Entrevista: Por causa de rivalidade com curdos, Turquia até quer se reconciliar com Assad

© AP Photo / Cagdas ErdoganMilitantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK)
Militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) - Sputnik Brasil
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O líder do Partido da União Democrática Curda comentou à Sputnik a próxima resolução síria e o problema curdo.

Na entrevista com a Sputnik Turquia, o líder do partido PYD (Partido da União Democrática Curda), Salih Muslim, comentou a situação na Síria e na Turquia, sublinhando que, devido à hostilidade contra os curdos, a Turquia pode até aceitar Bashar Assad.

Comentando a tentativa de golpe de Estado na Turquia, ele notou que isso já tinha sido previsto há muito, inclusive por Abdullah Ocalan, líder independentista curdo e fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

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Segundo o entrevistado, atualmente a Turquia tenta se aproximar dos países vizinhos para não permitir que os curdos adquiram seus direitos.  Muslim duvida que o país consiga se reconciliar com o presidente sírio Bashar Assad, mas, mesmo que isso venha a acontecer, tal não terá influência nos curdos.

"As previsões de Ocalan realizaram-se. As condições para um golpe sempre existiram, os acontecimentos da noite para 16 de julho foram resultado disso. A tentativa de golpe na Turquia foi resultado de uma política errada. Os golpistas são na sua maioria pessoas que lidavam com o problema curdo," notou. 

Muslim acha que os acontecimentos foram provocados inclusive pelas divergências relativamente aos curdos e, falando do possível desenvolvimento da situação, ele disse:

"A Turquia já perdeu o seu peso. Eles vão se render a todos, inclusive a Assad. Mas isso não dará resultado, porque já ninguém tem confiança na Turquia. Vamos ver o que acontecerá".

Falando sobre a crise síria em geral, o político destacou que o seu partido tenta manter a Síria unida e pretende fazer isso através da federalização. Mas o processo não é fácil, notou.

"Nesta questão, há fatores internos e externos que influenciam. A maioria são externos, tais como os EUA e a Rússia. Após os acontecimentos em Aleppo, as negociações em Genebra podem retornar à agenda. Diz-se que isso poderá acontecer em finais de agosto, mas eu não acho porque os combates continuam. Mas, se as forças exteriores chegarem a acordo, as internas também chegarão".

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Ele sublinhou também que, caso as forças curdas não sejam convidadas para participar das negociações em Genebra, isso poderia se tornar num problema, já que “a regularização síria é impossível sem os curdos”, na sua opinião.

A situação política difícil é claramente agravada pelo problema do terrorismo, em particular pela luta contra o terrorismo do Daesh (proibido na Rússia). De acordo com Muslim, os curdos lutam contra Daesh melhor que quaisquer outros.

"Mas, se agirmos em conjunto, vamos ter mais sucesso, porque no terreno somos nós que combatemos contra o Daesh. Na luta contra o Daesh todos devem se juntar a nós," disse.

Nesta conexão, é quase impossível não nos lembrarmos do papel da Rússia na situação na Síria, assim como dos EUA. 

"A Rússia está no centro da resolução do problema sírio. A Rússia tem o poder efetivo nesta questão, ela pode fazer algo para a regularização na Síria. <…> Se a Rússia pressionar nas negociações de Genebra por meio da sua autoridade, poderá fazer coisas mais positivas para a Síria [do que os EUA]. <…> As nossas relações com os EUA continuam também, há certa cooperação militar. Mas, fora deste quadro, as relações não funcionaram."

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