Sputnik: Quais os momentos que o impressionaram mais?
Miguel Fernández: A queda de Palmira em 2015. Palmira é um dos dez monumentos da UNESCO na Síria, um oásis no deserto, com uma história mística. A destruição do Arco de Trinfo e dos principais monumentos. Uma cena horrível que nunca posso esquecer, quando crianças dirigidas pelo Daesh mataram 50 soldados sírios ajoelhados. Provavelmente, para mim este momento é o mais trágico. Por que eu sentia que a guerra não era contra só a Síria, mas contra todo o mundo, contra a nossa cultura, contra os nossos valores, nosso patrimônio, e quando digo “nosso”, quero dizer “da humanidade”…
S: De que maneira você foi recebido pelos sírios?
MF: Um dia eu fui com um grupo de jornalistas, acompanhados por militares, às montanhas que se situam em um lugar estratégico no sul do país, não longe das colinas de Golã. Ao chegar, fomos apresentados às forças que lá estavam. Espalhámo-nos, eu fui com o meu tradutor às trincheiras.
S: O que os sírios pensam sobre os russos, e qual é a influência da Rússia na guerra?
MF: Tenho os cabelos e os olhos claros. Por isso muitas vezes foi confundido com um russo, eles me saudavam amigavelmente. Os sírios confiam na Rússia, por que durante muito tempo estavam em conflito com os EUA e alguns países europeus, e a Rússia era o único país amigo…Uma parte significante das forças armadas sírias foi educada na Rússia.
Os aviões russos destruíram todos os acessos desta coalizão. Durante os primeiros 30 dias dos ataques, os russos conseguiram eliminar 30% da infraestrutura do Daesh. As forças aéreas dos EUA e dos seus aliados não alcançaram o mesmo resultado durante um ano.
Os bombardeamentos anteriores não eram coordenados e, muitas vezes, atingiam a infraestrutura síria, hospitais, escolas. Pelo contrário, os ataques dos russos, para além de estes terem entrado na guerra a pedido de Damasco, foram coordenados antecipadamente para maior eficácia e para não causarem prejuízo aos civis…