Teoricamente, as sanções decididas pelos “guardiães do dinheiro europeu” poderão levar à perda, já a partir de 2017, dos fundos que o país recebe da União Europeia. Na prática, o mero anúncio da possibilidade de sanções já levou, só em dois dias, à subida dos juros que o país paga nos mercados financeiros internacionais. Embora formalmente elas se refiram ao incumprimento do défice máximo de 3% nos anos 2013-2015, ou seja, durante o governo anterior, as pessoas veem-nas como uma forma de pressão no atual governo socialista. Dirigentes e funcionários das instituições europeias não têm escondido o seu desagrado pela política da coligação entre socialistas e comunistas, nomeadamente o aumento dos apoios sociais, dos ordenados e em geral dos rendimentos reais da população.
Como os portugueses encaram a aplicação destas sanções por parte da União Europeia?
A Sputnik foi perguntar a cidadãos comuns o que pensam sobre este tema.
Há quase unanimidade em considerar que as sanções irão prejudicar o país e que, em vez de melhorar, só agravarão a situação. Os entrevistados revelaram também um certo sentido de impotência, de consciência da “pequenez” do país face aos maiores e mais poderosos países europeus.
António Ramos, aposentado
“Acho que é uma lei de ‘funil’ porque as sanções são aplicadas aos (países) pequeninos, os pequeninos é que têm que pagar, eles (a UE) estão de posse do bolo, com a faca e o queijo na mão. Eles quando nos veem à beira do precipício, empurram-nos”.
Fátima, empregada de escritório
“As sanções, se forem aplicadas não são corretas. Como é que o país se endireita? É só isso que eu tenho a dizer aos nossos governantes. Por um lado, pagamos, por outro ainda somos cortados no que se refere aos fundos e tudo o mais, não conseguimos ir para a frente nunca”.
Sérgio Carqueja, técnico de informática
“Não estou de acordo com as sanções porque se já estamos mal, mais mal ficamos. Se calhar o governo, tanto o que lá está como o que lá esteve, não fizeram o suficiente para que isso não nos acontecesse. Andarem (os governos) a pôr as culpas um no outro não serve de nada. Têm é que se juntar e resolver a situação em que o país está, para ajudar”.
Rui Madeira, comerciante
“Sou contra quaisquer sanções, aliás acho que nós devíamos protestar com uma proposta de referendo também. Não quer dizer que eu seja de acordo com a saída, mas acho que nós também temos que de alguma forma responder aos ‘grandes’ da Europa.
Pelo menos devia haver uma posição da nossa parte, povo, para a Europa perceber que não pode fazer o que quer e lhe apetece connosco. Já fez quando foi a nossa entrada (na UE), que nos rebaixámos a tudo o que eles quiseram e agora voltamos a nos rebaixar? Não pode ser”.
“As sanções vão-nos empobrecer ainda mais, vai fazer aumentar a carga de impostos. Não concordo. Não sei se é um mal necessário. Estamos já dentro de um buraco financeiro e dificilmente vamos sair dele”.
Já entre as elites, a intelectualidade e o governo, a disposição parece ser outra, mais ativa e reivindicativa.
Paula Santos, jornalista, escreve no jornal Expresso de ontem, 13: "Entendo que o Governo não deve ceder a qualquer tipo de pressão ou chantagem <…> O Governo deve junto das instituições europeias defender os interesses do nosso povo e do nosso país".