Na manhã desse dia, Draghi reuniu-se, a sós, com o chefe de Estado, depois almoçou com ele e com o primeiro-ministro, com o ministro das Finanças e com o governador do Banco de Portugal.
O motivo oficial da participação de um estrangeiro no Conselho de Estado, órgão de aconselhamento do presidente da República, era “fazer uma exposição sobre a situação económica e financeira europeia".
No encontro, Draghi deixou várias “recomendações” ao atual governo, entre elas que “não se justifica anular reformas anteriores”, ou seja as reformas de orientação neoliberal levadas a cabo pelo anterior governo.
O presidente da República sublinhou a importância da presença do presidente do Banco Central Europeu no Conselho. E explicou: "Nas relações internacionais há um aspeto de particular importância, que é a relação pessoal, a cumplicidade quando as pessoas se conhecem e conhecem os problemas e a realidade de cada país".
"Mais importante do que ele disse, foi aquilo que ele ouviu, com chamadas de atenção certamente sobre a especificidade da situação portuguesa", não sendo "a mesma coisa" conhecer à distância, em Frankfurt.
Para Marcelo Rebelo de Sousa "foi uma ocasião única e muito enriquecedora e é assim que se deve ler globalmente a mensagem" deixada por Draghi.
O chefe de Estado, questionado sobre as críticas de ingerência dos assuntos internos que foram feitas pelos partidos de esquerda, afirmou que "as instituições europeias fazem parte da nossa vida porque isso é resultado da partilha de soberania".
Na concentração do Bloco de Esquerda contra a vinda do presidente do Banco Central Europeu, realizada no mesmo dia em Lisboa, que noticiámos na altura, a Sputnik colocou algumas perguntas ao deputado do BE no Parlamento, Jorge Costa, que falou no evento.
Recorde-se que o Bloco de Esquerda é um dos partidos que integra o acordo parlamentar de apoio ao governo.
Sputnik: O Bloco de Esquerda dá apoio ao governo. O primeiro-ministro disse que iria respeitar as instituições europeias. Mas agora vocês estão a protestar contra uma pessoa das instituições europeias. Não acha que isso é uma contradição?
Jorge Costa: Não, o Bloco de Esquerda tem uma orientação clara sobre o que é a inserção portuguesa na Europa e sobre o papel que as instituições europeias realmente existentes têm tido sobre a política portuguesa.
S: Em relação aos Panama Papers, curiosamente a mídia falou logo dos offshores referindo-se ao presidente Putin, falou também relativamente a outros países considerados inimigos dos Estados Unidos, mas não foi referido nenhum responsável norte-americano implicado nos offshores. O que acha sobre isso?