositores de peso como Cristina Kirchner.

O professor de Economia Política e Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Eduardo Crespo diz que essa reentrada está sendo promovida pelo próprio governo, com provocações como a de escalar juízes para julgar acusações que carecem de fundamento.

“O governo [Macri] começa a mostrar sinais de fraqueza importantes por vários motivos: a situação econômica piorou muito nos últimos meses, com disparada da inflação, corte de gastos públicos, demissões e até uma certa perseguição ideológica no aparelho do Estado" – diz Crespo.

Na visão de Crespo, não fazem nenhum sentido as acusações contra a ex-presidente, o então ministro da Fazenda e o chefe do Banco Central, por um swap cambial.

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O swap cambial é uma espécie de contrato em que se troca o valor principal e os juros em uma moeda pelo principal mais os juros em outra moeda.

“Não está clara a estratégia do Governo Macri com essas provocações no momento em que estão promovendo ajustes econômicos e acusações de corrupção que vêm de fora [os Panama Papers]” – avalia Crespo.

No campo da negociação política, o professor da UFRJ lembra que, embora o Governo não tenha maioria no Congresso, ele pode negociar com diversos setores, como a parcela do peronismo que não é próxima do kirchnerismo e com grupos espalhados de radicais.

No campo econômico, contudo, o cenário é mais complexo.

“O Governo fez tudo junto, um choque de desvalorização cambial, aumento de tarifas, e eliminou retenções. Uma coisa é um ajuste gradual, outra coisa é tudo junto. A previsão para a taxa de inflação é de que vai dobrar este ano. Para este mês de abril já estão falando em 6%, que já é a inflação de todo o primeiro quadrimestre do ano passado. Ao contrário do que estavam pensando, as demissões no setor público estão gerando demissões também no setor privado, o desemprego está aumentando e provavelmente será um ano de forte recessão” – avalia.

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Crespo aponta como agravantes, no quadro político, a prisão de líderes comunitários, opositores políticos, perseguição a jornalistas, gente que trabalhava em rádio, televisão.

“É um clima muito feio, e as pesquisas de opinião já estão dando uma queda de popularidade do governo. Outra característica típica da Argentina é a questão da vingança, da revanche. De repente, a pessoa que esteve 12 anos fora do governo, na oposição, em poucos meses quer vingar todo o sofrimento que passou, e isso também gera muito ressentimento do outro lado. Isso já aconteceu na Argentina muitas vezes, como na queda de Perón em 1955, com os militares em 1976, e isso é muito triste e complicado porque nunca dá certo” – concluiu.

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