"O governo anterior foi inexcedível na aplicação das medidas acordadas com a troika e com as instituições europeias como, aliás, foi reconhecido em todas as avaliações e em inúmeras declarações de dirigentes europeus. O problema é que essas medidas foram contraproducentes, tendo provocado uma recessão econômica fortíssima que sabotou o ajustamento. Na realidade, só na sequência de decisões do Tribunal Constitucional português anulando medidas de austeridade é que a economia reanimou, com efeitos positivos nas contas públicas", avalia Marisa Matias. Ela afirma que acha as sanções "absurdas e indignas" porque "penalizam o novo governo, e mais uma vez o povo português, pelos resultados das políticas do governo anterior que as instituições europeias apoiaram e elogiaram".
"O legado que o governo (Governo de António Costa, do PS) recebeu não era um legado do governo anterior (Governo de Passos Coelho, do PSD), era um legado do esforço que todos os portugueses fizeram durante quatro anos e meio e que levou a um ajustamento nas contas públicas, sob qualquer critério, que está entre os maiores dos nossos parceiros da União Europeia. Lamentamos que não tenha sido passada essa mensagem", afirmou Maria Luis Albuquerque.
A vice-presidente do partido que comandou o governo anterior – cujas medidas estão sendo questionadas agora pelo Conselho de Assuntos Econômicos e Financeiros da União Europeia (Ecofin) – avalia que não faltam argumentos técnicos para defender que Portugal. Maria Luis Albuquerque advoga pela gestão de Passos Coelho, afirmando que o governo atual não defendeu o legado que recebeu "por razões políticas internas".
Brexit português?
Para ela, o Brexit foi um "sinal claro do estado de desagregação política, econômica, social e humanitária a que chegou a União Europeia". Marisa Matias diz que o projeto da UE não é "justo e solidário" e que "a agenda de Bruxelas é garantir a sobrevivência dos mercados financeiros, nem que isso ponha em causa a sobrevivência dos cidadãos".
"É essa política da desigualdade estrutural em nome dos mercados que abre espaço para instrumentalizações, para populismos e para o crescimento da extrema direita. Enquanto a austeridade continuar a ser a regra de ouro da UE, enquanto a instituições europeias continuarem a insistir na imposição de regras estúpidas, como o Tratado Orçamental, é claro que haverá margem para o aparecimento e crescimento de movimentos pela saída da UE", conclui a eurodeputada do BE.
"Parece que a UE quer voltar a endurecer a austeridade sobre os salários e condições de trabalho, quer voltar a acelerar o empobrecimento, e BE e PCP, assim como Syriza, ou o Podemos não têm um plano fora da UE ou do Euro. É incompreensível", diz a nota do MAS. O partido diz que o governo do PS "continua a salvar a banca privada com capitais públicos" e a "a pagar a dívida pública e todos os cêntimos dos seus juros".
"É necessário que avancemos imediatamente para a constituição de uma plataforma política que debata e exija a execução de um referendo, em Portugal. É urgente um imediato referendo ao Euro e UE!", finaliza o manifesto, que já ecoa nos discursos dos militantes de esquerda que não apoiaram a formação do governo socialista.