Interesse da China em reforçar presença nos Açores gera debate em Portugal

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Após recuo dos Estados Unidos, Base de Lajes pode ser utilizada pelos chineses em regime de parceria com Portugal.

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Um ano após os Estados Unidos anunciarem a redução de sua presença militar nos Açores os movimentos dão conta de que um novo parceiro internacional que poderá aumentar sua influência no arquipélago português: a China. A possibilidade de que os chineses possam explorar cientificamente a base aérea das Lajes, localizada na Ilha Terceira, foi admitida esta semana pelo primeiro-ministro António Costa em entrevista à agência Bloomberg em Macau. Essa hipótese, no entanto, gerou manifestações contrárias de autoridades locais dos Açores e do congressista norte-americano de descendência lusa Devin Nunes.

Costa disse que quer continuar o acordo que tem com os Estados Unidos, mas respeita a decisão do país de reduzir sua presença no local. Para o primeiro-ministro, "a base nos Açores é muito importante em termos militares, mas também em termos de logística e tecnologia e pesquisa nas águas profundas e de alterações climáticas".

"Claro que é uma boa oportunidade criar uma plataforma de pesquisa científica e estamos abertos a cooperação com todos os parceiros, incluindo a China. Mas o uso militar da base não está sendo discutido, o que está em cima da mesa é reutilizar a infraestrutura para fins de pesquisa. Seria uma enorme pena não usar a infraestrutura, e se não para fins militares, porque não para pesquisa científica", disse o líder português.

"Estamos deixando de investir bilhões de dólares em infraestruturas na base em Lajes, que provavelmente acabará na posse do governo chinês", afirmou o congressista norte-americano Devin Nunes. Ele enviou uma carta ao secretário de Defesa dos Estados Unidos Ashton Carter na semana passada à qual a Sputnik Brasil teve acesso.

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"Vários altos-representantes chineses visitaram os Açores em anos recentes. Sei que a China enviou uma delegação de cerca de 20 representantes, todos fluentes em português, numa viagem de pesquisa que durou semanas e que culmina com a visita do primeiro-ministro, Li Keqiang. A delegação chinesa é indicada como estando em negociações para expandir os seus investimentos e presença nas ilhas, incluindo o porto de mercadorias na Ilha Terceira, e que também expressaram interesse em utilizar a pista aérea da Base das Lajes. Querem estabelecer um ponto de apoio nos Açores, o que, se for bem-sucedido, será usado como um centro de informações e logística que pode ser expandido para usos militares, junto de estruturas críticas aos militares americanos", diz Devin Nunes.

"Enquanto o Congresso dos EUA alertou sobre os riscos do fechamento de postos na Base das Lajes, durante anos, a expansão dos compromissos chineses com Portugal destaca a urgência desta matéria. Permitir que a China estabeleça uma presença sustentada no Atlântico seria um erro estratégico, e peço que você responda esta ameaça iminente para a nossa segurança, tomando medidas imediatas para melhorar a postura estratégica EUA no Atlântico", conclui Nunes na mensagem.

Nos anos recentes, diversas autoridades chinesas estiveram nos Açores. O presidente Xi Jinping fez uma escala na Ilha Terceira em julho de 2014, quando voltava de uma viagem ao Chile, e aproveitou para se reunir com o então vice-primeiro-ministro Paulo Portas. Este ano o ministro do Mar chinês, Wang Hong, visitou Ponta Delgada e foi recebido pelo presidente do Governo Regional dos Açores.

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Na semana passada, dois conselheiros da Embaixada da China foram aos Açores para contatos com vista à eventual criação de um centro de investigação luso-chinês ligado às Ciências do Mar. Esse projeto, segundo fontes locais, passa pela criação de espaços dentro das universidades portuguesas que estejam interessadas na cooperação com a China através da Universidade de Xangai. "É um princípio de cooperação internacional que é sempre benéfico", disse Ricardo Serrão Santos, pró-reitor da Universidade dos Açores para os Assuntos do Mar.

Opiniões divergentes

Após as declarações de concordância do primeiro-ministro, várias manifestações favoráveis e contrárias à possível presença chinesa nos Açores foram feitas. A oposição ao governo do socialista nas ilhas defendeu a manutenção da parceria com os Estados Unidos e refutou a possibilidade de investimentos de outra Nação. Na opinião do membro do ALDE Party, Alexandre Krauss, António Costa foi irresponsável a brincar com temas sérios ao abrir a porta das Lages à China.

​"Que os Açores precisam de investimento externo, como de pão para a boca, é não só uma verdade como uma real necessidade. Temos nos Açores uma taxa de desemprego jovem da ordem dos 38%. Assim, qualquer investimento, ainda mais em áreas como a investigação, novas tecnologias, ambiente, etc, é sempre bem-vindo”, afirma António Soares Marinho, deputado do PSD (Partido Social Democrata) na Assembleia Legislativa dos Açores. Ele explicou à Sputnik Brasil que no texto divulgado pela presidência do Conselho de Ministros sobre as conversações do primeiro-ministro com as autoridades chinesas, "os Açores nunca são mencionados".

Marinho também recorda que o assunto veio à tona às vésperas da eleição local. "É sempre conveniente trazer para a opinião pública notícias que possam ser agradáveis, mesmo que não passem de intenções, ou nem sequer isto, mas simples declarações. Ou seja, podemos estar perante mais um ato de propaganda socialista", critica o deputado.

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"Sendo de interesse mútuo, julgo que nada obsta a que nesses planos, que não o plano militar, ela possa ser analisada, aprofundada, debatida", opinou o presidente do Governo dos Açores aos jornalistas locais. Vasco Cordeiro, que no próximo domingo concorre novamente à presidência do Governo Regional, disse que a questão militar "não está sequer em causa". "Mas há um conjunto de outras áreas onde se pode, havendo esse interesse, reforçar esta parceria", considerou.

Já o candidato da CDU (Coligação Democrática Unitária, que reúne o Partido Comunista e Os Verdes) à presidência do Governo Regional, Aníbal Pires, disse à Sputnik Brasil que a diversificação das parcerias econômicas pode e deve ser bem acolhida se tiver como pressupostos que “não coloque em causa a soberania nacional, nem a autonomia regional” e que “promova a criação de emprego estável, com direitos e justamente remunerado”. Pires diz que não se opõe ao uso da infraestrutura da Base de Lajes “para fins de investigação científica, ou seja, para fins civis”.

A agência oficial do governo chinês citou declarações do primeiro-ministro Li Keqiang dizendo que "Portugal é um bom amigo da China na União Europeia" e que as relações entre os dois países foram intensificadas nos anos recentes com esforços de ambos os lados.

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