Lajes conta, desde os anos 70, com forte presença de militares norte-americanos e a criação do centro seria uma forma de reduzir o impacto da retirada de boa parte desses efetivos anunciada no ano passado. No entanto, o anúncio feito em ano de eleições legislativas nas ilhas gera desconfiança nos partidos de oposição que veem o fato como uma tentativa de compensação após os impactos negativos da diminuição das tropas norte-americanas.
De acordo com o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Manuel Heitor, as ilhas oferecem oportunidades únicas para sediar uma base de lançamento de satélites que vai auxiliar na investigação de questões relacionadas às mudanças climáticas. A localização privilegiada das ilhas portuguesas é o principal atrativo para os pesquisadores internacionais. As negociações para criação do centro de investigação estão em estágio avançado, de acordo com fontes da Sputnik, e a instalação da infraestrutura pode começar já no ano que vem.
Uma das grandes pendências está relacionada às eleições presidenciais norte-americanas deste ano. O futuro centro já tem até nome: se chamará Azores International Research Center (AIR Center), mas sua criação ainda depende de negociações com o governo dos Estados Unidos. O avanço do projeto está diretamente relacionado com a disputa eleitoral. Pesquisadores envolvidos citam que uma vitória da democrata Hillary Clinton seria o melhor cenário para a evolução da ideia, enquanto que uma eventual consagração de Donald Trump semeia dúvidas quanto ao futuro das negociações.
Segundo adiantaram fontes do Governo português, fazem parte das negociações para criação do AIR Center, além do Ministério da Ciência e do governo regional dos Açores, a agência especial norte-americana (NASA), a agência de meteorologia e oceanos dos EUA (NOAA), universidades portuguesas e americanas e empresas.
Presença norte-americana
A Base Aérea de Lajes possui uma área de cerca de 10 quilômetros quadrados, sendo que boa parte das estruturas existentes estão hoje desativadas. Criada no contexto da Segunda Guerra Mundial e objeto de desejo norte-americano durante a Guerra Fria, a base é administrada pela Força Aérea Portuguesa e conta com a presença de militares dos Estados Unidos desde o final da década de 70 devido à sua localização. Lajes é um ponto estratégico de fácil acesso à Europa, à África e ao Oriente Médio.
USAF 436/512 AW Lockheed C-5M Galaxy 69-0024 at Lajes (2015) by Andre Inaciohttps://t.co/ZXQGY1qcre #avgeek pic.twitter.com/5eohiasbtL
— Aviation Photo Co (@AviationPhotoCo) 6 июля 2016 г.
Em 2015, o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada de 500 efetivos da base, o que gerou um grande desconforto nas autoridades locais. Os militares norte-americanos que lá estavam (ainda restam pouco mais de uma centena) movimentam a economia da ilha e a retirada foi vista à época pelo Governo Regional dos Açores como negativa.
Jogo eleitoral
Como a retirada de boa parte dos militares norte-americanos da ilha teve uma repercussão muito negativa em 2015, o anúncio dos estudos para a criação deste centro de pesquisa é visto com desconfiança pelos partidos de oposição. O atual Governo Regional dos Açores é comandando pelo Partido Socialista (PS) do primeiro-ministro António Costa, mas em outubro deste ano os açorianos vão às urnas para as eleições gerais legislativas. Por isso, opositores à direita e à esquerda do PS veem o anúncio do AIR Center como uma barganha eleitoral.
"Encaramos este anúncio, como mais um palpite, sem qualquer consequência, a não ser mera propaganda eleitoral", disse à Sputnik a deputada regional Zuraida Soares, do Bloco de Esquerda. Ela não esconde sua desconfiança no Governo Regional, o qual vê incapaz de ter "opinião assertiva sobre o futuro desta infraestrutura". "Temos assistido, a cada semana que passa, aos mais diversos palpites sobre a futura instalação desta infraestrutura", argumenta.
"Como é sabido, o Bloco de Esquerda tem defendido a saída das tropas americanas da base e a consequente reconversão desta infraestrutura para fins civis e comerciais. Estamos disponíveis para analisar qualquer iniciativa, nesta área, que se mostre sólida, pensada e credível. Não estamos disponíveis para meros anúncios eleitorais", critica a deputada esquerdista.
De acordo com o deputado do PSD, o seu partido concorda com a importância "geoestratégica" da Base das Lajes e, por isso, defende a busca de uma utilização alternativa ou complementar que garanta e potencie o desenvolvimento económico da ilha Terceira e dos Açores. "É de notar que, com a redução do efetivo militar norte-americano nas Lajes, foram evidenciadas as fragilidades da economia desta ilha que passados 20 anos de governação socialista se mantém e manteve à sombra da boa-vontade, da iniciativa e do investimento de terceiros sem que medidas pró-ativas tenham sido implementadas pela Administração Regional", critica.