“Quase caímos de tange surpresa. Estamos muito tocados. Não esperávamos de jeito algum que a nossa ação, feita de coração, teria tais consequências”. Após entregar as medalhas da família para a viúva de um soldados russo, morto na Síria, eles não param de receber agradecimentos. Assim, o próprio presidente da Rússia, Vladimir Putin, convidou o casal a visitar Moscou e a assistir, na qualidade de visitas de honra, a parada militar de 9 de maio.
Uma história sobre como é receber um convite pessoal de Vladimir Putin
Tudo começou no fim de março deste ano, quando a mídia russa noticiou a morte de um jovem oficial na Síria. As circunstâncias dos seus atos de bravura não foram apresentadas pela cobertura da imprensa francesa, mas o casal Magué contribuiu para que o caso ficasse conhecido na França. Aleksandr Prokhorenko, cujo objetivo em território de Palmira era apontar os alvos para os ataques aéreos, acabou em uma emboscada do Daesh. O soldado então solicitou um ataque aéreo sobre sua posição. O jovem de 25 anos morreu sob bombardeio junto com os terroristas. Essa informação foi divulgada pelo Facebook e é assim que o casal Magué ficou sabendo da morte heróica do oficial.
O casal Magué logo pensou na família de Aleksandr, nos seus pais e na sua esposa grávida, que, em sua opinião, estariam em “total desespero”. Por isso, decidiu enviar aos familiares de Alexander os seus bens de família mais valiosos: uma Cruz de Guerra 1939-1945 e uma Ordem Nacional da Legião de Honra. Eles não suspeitavam que, ao informar a embaixada da Rússia na França sobre as suas intenções, partiriam em uma longa jornada.
De Charles de Gaulle a Putin: impressionante coleção da família Magué
As medalhas acima não são as únicas recebidas pela família Magué, mas possuem um valor especial. A Ordem Nacional da Legião de Honra foi recebida pelo tio de Micheline Magué. “Ele era meu padrinho. Eu amava muito ele”.
Especialista em radioeletrônica e membro do movimento "Alliance" da resistência, o tio de Micheline foi preso pela Gestapo e enviado para Buchenwald aos 17 anos. Ao contrário do seu comandante, que conseguiu se salvar, ele não quis pular do vagão no caminho para o campo de concentração, pois temia represálias à sua família.
A Cruz de Guerra pertencia ao pai de Micheline, piloto de bombardeiro, que atendeu ao lendário chamado do general Charles de Gaulle de 18 de junho de 1940 e que também recebeu a Ordem Síria.
Não é de se admirar, portanto, que o filho de Micheline tenha seguido a tradição familiar. Ele se tornou capitão das tropas de engenharia. “Eu sempre ninei meu filho com marchas militares”, confessou Micheline. Além disso, ela comentou da presença da Rússia na sua vida. O filho de Micheline, quando trabalhava no Saara Ocidental, ganhou um quepe de um oficial russo.
“Nós somente nos colocamos no lugar daquelas pessoas que perderam o seu filho de 25 anos, que sentiram a mesma dor que nos sentimos, quando perdemos o nosso filho. Era somente isso. Não queríamos outra coisa. Nem política, nem nada.”
A parada militar de 9 de maio, para qual o casal foi convidado, é realizada por ocasião do Dia da Vitória, uma festa relativamente pouco divulgada nos livros escolares de história fora da Rússia. Festa que comemora a tomada de Berlim pelo exército soviético, que culminou na capitulação da Alemanha nazista. O evento é muito festejado na Rússia todos os anos, a partir de 1965. Nessa data, a Praça Vermelha é tomada pelo desfile dos destacamentos do exército, de equipamento militar e é sobrevoada pela força aérea do país. Por isso, o convite para ao casal de Florensac, que vive há 20 anos na pequena comuna do departamento de Hérault no sul da França, não foi a toa. Todas as histórias se entrelaçam. No entanto, diz o casal, “um dia é preciso que as guerras terminem”.