Batalha por Raqqa: o que querem os EUA com sua operação 'urgente' na Síria?

© Sputnik / Maksim Blinov / Acessar o banco de imagensMilitares sírios treinando para usar explosivos
Militares sírios treinando para usar explosivos - Sputnik Brasil
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Em uma entrevista exclusiva à Sputnik Internacional, o acadêmico brasileiro Pepe Escobar fala sobre os motivos encobertos da futura batalha de Raqqa e frisa que não faz sentido iniciá-la neste momento inoportuno.

Os EUA anunciaram o início da operação para retomar Raqqa do Daesh na Síria antes da batalha de Mossul no Iraque terminar, o que levou muitos a perguntar que tipo de forças terrestres estarão disponíveis para iniciar esta nova ofensiva.

O escritor e analista político brasileiro Pepe Escobar concedeu uma entrevista à Sputnik Internacional, na qual falou sobre as perspectivas do ataque a Raqqa e do futuro da Síria em geral.

"É completamente absurdo pensar em tomar Raqqa, especialmente no momento em que já estamos envolvidos na batalha estonteante de Mossul", comentou Escobar.

Combatentes das Forças Democráticas da Síria junto com um blindado - Sputnik Brasil
EUA pretendem treinar mais sírios para combater Daesh em Raqqa
Tais ações do Pentágono surgem como consequência da futura remodelação da chefia militar norte-americana, tanto mais que o atual secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, pode renunciar daqui a três meses, afirmou o analista.

Escobar também lembrou que os chamados porta-vozes do Daesh já afirmaram que estão sendo planejados novos ataques fora do Oriente Médio. Com tudo isso, o momento para uma nova ofensiva parece ser inoportuno e a libertação de Raqqa pode levar meses.

Além disso, o Pentágono está evitando a questão sobre as forças que irão lutar ao lado dos americanos, frisou o acadêmico. Em uma entrevista à CBS, o secretário de Defesa norte-americano mencionou as YPG (Unidades de Proteção Popular) curdas e facções árabes específicas.

Uma miliciana da Unidade de Proteção do Povo (YPG) curda posa para uma foto com sua arma, na cidade síria de Ain Issi, cerca de 50 quilômetros norte de Raqqa, o chamado capital do Estado Islâmico. - Sputnik Brasil
Ancara: Uso de curdos na libertação de Raqqa ameaça futuro da Síria
Escobar, por sua vez, acredita que na Síria os EUA só podem contar com as YPG e o que resta do Exército Livre da Síria, pelo menos a parte que ainda não foi absorvida pela Al-Qaeda.

O perito também afirma que a Turquia, tendo o segundo maior exército da OTAN e sendo um antigo aliado dos EUA, tem seus próprios interesses na Síria. Ancara está fazendo um trabalho árduo para impedir que os curdos sírios desfrutem de qualquer tipo de autonomia. É que a administração do presidente turco Tayyip Erdogan teme que a autodeterminação seja um sinal para os curdos no sudeste da Turquia, a maior minoria do país, que podem exigir os mesmos direitos.

"Washington não quer prejudicar as relações fraturadas com Erdogan. Ao mesmo tempo, ele apoia os peshmerga no Iraque. Entretanto, eles não podem apoiar abertamente as YPG sem enfurecer a Turquia."

Ancara quer criar uma "zona tampão" ao longo da sua fronteira com a Síria para impedir que os curdos sírios de unir os três cantões curdos, criando um novo Curdistão sírio.

"Como é que eles [turcos] contribuirão para a batalha de Raqqa se eles vão lutar contra os curdos? É impossível”, destacou o analista e acrescentou:

“Vamos ter duas batalhas diferentes: uma batalha para retomar Raqqa e outra — entre as YPG e os turcos ao longo da fronteira."

Então quais são os objetivos reais dos EUA nessa batalha, segundo Pepe Escobar? Não será retomar Raqqa, como é evidente. É estabelecer um principado salafista no leste da Síria, afirmou o acadêmico, citando um relatório de inteligência que vazou 2012.

"A Síria já está desmembrada. O leste sírio está mergulhado na crise, com combatentes do Daesh espalhados por toda a parte. O que convém aos norte-americanos é manter Damasco restringido e intervir nos assuntos internos sírios para alimentar o caos controlado na região."

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